Sudão: Omar al-Bashir declara estado de emergência no país
AFP | Lusa | rl
23 de fevereiro de 2019
Anúncio foi feito esta sexta-feira (22.02) pelo Presidente e surge na sequência dos protestos no país. Oposição e manifestantes já rejeitaram estado de emergência e dizem que só param quando al-Bashir renunciar.
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Num discurso dirigido à nação no palácio presidencial, na capital Cartum, e que foi transmitido na televisão, o Presidente sudanês Omar al-Bashir declarou, esta sexta-feira (22.02), estado de emergência durante um ano em todo o país. "Anuncio a imposição do estado de emergência em todo o país durante um ano e a dissolução do Governo do Consenso Nacional e a dissolução dos governos dos estados", disse.
O Presidente, há 30 anos no poder, pediu ainda ao Parlamento para adiar a revisão das emendas constitucionais" que permitiriam que se candidatasse a outro mandato nas eleições do próximo ano. A revisão da introdução de alterações na Carta Magna já havia sido adiada uma vez pelo parlamento, no passado dia 16.
Oposição rejeita estado de emergência
Já este sábado (23.02), o principal partido da oposição afirmou, em comunicado, que a dissolução do governo e a imposição do estado de emergência no país "não é mais do que uma repetição dos fracassos deste regime". Segundo oPartido Nacional Umma, as centenas de pessoas que, desde dezembro têm saído às ruas em protesto, não se contentarão "com nada, a não ser a queda do regime".
O Partido Nacional Umma, assim como o Partido Comunista e alas políticas de vários grupos rebeldes do Sudão assinaram um "Documento para a Liberdade e a Mudança" no país. Um texto que define uma visão para um futuro pós-Bashir com um sistema de justiça reformado e uma série de medidas de incentivo à economia.
Também a Associação de Profissionais do Sudão, que lidera os protestos, pediu a saída do Presidente. "Estamos a incentivar o povo a continuar com as manifestações até que o objetivo principal desta revolta seja concretizado, ou seja, a queda do chefe do regime", afirmou.
Detenção de jornalista
Entretanto, e poucas horas após o anúncio de Omar al-Bashir, agentes de segurança do Sudão detiveram um importante editor de um jornal depois de, num programa de televisão, este ter comentado a decisão do Presidente. A detenção foi denunciada pelo irmão de Osman Mirghani, editor-chefe do jornal independente Al-Tayar, que explicou à agência de notícias AFP que, após uma entrevista à Sky News Arábia, o seu irmão "foi levado do seu escritório por agentes de segurança, encontrando-se, atualmente, em paradeiro desconhecido".
Também a edição deste sábado (23.02) do jornal Al-Tayar foi confiscada pelo Serviço Nacional de Inteligência e Segurança do país. As autoridades não comentaram o caso.
Protestos fizeram já 51 mortos, diz HRW
Os protestos no Sudão começaram, em meados de dezembro, depois do governo ter anunciado o aumento do preço do pão, mas rapidamente se transformaram em manifestações que exigem a renúncia do Presidente al-Bashir. As autoridades dizem que 31 pessoas morreram na sequência destes protestos, e em consequência da violência levada a cabo pela polícia. Números que não correspondem aos divulgados pela Human Rights Watch. A organização de defesa de direitos humanos fala em, pelo menos, 51 vítimas mortais.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.