Sudão: Partes em conflito acordam nova trégua de sete dias
rl | Lusa | AFP | Reuters
21 de maio de 2023
Exército sudanês e forças paramilitares de apoio rápido acordaram cessar-fogo de uma semana a partir de segunda-feira (22.05). Apesar do registo de confrontos este domingo, há esperança em Cartum.
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Representantes do exército sudanês e das forças paramilitares de apoio rápido (RSF) acordaram um cessar-fogo de uma semana a partir de segunda-feira, anunciaram os Estados Unidos e a Arábia Saudita.
Num comunicado conjunto divulgado na noite de sábado (20.05), os dois países dão conta que o período de trégua "poderá ser prolongada com o acordo de ambas as partes" o exército sudanês, liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhane, e as RSF, lideradas pelo general Mohamed Hamdane Daglo.
Ao contrário das anteriores, a trégua de uma semana será monitorizada por um "mecanismo de controlo” por parte dos EUA e da Arábia Saudita, mas poucos pormenores sobre este mecanismo foram dados.
O Departamento de Estado norte-americano adianta que as duas partes "concordaram em facilitar a entrega e a distribuição de assistência humanitária, restabelecer os serviços essenciais e retirar as tropas dos hospitais e das estruturas públicas críticas".
Novos ataques
Ainda assim, ataque aéreos e disparos de artilharia abalaram, este domingo, (21.05), a capital sudanesa, onde a embaixada do Qatar foi saqueada por homens armados, numa ilustração do caos que decorre no país após mais de um mês de guerra.
Também este domingo (20.05), ambas as partes em conflito reafirmaram o seu empenho no cessar-fogo acordado.
Em comunicado, as forças paramilitares afirmaram o seu "total empenho no cessar-fogo para facilitar a entrega de ajuda humanitária e abrir passagem a tudo o que possa aliviar o sofrimento do povo”.
No mesmo documento, as RSF escrevem: "estamos hoje mais determinados (...) a quebrar este círculo vicioso que tem comandado o destino do nosso povo de forma injusta".
As negociações de Jeddah concentraram-se em permitir a restauração dos serviços essenciais. Segundo os mediadores, serão necessárias mais conversações para negociar um acordo de paz permanente com a participação dos civis.
"A população de Cartum está à espera das tréguas e da abertura de corredores humanitários", disse à Reuters o ativista Mohamed Hamed, acrescentando que "a situação sanitária está a piorar dia após dia".
Os combates, desencadeados em 15 de abril, já provocaram perto de 1.000 mortos e mais de um milhão de refugiados e deslocados.
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Tom apaziguador
Enquanto as negociações para uma trégua humanitária estavam a decorrer, o general Al-Burhane designou três dos seus fiéis para a chefia do exército, após despedir na sexta-feira o general Daglo do seu posto de adjunto no Conselho de soberania e designado Malik Agar para o seu posto.
A integração das FAR no exército esteve na origem da dissidência entre os generais Burhane e Daglo, e na sequência do golpe de 2021, no qual ambos e em conjunto afastaram os civis do poder.
A luta entre os dois homens pelo poder mergulhou o Sudão no caos. Repetem-se os testemunhos sobre ocupações de habitações, pilhagens e outros atos descontrolados, incluindo em diversos representações diplomáticas, como terá sucedido com a embaixada do Qatar.
As conversações sobre corredores seguros para ajuda humanitária foram longas em Jeddah, na Arábia Saudita.
O emissário da ONU para o Sudão, Volker Perthes, que permaneceu no país, viajou entretanto para Nova Iorque onde deve dirigir-se ao Conselho de Segurança na segunda-feira.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.