Sudão: Oposição recusa integrar Governo transitório
AP | AFP | EFE | Lusa | tms
22 de abril de 2019
Principal partido da oposição recusa Governo de transição formado por militares. Nas ruas, cidadãos exigem transição liderada por civis e prometem mais protestos. União Africana vai discutir situação no país.
Publicidade
As tensões aumentaram no Sudão esta segunda-feira (22.04) depois que as negociações foram interrompidas entre os manifestantes e os líderes militares do país, que pediram a reabertura das estradas bloqueadas desde o início do mês, durante os protestos que levaram à queda do regime de Omar al-Bashir.
O principal partido da oposição no Sudão anunciou hoje que recusa fazer parte do Governo de transição formado pelas forças militares que derrubaram o ex-chefe de Estado. O partido Al Umma, liderado por Sadiq al-Mahdi, rival de al-Bashir, declarou em comunicado que os seus seguidores não abandonarão as ruas do país "até atingirem os objetivos da revolução na sua totalidade".
Os manifestantes, que se reúnem do lado de fora do Ministério da Defesa em Cartum desde 6 de abril, exigem uma transferência rápida de poder para os civis.
O conselho militar que comanda o país desde a saída de Omar al-Bashir divulgou um comunicado pedindo a "abertura imediata das estradas e a remoção das barricadas" em torno do protesto na capital. Pediu que outras estradas, fechadas por protestos semelhantes em todo o país, também sejam abertas.
A Associação de Profissionais do Sudão, que lidera os protestos, prometeu continuar com a manifestação. O grupo de sindicatos profissionais convocou uma marcha para esta terça-feira e comícios em massa na quinta-feira, quando planeia anunciar o seu próprio conselho de transição civil, pressionando ainda mais os militares.
Negociações suspensas
No domingo, os organizadores do movimento suspenderam as conversas com o conselho militar, dizendo que não atenderam às exigências de uma transferência imediata para um Governo civil.
O porta-voz Mohammed al-Amin Abdel Aziz disse que o conselho militar "está a atrasar a sua resposta às propostas, dizendo que estão considerando propostas de todas as forças políticas".
Isso levantou temores entre os manifestantes de que os islamitas e outras forças próximas a al-Bashir, que agora está detido em Cartum, participarão na transição. E temem que isso possa restabelecer parte do antigo regime ou preparar o caminho para outro homem forte.
A Associação de Profissionais do Sudão, em vez disso, pediu um gabinete de tecnocratas para cuidar dos assuntos do país. E quer um conselho legislativo, no qual pelo menos 40% dos membros sejam mulheres, para redigir leis e supervisionar o gabinete até que uma nova Constituição seja escrita.
Militares prometem transição imediata
O general Abdel-Fattah Burhan, chefe do conselho militar, disse no domingo que entregaria o poder imediatamente a um "Governo civil acordado por todas as forças políticas".
Burhan afirmou que o conselho recebeu "mais de 100 propostas" de várias forças políticas para o futuro do país, incluindo a dos organizadores do protesto. E disse que os militares responderão às propostas dentro de uma semana.
Essas declarações desagradaram os manifestantes, que as viram como um esforço para marginalizar o movimento, retratando-o como uma das muitas forças políticas.
Hani Raslan, especialista no Sudão no Centro Al-Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos no Cairo, diz que a inclusão de figuras próximas a al-Bashir no conselho militar enfureceu os manifestantes.
"Os manifestantes dizem que o conselho, por meio dessas ações, está reproduzindo o antigo regime", afirma Raslan. "O conselho poderia acelerar algumas medidas contra o regime de al-Bashir para acalmar a situação e levar a Associação de Profissionais do Sudão de volta à mesa de negociações".
Reunião Urgente
Devido à situação política no Sudão, a União Africana (UA), que já havia feito um ultimato aos miliatres sudaneses, convocou para esta terça-feira (23.04) uma reunião em caráter de urgência, que também vai tratrar do conflito na Líbia.
Na cimeira convocada pelo pelo chefe de Estado egípcio e presidente em exercício da UA, Abdel Fattah al-Sisi, os dirigentes presentes vão discutir "a evolução da situação no Sudão".
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.