Sudão: Protestos mantêm-se após repressão policial
Eric Topona | EFE | AP
9 de abril de 2019
Pelo menos duas pessoas morreram, na madrugada desta terça-feira (09.04), na sequência dos protestos contra o Governo, em Cartum. Manifestantes recusam-se a sair da frente do quartel do Exército até al-Bashir renunciar.
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Para os mais de 50 mil manifestantes que há três dias mantêm a concentração de protestos à frente do principal quartel do Exército, em Cartum, os militares podem ser a única opção para forçar Omar al-Bashir a deixar a Presidência do Sudão, que ocupa há quase 30 anos.
Relatos que chegam da capital do Sudão, Cartum, indicam que os manifestantes não vão abandonar o local "até que al-Bashir renuncie e forme um governo de transição capaz de conduzir o país a uma nova etapa".
Desde que começaram os protestos em frente ao edfício que também alberga o Ministério da Defesa do país, os soldados bloquearam as ruas de acesso ao complexo militar para evitar que as viaturas civis se aproximem do local e, segundo testemunhos, fizeram disparos para o ar para dissuadirem a polícia de dispersar os manifestantes pela força. No entanto, nesta madrugada de terça-feira (09.04), e na sequência da repressão policial, alguns manifestantes terão sido mortos.
Vários mortos
Segundo o Comité Central dos Médicos do Sudão, um organismo sindical da oposição, duas pessoas terão perdido a vida, esta madrugada, havendo "também muitos feridos", fruto do "uso de munições reais" por parte da polícia. O mesmo sindicato dá conta que 11 manifestantes e militares terão já morrido desde o último sábado (07.04).
Já Sarah Abdel-Jaleel, porta-voz da Associação de Profissionais do Sudão, afirma que o número de mortos é superior. Desde segunda-feira (08.04), e na sequência de confrontos entre a polícia e alguns manifestantes que se encontram acampados em frente à sede do Exército, morreram sete pessoas, diz.
A situação está cada vez mais complicada para o chefe de Estado sudanês, mas al-Bashir continua a resistir com a ajuda de aliados externos, como é o caso, por exemplo, do Presidente da Síria, Bashar al-Assad, diz Michel Galy, analista político.
Para o também professor de geopolítica do Instituto de Relações Internacionais de Paris, "há uma certa tolerância curiosa por parte dos ocidentais, particularmente da União Europeia e da França, que preferem Omar Hassan al-Bashir que conhecem e que domina um certo número de forças, como os islamistas e migrantes, em vez de um ponto de vista diplomático, a anarquia imprevisível. Os ditadores são realmente elementos de negociação e o poder é entregue em troca de imunidade, pelo menos temporária, a um terceiro país".
Os protestos que se fazem sentir no Sudão desde o passado dia 19 de dezembro já fizeram mais de meia centena de mortos. Outros mil manifestantes foram detidos ou desapareceram.
Sudão: Protestos mantêm-se após repressão policial
Que futuro para al-Bashir?
O futuro de Al-Bashir é, para já, uma incógnita, com várias opções em cima da mesa. Questionado sobre para onde al-Bashir poderá ir, caso abandone o poder, Roland Marchal, especialista do Sudão no Centro Nacional de Pesquisa Científica na França, diz que: "o primeiro país é obviamente o Sudão". "Falou-se da Arábia Saudita. Mas dado o momento da amargura da Al Jazeera em relação ao Presidente sudanês, é duvidoso que o Catar lhe ofereça uma receção calorosa, mas nada é impossível", acrescenta.
Na opinião de Roland Marchal, al-Bashir conta com algumas opções, especialmente na Península Arábica. "Se as relações entre os dois líderes não são más [entre Idriss Deby e Omar al-Bashir], a nível pessoal, acho que não devemos esquecer que ambos provaram que foram capazes de vender seus amigos", acrescenta.
Para além de estar no poder há 30 anos, Omar al-Bashir é denunciado por múltiplas violações dos direitos humanos e procurado pela justiça internacional por crimes de guerra cometidos no Darfur.
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.