Assassinatos ocorrem na capital Cartum em dia de jornada de desobediência civil convocada pelos líderes dos protestos em todo o país. Manifestantes dizem que só deixarão as ruas quando o poder for restaurado aos civis.
Publicidade
Três civis foram mortos este domingo (09.06) nos confrontos com as forças de segurança do Sudão na capital Cartum. A informação foi adiantada pelo Comité de Médicos, um sindicato opositor que tem registado os mortos e feridos nos protestos iniciados em dezembro de 2018 no país.
Segundo o porta-voz do Comité de Médicos, Osman al Tahir, dois jovens estavam a tentar cortar a estrada com uma barricada em Um Durman, na zona norte de Cartum, quando foram atacados pelas Forças de Apoio Rápido (FAR), grupo paramilitar ligado ao Conselho Militar no poder no Sudão. A outra vítima é Walid Abdelrahman, que foi baleado no peito pelas autoridades em Cartum do Norte.
Em Bahri, um distrito no norte da capital, a polícia lançou bombas de gás lacrimogéneo contra manifestantes que juntavam tijolos, pneus, pedras, pedaços de ferro e troncos de árvores, disse uma testemunha citada pela agência de notícias AFP.
Com estes incidentes, subiu para 117 o número total de mortos desde a segunda-feira passada (03.06), quando as forças militares desmantelaram o acampamento opositor que estava instalado há dois meses em frente à sede do exército em Cartum. Milhares de pessoas estavam acampadas em frente ao quartel-general, um local emblemático de protesto, desde 6 de abril.
Após a destituição do presidente Omar al-Bashir pelo exército, a 11 de abril, os manifestantes exigiram a saída dos generais e a transferência de poder para os civis. Entretanto, as negociações entre a contestação e os militares foram suspensas a 20 de maio por falta de acordo.
Desobediência civil
A oposição convocou para este domingo uma jornada de "desobediência civil" em todo o país para protestar contra o ataque ao acampamento e contra a violência dos dias seguintes contra os opositores. O movimento consiste na instalação de barricadas nas estradas e numa greve geral. A Associação dos Profissionais Sudaneses (SPA), grupo que lidera os protestos, publicou no seu perfil oficial do Facebook fotos de lojas e agências bancárias fechadas.
"A desobediência civil e a greve geral são os nossos meios pacíficos para reivindicar o nosso direito à vida, face à barbárie das milícias", afirma a SPA em comunicado, alertando que esta campanha só terminará com a instauração de um poder civil no Sudão.
A jornada de protestos é realizada depois da missão de mediação do primeiro-ministro etíope na sexta-feira passada (07.06) em Cartum. Abiy Ahmed tentou restabelecer o diálogo entre a oposição e a junta militar que dirige o Sudão desde a queda do presidente Omar al Bashir em 11 de abril, mas as duas partes não chegaram a um entendimento sobre a formação de um governo de transição.
Três líderes dos protestos no Sudão foram detidos por "homens armados" depois do encontro com o primeiro-ministro da Etiópia. Testemunhas relatam que Mohamed Esmat, líder da Aliança pela Liberdade e pela Mudança (ALC), principal força dos protestos, Ismail Jalab, secretário-geral do Movimento Popular de Libertação do Sudão (SPLM-N), e Mubarak Ardul, porta-voz deste mesmo movimento, foram supostamente capturados por paramilitares das FAR.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.