O surto de ébola em duas províncias do nordeste da República Democrática do Congo (RDC) já deixou 900 mortos em quase 1.400 casos registados da doença, segundo o Governo congolês.
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O Ministério da Saúde da RDC atualizou este sábado (27.04) os números do ébola no país. A doença, cuja epidemia foi declarada em agosto do ano passado nas províncias do Kivu do Norte e Ituri, deixou 900 mortos (834 deles confirmados em laboratório) em 1.396 casos, verificados até a passada quinta-feira (25.04).
Outros 260 casos ainda estão sob análise das autoridades sanitárias, que dizem ter registado um aumento das mortes nos últimos 15 dias – totalizando 100.
O controlo deste surto, o mais mortífero da história da RDC, foi dificultado pela rejeição de algumas comunidades a receber tratamento e à insegurança na região, onde atuam vários grupos armados.
Dificuldades
De facto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e organizações não governamentais como a Médicos Sem Fronteiras (MSF) foram forçadas a paralisar algumas atividades em áreas como Butembo (um dos principais focos ativos atuais), devido aos ataques contra suas instalações.
Na semana passada, um médico camaronês enviado pela OMS para combater a doença na RDC foi morto por homens armados durante uma reunião de trabalho com sua equipa no Hospital Universitário de Butembo.
Além deste ataque, outros casos semelhantes foram registados nos centros de tratamento do ébola em Katwa e Butembo, entre o fim de fevereiro e início de março. Pelo menos um policia foi morto.
Campanha
Desde 8 de agosto do ano passado, quando começaram as vacinações, mais de 105 mil pessoas foram imunizadas - a maioria nas cidades de Katwa, Beni, Butembo, Mabalako e Mandima, de acordo com o Ministério de Saúde.
O vírus do ébola é transmitido através do contato direto com o sangue e os fluidos corporais contaminados, provoca febre hemorrágica e sua taxa de mortalidade pode chegar a 90% se não for tratado a tempo.
As cicatrizes invisíveis do ébola
O ébola já matou mais de 5 mil pessoas na África Ocidental, mais de metade delas na Libéria. Houve liberianos que perderam a família inteira.
Foto: DW/Julius Kanubah
Ausentes da fotografia
Faltam três pessoas nesta foto de família, diz Felicia Cocker, de 27 anos. O vírus do ébola matou o seu marido e dois dos seus cinco filhos: "A vida tem sido muito dura. Não tenho mais ninguém que me possa ajudar."
Foto: DW/Julius Kanubah
Autoridades falharam
Stephen Morrison perdeu sete irmãos e uma irmã. Ele diz que a culpa do alastramento da doença na Libéria é a falta de informação e os rituais fúnebres tradicionais. "Os meus familiares começaram a morrer depois do falecimento de um idoso", conta. "Na altura, não sabíamos que era ébola. Por todo o lado se negava o surto."
Foto: DW/Julius Kanubah
Um depois do outro
"Eu e três crianças – fomos os únicos a sobreviver", conta Ma-Massa Jakema. Antes da epidemia ela vivia com 13 familiares. O vírus matou a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, seis sobrinhas e sobrinhos, além de outros parentes afastados. "Morreu tanta gente, é horrível", diz Jakema.
Foto: DW/Julius Kanubah
Futuro incerto
"Não sei como vai ser agora", diz Amy Jakayma. "Primeiro morreu a minha tia, depois o meu marido e os meus filhos. A minha vida está virada do avesso – perdi a família inteira."
Foto: DW/Julius Kanubah
Desespero
Massah S. Massaquoi chora ao lembrar os familiares que morreram infetados com o vírus do ébola. "É difícil viver assim. Eu sobrevivi – fui uma das únicas a sobreviver na minha família mais próxima. Agora estou a viver com o meu avô." Massah perdeu o filho, a mãe e o tio.
Foto: DW/Julius Kanubah
Discriminação
Princess S. Collins, de 11 anos, mora na capital liberiana, Monróvia. Sobreviveu ao ébola mas o vírus roubou-lhe a mãe, o tio e o irmão. Mas agora "os vizinhos começaram a apontar para nós e a chamar-nos de 'doentes com ébola'".
Foto: DW/Julius Kanubah
Ébola também destrói futuros
Mamie Swaray (esq.) tem 15 anos de idade. Na verdade, ela devia estar na escola, mas o tio morreu infetado com o vírus do ébola e, por isso, não tem mais ninguém que lhe possa pagar as propinas escolares. Swaray sobreviveu ao ébola mas agora o seu futuro é incerto.
Foto: DW/Julius Kanubah
"Vontade de Deus"
Oldlady Kamara vive no bairro de Virginia, na zona ocidental de Monróvia. 17 membros da sua família morreram infetados com o vírus do ébola, incluindo o seu marido. "É horrível mas não posso fazer nada contra. É a vontade de Deus", diz Kamara. Ela contraiu ébola mas está muito grata por ter sido tratada num centro de saúde.
Foto: DW/Julius Kanubah
Obrigada aos médicos
Bendu Toure acaba de ter alta do centro de tratamento. O seu corpo conseguiu combater o vírus. Ela contraiu o ébola a partir da sua irmã. Toure cuidou dela até ela morrer. O seu irmão também faleceu. Apesar de tudo, Toure está bastante grata aos médicos: "Estou tão contente por poder sair daqui. Todos os dias tinha de assistir a mortes."