O surto de cólera que a província de Luanda enfrenta, com cinco mortos de pelo menos 20 casos, está sob controlo, declararam as autoridades sanitárias angolanas que apelam ao reforço da vigilância.
Foto: picture-alliance/AA/A. Hudaverdi
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Para abordar o assunto, a Comissão Provincial de Luanda para o combate e prevenção da cólera e malária reuniu-se na sexta-feira (06.07), tendo avaliado a situação da doença e o Plano de Emergência, que engloba os mecanismos de atuação para prevenir os focos da doença na capital angolana.
A comissão, considerando que a atividade de descarga, compra e venda de peixe no mercado da Mabunda e arredores, localizado no distrito da Samba, "nem sempre é desenvolvida nas melhores condições higiénico-sanitárias" criou um grupo de trabalho multissetorial, para proceder ao levantamento da situação e tomar medidas corretivas para evitar que local seja um possível foco de doenças.
A cólera é uma infeção do intestino delgado que não for tratada pode causar a morte em poucas horasFoto: DW/A. Vieira
Outros mercados sob medidas preventivas
Este mesmo grupo deverá estender a sua ação aos demais mercados e bairros considerados grandes produtores de resíduos sólidos e com baixos níveis de saneamento, como é o caso do Catinton.
Por outro lado, a comissão registou com preocupação a venda indevida do peixe baiacuê, alertando toda a população a abster-se da sua compra e consumo, pois estudos comprovam que o referido produto contém um elemento altamente tóxico e é contraindicado para o consumo humano.
De entre as medidas de vigilância, a comissão orientou igualmente e intensificação das campanhas de sensibilização junto da população para a mudança de comportamentos ligados à higiene pessoal e coletiva, ao tratamento da água para consumo e dos alimentos, ao mesmo tempo que apelou à calma, solicitando a colaboração das igrejas, associações, parceiros sociais e demais entidades.
Nos hospitais e centos de saúde de Luanda foi reforçada a orientação para estarem preparados para o tratamento inicial dos casos suspeitos, ou seja, receber o doente, estabilizá-lo e posteriormente encaminhá-lo para as unidades de referência, nomeadamente o Hospital Geral de Luanda, Hospital Ana Paula, em Viana, e o Centro de Saúde Dr. Agostinho Neto, no Cazenga.
O surto de cólera que eclodiu no bairro Dangereux, município de Talatona, arredores de Luanda, a 23 de junho já provocou, pelo menos, cinco óbitos.
O que é a cólera?
A cólera é uma infeção do intestino delgado causada por estirpes de uma bactéria chamada Vibrio cholerae. Se não for tratada, esta doença infeciosa pode causar a morte em poucas horas. A diarreia aquosa aguda e muito intensa - que pode causar um quadro grave de desidratação – é o principal sintoma.
A doença transmite-se através da ingestão de água, marisco ou outros alimentos contaminados.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estima-se que, em cada ano, ocorram 3 a 5 milhões de casos de cólera, causando entre 100.000 a 120.000 mortes.
Água potável em Angola, privilégio para poucos
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana. Todos os dias, muitos angolanos fazem uma maratona para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
Abastecimento, uma maratona diária
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana, segundo a Universidade Católica de Angola (UCAN). Todos os dias, os angolanos fazem uma maratona que consume uma quantia considerável de tempo e dinheiro para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
O dia começa no chafariz púlico
Nas regiões periféricas da capital de Angola, Luanda, o dia começa cedo a caminho do chafariz público. No município de Cazenga, esta é uma cena comum. Mulheres e crianças são as principais responsáveis pelo abstecimento de água das famílias angolanas. O consumo diário é geralmente limitado pela capacidade de aquisição e transporte da água.
Foto: DW/C. Vieira
Preço alto e falta d'água
Segundo um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), as fontes mais comuns para o abastecimento de água segura em Angola são: chafarizes (16%), furos protegidos (12%) e cacimbas (6%). Em Luanda, um galão de 20 litros de água custa 10 kwanzas no chafariz – o equivalente a 0,10 dólares. As famílias chegam cedo. Mas, muitas vezes, o chafariz está fechado por falha no abastecimento.
Foto: DW/C. Vieira
O sonho de ter água em casa
Aqueles que têm condições constroem tanques para armazenar a água em casa. O custo da obra supera os 1.500 dólares – uma despesa pesada com a qual poucos podem arcar. A água é entregue por um caminhão pipa privado e cada fornecimento de 20 mil litros custa 20 mil kwanzas – o equivalente a 0,20 dólares por 20 litros de água.
Foto: DW/C. Vieira
Água, um bom negócio?
Apesar de custar o dobro do preço pago no chafariz público, o tanque pode se tornar um bom negócio. Muitas pessoas vendem parte de sua água a 50 kwanzas por galão – o equivalente a 0,50 dólares por 20 litros. Uma margem de revenda de 150%. Esta mulher de Luanda compra água de sua vizinha e armazena em tonéis em casa.
Foto: DW/C. Vieira
Situação difícil também nas províncias
A falta de abastecimento de água leva a população a enfrentar muitas dificuldades para o transporte. Mulheres transportam a água até suas casas. Na foto: a cidade do Lobito, na província de Benguela. Além de ter que suportar o peso da bacia cheia, é preciso muito equilíbrio para não deixar a água pelo caminho.
Foto: DW/C. Vieira
Armazenar para garantir o abastecimento
As residências onde há encanamento são um privilégio para poucos angolanos. Ainda assim, não há garantia de que haverá sempre água. O abastecimento falha com frequência. No Lobito, muitos moradores investem em tanques para a armazenagem. Este comporta 3.000 litros de água e é a garantia para uma família de oito pessoas. O investimento foi de 560 dólares.
Foto: DW/C. Vieira
Criatividade para vencer a dificuldade
O transporte da água depende da criatividade e das possibilidades de cada um. Depois de adquirir a água, será preciso prepará-la para o consumo. Apesar da transparência, a água precisa ser tratada ou fervida para ser considerada potável - ou seja, livre de impurezas e que não oferece o risco de se contrair uma doença.
Foto: DW/C. Vieira
Água potável é saúde
A população de Luanda enfrenta muitas dificuldades para o transporte da água. Além disso, muitas crianças morrem de diarreia ou de outras doenças relacionadas com a água e o saneamento em Angola. Em 2006, um surto de cólera afectou mais de 85.000 pessoas e ceifou cerca de 3.000 vidas em 16 das 18 províncias angolanas.
Foto: DW/C. Vieira
Cobertura sanitária pouco abrangente
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 2,6 mil milhões de pessoas no mundo não têm acesso a condições sanitárias adequadas. Na África sub-saariana, a cobertura sanitária abrange apenas 31% da população. Em Angola, apenas cerca de 25% da população têm acesso ao saneamento básico, segundo a Universidade Católica de Angola. Em Luanda, é preciso conviver com esgotos a céu aberto.
Foto: DW/C. Vieira
Saneamento básico para combater doenças
A falta de saneamento básico é um pesadelo também para os moradores do município de Cazenga, em Luanda. Não há como escoar a água das ruas e enormes poças se formam. A água parada é o paraíso para a reprodução dos mosquitos transmissores da dengue e da malária – esta última ainda é a principal causa de mortes em Angola.
Foto: DW/C. Vieira
Higiene, uma questão de saúde
A falta de saneamento básico aumenta o risco da transmissão de doenças como a diarreia, a cólera e o tifo. Em toda a África, 115 pessoas morrem a cada hora de doenças ligadas à falta de saneamento, empobrecida higiene e água contaminada. Lavar as mãos após defecar, antes de cozinhar e antes das refeições ajuda a evitar doenças e pode reduzir em até 45% a incidência da diarreia.