Desde finais de janeiro sobem os casos de cólera no norte de Moçambique. Nas províncias de Cabo Delgado e Nampula regista-se um total de 1500 casos, com 15 óbitos. O Governo vai promover uma campanha de vacinação.
Publicidade
O Ministério da Saúde em Moçambique planeia lançar operação contra a cólera a partir de meados de abril. O objetivo é travar o avanço da doença bacteriana que ataca os intestinos e é transmitida por contaminação fecal-oral, ou pelo consumo de água ou alimentos contaminados.
O ministro da Saúde, Armindo Tiago, que visitou a província de Cabo Delgado esta quarta-feira (18/03) disse que nos últimos dias a situação tende a normalizar-se, não havendo registo de mortes entre pacientes internados nos centros de saúde. "Embora a situação no início estivesse mais ou menos alarmante, nas últimas semanas os números estão a diminuir consideravelmente", disse o ministro.
Cidadãos saúdam campanha de vacinação
Surto de cólera no norte de Moçambique mata 15 pessoas
Apesar da previsão do recuo de casos de infeção, o Ministério da Saúde prevê levar a cabo, pelo menos em Cabo Delgado, uma campanha de vacinação contra a cólera. O principal alvo da ação são os distritos que neste momento mais afetados, nomeadamente Ilha do Ibo, Macomia e Mocimboa da Praia.
"Vamos vacinar em Cabo Delgado perto de 500 mil pessoas contra a cólera e queremos ver como e que estratégias devemos usar para iniciar o processo de comunicação à nossa população, mobilização e consciencialização no sentido, quando começarmos a campanha de vacinação todas as pessoas poderem aderir," explicou o ministro.
A DW África ouviu alguns populares em Cabo Delgado sobre os planos de vacinação do Governo. O estudante Félix louva a iniciativa do ministério contra uma das mais perigosas doenças que assola a província ciclicamente. "Eu acho algo muito positivo, porque vai resultar na redução significativa da doença". O jovem aconselhou ainda as pessoas que resistem à vacinação a aceitar este serviço, "porque, além desta, eu não vejo outra solução para a erradicação da doença".
Assistência garantida da OMS
Vanésia, que também reside em Pemba, disse que a vacina será bem vinda, por ser uma ajuda preciosa para a população afetada pela cólera. "Por isso, apelo a todos cidadãos que habitam no Ibo, Macomia e Mocimboa da Praia para poderem tomar essa vacina. Não rejeitar porque será melhor para todos nós", disse.
O ministro responsável adiantou esta quarta-feira (18.03) que já foram dirigidos os requerimentos necessários à Organização Mundial de Saúde (OMS), contando com uma rápida resposta da agência internacional.
Em Cabo Delgado, os dados facultados pelas autoridades indicam que o número de mortes pela cólera continua a ser doze, registado nas primeiras semanas da doença. Pelo menos três pessoas sucumbiram ao surto em Nampula.
No interior do hospital de campanha de Macurungo na Beira
As estruturas do centro de saúde que é referência no atendimento de cerca de 35 mil pessoas na região foram severamente danificadas com a passagem do ciclone Idai. Hospital de campanha já atendeu dois mil pacientes.
Foto: DW/F. Forner
A rotina
O hospital de campanha nos arredores do centro de saúde Macurungo, na Beira, está a funcionar desde 24 de março. "Montamos um centro médico avançado com uma tenda para cirurgia e consultas, além de mais duas tendas para avaliação pós-parto das mães", descreve a médica infectologista Telma Susana Vieira Azevedo, que liderou por dois meses a equipa da Cruz Vermelha em Macurungo.
Foto: DW/F. Forner
Um passeio pelas tendas em Macurungo
Um enfermeiro da equipa da Cruz Vermelha caminha pelas tendas de lona do hospital de campanha gerido em parceria com a ONG Médicos do Mundo. Já foram realizadas mais de duas mil consultas, além de uma média de sete partos diários. Este hospital é referência no atendimento de 35 mil pessoas na região, onde as condições habitacionais ficaram muito debilitadas após a passagem do ciclone Idai.
Foto: DW/F. Forner
No interior do hospital destruído
A noite de 14 de março na Beira foi marcada pelos fortes ventos que arrancaram telhas, chapas e coberturas das casas e edifícios públicos. O hospital de Macurungo sofreu sérios danos estruturais. Mesmo assim, algumas áreas do edifício continuam a ser utilizadas. “Nosso objetivo é conseguir reconstruir o centro de saúde e só depois deixar a Beira”, diz a médica Telma Susana Vieira Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
Balanço pós-Idai
Segundo dados do fundo de redução de desastres do Banco Mundial (GFDRR), Moçambique ocupa a terceira posição no ranking de países africanos mais expostos a múltiplos riscos associados às mudanças climáticas, como ciclones periódicos, secas, inundações e epidemias. Esta foto mostra o coração do hospital de campanha montado em um dos bairros que mais carecem de atenção à saúde.
Foto: DW/F. Forner
Os grandes desafios de Beira
Esta é uma foto aérea do hospital de campanha em Macurungo na Beira. Além da reestruturação de hospitais, as cidades afetadas pelo ciclone Idai também encaram os desafios de reconstrução de moradias, escolas e das infraestruturas urbanas. A ONU estima que o país necessite de pelo menos 200 milhões de dólares de ajuda internacional nestes três primeiros meses pós-ciclone.
Foto: DW/F. Forner
O estoque de medicamentos
Além de servirem como consultórios e locais de operação, algumas tendas do hospital de campanha foram construídas para armazenar equipamentos, medicamentos e demais suprimentos médicos. Nesta foto, o médico Luís Canelas opera um dos computadores que realiza exames de ultrassonografia. O hospital de campanha também realiza exames laboratoriais, como exames de sangue e testes de malária.
Foto: DW/F. Forner
Apoio à população
Em momento de descanso, o enfermeiro da Cruz Vermelha de Cabo Verde Mariano Delgado brinca com uma das pacientes no pátio externo. Estima-se que cerca de 400 mil crianças foram afetadas. "Precisamos fazer um trabalho mais ativo de equipas móveis para ir às populações deslocadas", diz Michel Le Pechoux, representante adjunto do UNICEF em Moçambique.
Foto: DW/F. Forner
Pulverização contra a malária
Homens uniformizados com luvas e protetores fazem a pulverização contra a malária em casas nas ruas de Búzi, a 150 km ao sul da Beira. Os casos de malária aumentaram e um mutirão tenta conter a proliferação do mosquito transmissor.
Foto: DW/F. Forner
Cadastro de pacientes
Esta é a tenda de triagem onde os pacientes são recebidos para a marcação de consultas. "Recebemos pacientes com doenças crónicas, hipertensão, doenças cardiovasculares e parasitárias, bem como pacientes que sofrem de desnutrição e portadores do VIH/SIDA", explica a infectologista da Cruz Vermelha portuguesa Telma Susana Vieira Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
À espera de consultas
As salas de espera no centro de saúde Macurungo ficam diariamente superlotadas com pacientes que sofrem das mais variadas doenças. O cólera está sob controle, mas os casos de malária estão a ser acima do habitual. "As chuvas fazem com que haja poças d’água que são óptimas para a proliferação dos mosquitos havendo mais vetores para transmitir a doença", diz a infectologista Telma Susana Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
Atendimento
Esta é uma das tendas do hospital de campanha Macurungo destinada às consultas médicas e atendimento aos pacientes. Nesta foto, o doutor Miguel e o enfermeiro de Cabo Verde Mariano Delgado dividem o espaço realizando atendimentos e curativos.
Foto: DW/F. Forner
Nos bastidores
Num momento de descanso após o almoço, estes três profissionais de saúde aproveitam a pausa no início da tarde antes de continuar com os atendimentos. Esta sala com macas também serve de refeitório e sala de reuniões. As equipas de médicos, enfermeiros e pessoal de apoio técnico trabalham diariamente sem cessar e se revezam a cada três semanas.