RDC: Suspeita de preparação do golpe em Angola gera tensões
Manuel Luamba
28 de maio de 2024
Suspeitas apontam que a tentativa de golpe de Estado em Kinshasa, na RDC, ocorrida a 19 de maio e que culminou com a morte do líder Cristian Malanga, tem possíveis ligações com Angola.
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Segundo a imprensa local, a preparação do golpe, que culminou com a morte do líder Cristian Malanga, teria ocorrido em território angolano. Uma semana após o incidente, meios de comunicação na RDC divulgaram que Malanga, identificado como líder do golpe e posteriormente morto pelas forças de segurança após invadir o Palácio da Nação, teria planeado o golpe enquanto estava em Angola.
Relatos indicam que Malanga teria recrutado congoleses em Angola e estabelecido contacto com um coronel das Forças Armadas Angolanas, conhecido como Afonso Lourenço. Estas acusações levantam preocupações significativas sobre as repercussões nas relações diplomáticas entre Angola e a RDC, dado que Angola tem sido um mediador crucial na região.
Peter Kazadi, vice-primeiro-ministro responsável pelo Ministério do Interior e Segurança, disse que os conspiradores golpistas que "atacaram a residência de Vital Kamerhe e o palácio presidencial vieram de Angola para entrar no Congo Central com a ajuda de cúmplices na RDC”.
José Gama, jornalista angolano residente na África do Sul, destacou à DW África que existe um forte sentimento na RDC que sugere que Angola poderá ter facilitado a movimentação de Malanga, potencialmente abrindo as suas fronteiras para a execução das operações.
"Estão a produzir muitos comentários, muitos analistas de rádios com discursos de anti Angola, um discurso de hostilização do país", afirmou o jornalista.
As reações ao caso têm sido intensas e variadas. Nkinkinamo Tussamba, professor de relações internacionais, descreve a situação como alarmante e sublinha a necessidade de um posicionamento oficial do governo da RDC, que até agora não indicou envolvimento do Governo angolano na tentativa de golpe. "Considerando o papel fundamental de Angola na resolução de conflitos naquele país, é difícil ver o Governo angolano a perpetuar tal tentativa", afirmou.
18 meses de golpes e tentativas de golpe na África Ocidental
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Implicações diplomáticas e a resposta angolana
Face à gravidade da situação, Gama sugere que seria prudente para o Presidente João Lourenço enviar uma comissão de bons ofícios à RDC:
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"É momento de o Presidente da República, João Lourenço, enviar uma comissão de bons ofícios à RDC de forma a esclarecer, de facto, o que é que aconteceu e partilhar as informações que Angola poderá ter em sua posse quanto à presença de Malanga em território nacional".
No entanto, no último domingo, durante a cerimónia de investidura do Presidente das Comores, Azali Assoumani, o presidente João Lourenço manifestou preocupação com a situação atual em alguns países da SADC, "nomeadamente em Moçambique e na República Democrática do Congo para quem reiteramos o nosso contínuo apoio e solidariedade".
A tentativa de contacto com as Forças Armadas Angolanas (FAA) pela DW África para uma reação não resultou qualquer resposta. Enquanto isso, a tentativa fracassada de golpe de Estado em Kinshasa levantou preocupações sobre a estabilidade política na região. Analistas políticos e a mídia local continuam a explorar as implicações deste incidente nas relações entre Angola e a RDC.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.