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Suspenso líder juvenil da UNITA acusado de corrupção

Manuel Vieira (Luanda) 12 de setembro de 2013

A UNITA suspendeu o líder da JURA, a organização juvenil do segundo maior partido de Angola. Mfuka Muzemba é suspeito de ter recebido milhões de dólares e viaturas para travar manifestações contra o Presidente angolano.

Muzemba é também acusado de ter recebido casas no projecto habitacional “Nova Cidade do Kilamba Kiaxi”Foto: cc by sa Santa Martha

A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) realizou uma investigação interna que durou oito meses. A comissão jurisdicional do partido concluiu que Mfuka Muzemba, líder da Juventude Revolucionária de Angola (JURA) - braço juvenil do partido -, resistiu o quanto pode aos acenos do regime, mas acabou por ceder e recebeu três casas de luxo no projeto habitacional “Kilamba”, que fica a 30 quilómetros a sul de Luanda.

Além de várias viaturas, em quantidade não especificada, o líder juvenil agora suspenso terá recebido também dois milhões de dólares para neutralizar manifestações contra o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, e colocar em letargia a sua própria organização.

Suspenso líder juvenil da UNITA acusado de corrupção

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“Houve tentativas de corrupção que envolviam muito dinheiro, alguns milhões de dólares, inclusive. Mfuka foi resistindo, até que chegou uma altura em que comprovadamente não resistiu e recebeu esse dinheiro”, afirma Raul Danda, o presidente do grupo parlamentar da UNITA.

“Além de viaturas”, acrescenta Danda, o líder da JURA - agora afastado - “exibia avultadas somas de dinheiro que não podiam vir de rendimento nenhum, nem mesmo do seu cargo de deputado na Assembleia Nacional”.

O partido da oposição diz que o cérebro desta operação foi Bento Kangamba, um militante de proa do partido no poder em Angola, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Casado com a secretária do chefe de Estado angolano, Kangamba é um dos homens mais ricos do país.

Além dele, a UNITA aponta ainda o nome do chefe do Serviço de Informações e Segurança de Angola (SIS), Sebastião José Martins.

Muzemba ameaça com tribunais

Na quarta-feira (11.09), em conferência de imprensa na capital angolana, Luanda, o secretário-geral da JURA, que é acusado de corrupção ativa e passiva, negou todas as acusações. “Entrei na UNITA por convicção própria, por acreditar no seu projeto e nos seus ideais”, sublinhou Mfuka Muzemba, de 36 anos, durante a apresentação de um documento a que deu o nome de “Renovar a esperança”.

Raul Danda, presidente do grupo parlamentar da UNITAFoto: DW

Na conferência de imprensa, que se assemelhou ao lançamento de um manifesto político, Muzemba garantiu ter “bastantes provas documentais” para mostrar que as acusações são infundadas e admitiu que ainda poderá levar a tribunal os seus detratores.

“Tenho provas documentais das minhas contas bancárias e da minha esposa, do contrato de arrendamento que tenho com o senhorio da casa onde vivo e dos carros que tenho”, precisou.

Muzemba foi afastado do cargo de secretário-geral do braço juvenil da UNITA por um período de dois anos, mas vai continuar como deputado da Assembleia Nacional. Ele diz que, por enquanto, está fora de hipótese militar ou fundar um outro partido, mesmo sob pressão daqueles que, segundo afirma, “o querem matar politicamente”.

Pressões dos “Barões da UNITA”

O segundo maior partido angolano enfrenta, por vezes, dificuldades e pressões de uma corrente interna identificada como os “barões da UNITA”, que advogam que cargos-chave na liderança devem ser ocupados por pessoas oriundas do centro do país, os Ovimbundo, matriz étnica do partido.

Mfuka Mfuakaka Muzemba é Bakongo, nascido no norte de Angola. Ainda assim, venceu com margem folgada no último congresso da agremiação. Correntes internas continuam a opor-se à sua liderança.

Tido como popular entre os jovens, a principal massa votante, Mfuka Muzemba foi um pilar na luta eleitoral do ano passado. Juntamente com outros companheiros, Muzemba foi também o precursor das recentes manifestações em Angola através do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA).

Esta organização, entretanto extinta, protagonizou, entre 2002 e 2005, várias manifestações que resultaram em prisões e tortura. Os estudantes exigiam passes de acesso aos transportes públicos, subvencionados pelo Estado. Reivindicação que continua sem resposta.

Manifestação de jovens em AngolaFoto: picture-alliance/dpa
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