Talibãs só anunciam governo após saída de soldados dos EUA
Lusa
23 de agosto de 2021
Os talibãs não anunciarão a formação de um governo no Afeganistão enquanto houver soldados norte-americanos no país, declararam hoje à agência France-Presse fontes do movimento extremista. G7 analisa amanhã crise afegã.
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"Foi decidido que a formação do governo não será anunciada enquanto um único soldado norte-americano estiver no Afeganistão", disse uma daquelas fontes. A informação foi confirmada por uma segunda fonte.
Um porta-voz dos talibãs já tinha afirmado hoje que estender além do final de agosto os esforços dos países aliados para retirar pessoas do Afeganistão representa uma "linha vermelha" e provocaria "uma reação".
"Isto é algo que se pode designar de linha vermelha. O Presidente [dos Estados Unidos, Joe] Biden anunciou este acordo de que a 31 de agosto retiraria todas as suas forças militares. Assim, se o estendem, isso significa que estão a estender a ocupação quando não há necessidade", disse Shuail c à televisão britânica Sky News.
"Isso criará desconfiança entre nós. Se houver intenção de continuar a ocupação, isso vai provocar uma reação", acrescentou, citado pela agência noticiosa espanhola Efe.
Afeganistão: O "falhanço" da estratégia do Ocidente
04:57
G7 analisa crise afegã
O porta-voz falava após ter sido marcada para terça-feira (24.08) uma reunião do G7 (grupo dos sete países mais ricos), presidida pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, para analisar a crise afegã e a possibilidade de alargar o prazo para evacuações.
Desde que os talibãs entraram em Cabul, há uma semana, milhares de pessoas reuniram-se perto do aeroporto internacional da capital para tentar sair do país antes de 31 de agosto, data fixada pelo Governo dos Estados Unidos para a retirada final das suas forças no Afeganistão.
Diante do caos da retirada e sob pressão dos aliados, Joe Biden indicou considerar manter os soldados no país além desse prazo, referindo haver "discussões em andamento" sobre o assunto.
Segundo o secretário de Estado das Forças Armadas britânico, James Heappey, a decisão sobre uma extensão das operações de retirada em Cabul não cabe apenas a Washington e os talibãs também têm uma palavra a dizer sobre o tema.
"Haverá uma conversa com os talibãs. Os talibãs terão a escolha entre procurar colaborar com a comunidade internacional e mostrar que desejam fazer parte do sistema internacional" ou "dizer que não há oportunidade de estender" a presença norte-americana, disse Heappey.
Afegãos tentam fugir após regresso dos talibãs ao poder
Centenas de pessoas estão a tentar fugir do Afeganistão, depois da invasão da capital pelos talibãs. Potências ocidentais retiraram civis do aeroporto de Cabul, uma vez que os voos comerciais foram interrompidos.
Foto: AFP/Getty Images
Multidão no aeroporto de Cabul
O principal aeroporto de Cabul, Hamid Karzai, em homenagem ao primeiro Presidente do país logo depois do derrube dos talibãs, acolheu esta segunda-feira (16.08) multidões de pessoas desesperadas a fugir dos talibãs. Também as potências ocidentais corriam para evacuar pequenos grupos de pessoas, principalmente os seus compatriotas, mas também alguns funcionários locais.
Foto: AFP/Getty Images
Os talibãs tomaram o palácio presidencial
Depois da queda da capital, Cabul, os talibãs tomaram o palácio presidencial no domingo (15.08). As imagens mostram os comandantes e soldados sentados no palácio, onde declararam vitória contra as forças governamentais.
Foto: Zabi Karim/AP/picture alliance
Medo do Governo islâmico
Muitos receiam a linha dura dos talibãs, que afirmaram que não se vingariam dos que ajudaram a aliança apoiada pelos EUA. Mulheres e crianças foram proibidas de estudar durante o anterior regime talibã. Os afegãos trataram logo de esconder imagens que podem desagradar os fundamentalistas.
Foto: Kyodo/picture alliance
Atravessar a fronteira para o Paquistão
Enquanto o aeroporto Hamid Karzai rebenta pelas costuras, com multidões à espera de deixar o país, outros cruzam as fronteiras para o Paquistão. O ministro do Interior do Paquistão, Sheikh Rashid Ahmed, disse à DW que o seu Governo fechou as fronteiras de Torkham com o Afeganistão, encerrando assim a última grande rota terrestre para fora do país.
Foto: Jafar Khan/AP/picture alliance
Os talibãs retornam depois da retirada dos EUA
Os EUA e os seus aliados entraram no Afeganistão depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA e derrubaram os talibãs. Como o conflito de 20 anos chegou ao fim com a retirada abrupta das tropas dos EUA e da NATO, as forças do Governo rapidamente entraram em colapso porque não tinham apoios.
Foto: Hoshang Hashimi/AP Photo/picture alliance
Quem é o líder talibã?
Os talibãs governaram o país em 1996 e 2001 e impuseram uma interpretação estrita da lei islâmica sharia. O movimento foi fundado sob a liderança do Mullah Omar, que tem um olho só. Haibatullah Akhundzada é agora o líder máximo, enquanto co-fundador Mullah Baradar, na imagem, lidera a ala política.
Foto: Social Media/REUTERS
Os talibãs erguem a sua bandeira
Os talibãs dizem-se prontos para controlar o país. "Estamos prontos para dialogar com todas as figuras afegãs e vamos garantir-lhes a proteção necessária", disse o porta-voz do gabinete político, Mohammad Naeem, à Al Jazeera.
Foto: Gulabuddin Amiri/AP/picture alliance
Muheres e crianças em risco
Suspeita-se que mulheres e crianças afegãs deverão sofrer sob a liderança do regime talibã.
Foto: Paula Bronstein/Getty Images
Presidente Ghani deixou o país
O Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, deixou o país a 15 de agosto. "Para evitar o derramamento de sangue, achei melhor sair", disse Ghani, mas ressaltou que continuará a lutar pelo país.
Foto: Rahmat Gul/AP Photo/picture alliance
Ex-Presidente Karzai pede paz
Os líderes criaram um conselho para se reunirem com os talibãs e gerirem a transferência do poder. O ex-Presidente Hamid Karzai, parte do conselho, diz que a iniciativa visa "visa reduzir o caos e o sofrimento da população" e para administrar a paz e a "transferência pacífica".
Foto: Mariam Zuhaib/AP Photo/picture alliance
Potências ocidentais evacuam os seus compatriotas
A Alemanha enviou aviões militares para ajudar na evacuação do Afeganistão, após fechar a embaixada em Cabul. Os EUA, Grã-Bretanha e Arábia Saudita também estão a evacuar forças, diplomatas e outras autoridades do país.
Foto: Moritz Frankenberg/dpa/picture alliance
Protestos nos EUA
Nos EUA, muitas pessoas manifestaram-se diante da Casa Branca, no fim de semana, a favor da paz no Afeganistão. O almirante Mike Mullen disse que os EUA e os seus aliados "subestimaram o impacto de um Governo corrupto". E acrescentou: "Acabamos de chegar longe demais, as expetativas eram muito altas e foi uma ponte muito longe para chegar onde pensávamos que queríamos ir."