1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Tanaice Neutro: "O país não está bom"

10 de julho de 2023

Há 18 dias em liberdade, o ativista Tanaice Neutro diz que só vai pedir desculpas públicas ao Presidente angolano, João Lourenço, caso este peça desculpas aos angolanos.

Tanaice Neutro | angolanischer Aktivist
Foto: Borralho Ndomba/DW

Detido a 13 de janeiro de 2022, por crime de ultraje ao Estado, o ativista angolano Gilson da Silva Moreira Tanaice Neutro, há 18 dias em liberdade, disse esta segunda-feira (10.07) que só vai pedir desculpas públicas ao Presidente angolano, João Lourenço, caso este peça desculpas aos angolanos devido a "incumprimentos das promessas eleitorais".

"Pensei que depois de um ano e meio na cadeia, o país estaria melhor e que haveriam mudanças, mas infelizmente as coisas pioraram", lamentou o ativista, em declrações à DW em Luanda.

O ativista denunciou que ficou muito tempo preso por recusar negociar com o poder político angolano. Mas disse que vai continuar com a sua missão, "porque o Governo de João Lourenço ainda não resolveu o problema dos angolanos".

"Não é prendendo os ativistas que vão continuar no poder. O povo angolano já acordou", afirmou.

Pedido de desculpas

Falando numa conferência de imprensa na capital angolana, sobre as circunstâncias da sua detenção, prisão e a sua libertação, o ativista reafirmou que, tal como diz numa das suas músicas gravadas no pós prisão, não vai pedir desculpas ao Presidente angolano.

"É o Presidente da República (João Loureço) que tem de pedir desculpas aos angolanos porque ele não cumpriu com as suas palavras, prometeu 500.000 empregos e não vimos, prometeu transformar Benguela em Califórnia e não aconteceu, então é ele que tem de pedir desculpas e não eu", respondeu Tanaice Neutro à agência de notícias Lusa.

A necessidade de um pedido de desculpas públicas ao Presidente angolano foi apresentada em 12 outubro de 2022, pelo Tribunal da Comarca de Luanda, após Tanaice ter sido condenado a uma pena de prisão suspensa de um ano e três meses pela prática do crime ao ultraje ao Estado, seus símbolos e órgãos.

Tanaice Neutro: "O povo angolano já acordou"

02:06

This browser does not support the video element.

Ultraje contra o Estado

Segundo o tribunal, ficou provado que o ativista, de 36 anos, cometeu o crime de ultraje contra o Estado, seus símbolos e órgãos por ter chamado o Presidente angolano de "bandido e palhaço" e ter atribuído a mesma denominação aos efetivos da polícia nacional, nos vídeos que o ativista gravou e partilhou nas redes sociais.

Tanaice, que lamentou as peripécias por que passou na prisão, onde esteve durante um ano e seis meses, agradeceu a onda de solidariedade do povo angolano, da Igreja Católica, ativistas,Amnistia Internacional, jornalistas.

Disse que foi apenas solto por "ordens superiores", mas que sem a solidariedade da sociedade ainda estaria encarcerado.

"O povo angolano é solidário, vi a força, as manifestações a favor da minha libertação e vim aqui também para agradecer", salientou, recusando, ao mesmo tempo, o título de herói.

"Para o bem da Nação"

"O que eu faço é para o bem da Nação, fizemos uma luta não para sermos heróis, todos os que fazem uma luta para o país são heróis, todos têm um bem que deve ser despertado", frisou.

Considerou que neste momento os angolanos vivem em "pobreza extrema" e pediu a conjugação de esforços dos cidadãos para "ajudar o país a sair desta situação".

"Devemos denunciar as injustiças e elogiar as coisas certas, vamos continuar na mesma luta, todos devemos lutar para o país ter um novo rumo. Neste momento as coisas não estão fáceis e só venceremos se estivermos unidos", observou.

O ativista criticou também as atuais condições das penitenciárias angolanas, particularmente o Hospital Prisão São Paulo e a Comarca de Viana onde esteve, referindo ter registado casos de "tortura física e psicológica, mortes, péssimas condições de alojamento e de alimentação dos presos".

Angola "tem as piores prisões do mundo", disse Tanaice Neutro dando conta ainda ter sido visitado, antes e depois do julgamento, pelo ministro do Interior angolano, Eugénio Laborinho, alegando que o governante lhe terá apresentado "propostas para deixar o ativismo".

Angola: 10 anos de protestos antigovernamentais

03:22

This browser does not support the video element.