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PolíticaTanzânia

Tanzânia: 100 dias de mandato da Presidente Suluhu Hassan

Chrispin Mwakideu
26 de junho de 2021

Passados os seus primeiros 100 dias no cargo, a Presidente Samia Suluhu Hassan está a orientar a Tanzânia para enfrentar a Covid-19, após meses de sem agir. Ela também se comprometeu a promover a liberdade de expressão.

Tansania Daressalam | Amtseinführung neue Präsidentin Samia Suluhu Hassan
Samia Suluhu Hassan durante a sua posse como PresidenteFoto: Stringer/REUTERS

Nas ruas da capital comercial da Tanzânia, Dar es Salaam, a população parece não notar que já passaram 100 dias desde que Samia Suluhu Hassan fez história ao tomar posse como a primeira mulher Presidente da Tanzânia. Ao serem questionados, os cidadãos tinham opiniões diferentes sobre o desempenho de Suluhu Hassan até agora.

"Agradecemos a Deus por ter Samia como nossa Presidente, mas uma questão em que ela deveria trabalhar é o aumento das taxas do cartão SIM. Isto irá prejudicar os cidadãos comuns e não os líderes governamentais", disse Huruma Swai.

Ali Mshangila, outro residente de Dar es Salaam, disse estar grato à Presidente por ter baixado as taxas de electricidade. "Não esperava pagar apenas 27.000 xelins tanzanianos (cerca de 10 euros)", disse Ali.

"A sua liderança não é má, mas também não é boa", observou Savera Mathias. "Temos enfrentado alguns desafios para fazer o nosso negócio. Estou a lutar para conseguir uma identificação nacional sem sucesso até agora", observou o empresário.

Política inclusiva?

Num dos seus movimentos políticos mais significativos, a Presidente Suluhu Hassan nomeou como comissários distritais os membros do partido governante Chama Cha Mapinduzi (CCM) e algumas caras novas. O diário tanzaniano online The Citzen descreveu as nomeações como um delicado acto de equilíbrio.

Algumas das novas nomeações incluem antigos membros da oposição, emissoras e artistas. Suluhu tinha anteriormente recomendado que os membros do partido se preparassem para as mudanças, afirmando que era necessário construir unidade para o país.

John MagufuliFoto: AFP

Os observadores concordam que a temperatura política desceu sob a nova liderança, em comparação com os cinco anos sob o falecido Presidente John Magufuli. Numa entrevista ao The Africa Report, Zitto Kabwe, líder do partido da oposição ACT Wazalendo, disse que a situação mudou porque as pessoas estão a começar a exercer a sua liberdade de expressão.

Kabwe observou que a imprensa podia agora informar sobre assuntos que durante a presidência de Magufuli eram intocáveis. No entanto, lamentou que não tivesse havido mudanças no que diz respeito às leis repressivas, citando o chefe da polícia Simon Sirro, a quem acusou de aplicar "diretivas ditatoriais" da administração anterior.

A DW contactou o porta-voz do Governo da Tanzânia, Gerson Msigwa, para comentar sobre o marco histórico do Presidente, mas não recebeu qualquer resposta.

"A principal preocupação era que o espaço cívico estivesse tão apertado que as pessoas nem conseguissem respirar, mas agora os partidos da oposição começam a falar", disse o advogado e analista político tanzaniano Khamis Lindi. Eles [a oposição] não estão a ser presos como acontecia anteriormente", afirmou.

Desde a unificação da Tanzânia em 1964, a nação de quase 60 milhões de habitantes já teve seis presidências. Lindi disse que não acredita que as mudanças políticas de Suluhu Hassan lhe prejudiquem. "Sempre que um novo presidente toma posse, há sempre um sentimento de medo e ansiedade", disse, acrescentando que aqueles que temem são sobretudo políticos que costumavam beneficiar da administração anterior. "Perguntam-se a si próprios: 'Continuaremos a fazer parte desta nova administração ou seremos varridos?' Então, são eles que causam este medo, mas não creio que os cidadãos comuns sejam afectados por estas mudanças".

Harrison Mwilima, jornalista da DW nascido na Tanzânia e baseado em Berlim, disse ser demasiado cedo para avaliar o desempenho global da Presidente Suluhu Hassan, mas que ela representa um novo capítulo. "Ela mostrou que quer falar com a oposição, para abrir espaço para que a oposição pratique a sua política", considerou.

Grafiti em Dar es Salaam lembra cuidados para combater a Covid-19Foto: Eric Boniphace/DW

Pandemia

Numa entrevista à DW, o vice-ministro da Saúde da Tanzânia, Godwin Mollel, advertiu os cidadãos para terceira vaga da Covid-19. Ele instou-os a tomar todas as medidas necessárias - incluindo máscaras, distanciamento social, e higienizador de mãos para prevenir a infeção.

"Estamos conscientes de que os turistas estão a chegar, pessoas de países vizinhos estão a chegar. Antes de entrarem no nosso país, nós examinamo-los. Também conhecemos a ameaça nos países que nos rodeiam", disse Mollel.

Os últimos números da Coviud-19 publicados pela Tanzânia são de abril de 2020. Pressionado pela DW sobre quando o país retomará a partilha de dados, tal como recomendado pela Organização Mundial de Saúde, Mollel defendeu a posição da Tanzânia.

"A Tanzânia nunca deixou de divulgar dados. O Governo deixou de publicar as estatísticas numa tentativa de evitar o alarme entre o público", disse Mollel, acrescentando que os números sempre existiram. "Se não tivéssemos estes números e não fizéssemos a menor ideia do que se passa no país, teríamos ficado petrificados".

Harrison Mwilima, especialista em relações Europa-África da DW, considera que a decisão de Suluhu Hassan de formar uma comissão encarregada de abordar a Covid-19 e o seu pedido de vacinas da iniciativa COVAX para países em desenvolvimento foi uma mudança completa em relação ao regime anterior.

Samia Suluhu Hassan e Uhuru KenyattaFoto: Simon Maina/AFP/Getty Images

Melhoria das relações internacionais

Suluhu Hassan também tem estado interessada em melhorar a imagem da Tanzânia ao nível internacional, disse Mwilima. "Ela escolheu um diplomata altamente respeitado, o embaixador Liberata Mulamula, o antigo embaixador nos EUA. Isto foi um sinal de que escolheu um ministro dos Negócios Estrangeiros que compreende o mundo e outros parceiros internacionais", avaliou.

Segundo Mwilima, a nomeação de Mulamula enviou um sinal positivo à comunidade internacional de que a nova Presidente da Tanzânia está a levar a sério as relações internacionais.

Suluhu Hassan viajou duas vezes ao Uganda e efetuou uma visita oficial de dois dias ao Quénia. As relações entre o Quénia e a Tanzânia tinham sido anteriormente tensas sob a liderança de Magufuli. Os dois países tinham disputas sobre comércio transfronteiriço, tarifas, entre outros. No Quénia, Suluhu Hassan procurou reconstruir o relacionamento com o seu homólogo, o Presidente Uhuru Kenyatta.

Na semana passada, esteve em Moçambique para participar numa cimeira da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). "Ela não só está a melhorar as relações com os seus vizinhos diretos na Comunidade da África Oriental, mas também está a melhorar as relações com os países da SADC na África Austral", considera Mwilima.

Nos seus primeiros discursos, Suluhu Hassan apelou ao investimento estrangeiro direto, o que em muitos casos significa uma mudança de políticas ao nível interno. Recentemente, provocou uma agitação quando ordenou ao banco central do país que se preparasse para a utilização de moedas criptográficas como moeda com curso legal.

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