Um primeiro grupo de mil refugiados do Burundi deverá deixar a Tanzânia esta quinta-feira. ACNUR vai ajudar burundeses que queiram regressar voluntariamente ao seu país, mas não apoiará o regresso forçado de refugiados.
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Desde 2017 que existe um acordo de repatriamento voluntário assinado entre o Burundi, a Tanzânia e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Um acordo tripartido que frisa que o regresso ao país dos burundianos deverá cumprir as normas internacionais, ou seja, é necessário que os refugiados queiram voltar.
"Todos concordam que o regresso de qualquer refugiado só acontecerá quando este entender que é hora de regressar", lembra Babar Baloch, porta-voz do ACNUR. "Para nós, neste momento, este é um princípio muito importante: deixar que sejam os próprios refugiados a decidir se está na hora de voltar ao seu país de origem."
Tanzânia começa a repatriar refugiados do Burundi
A decisão de começar a repatriar os refugiados do vizinho Burundi em outubro foi anunciada pelo governo tanzaniano em agosto. Segundo a Tanzânia, a situação política e de segurança no Burundi está significativamente melhor e já permite o regresso a casa das cerca de 200 mil pessoas que, fugindo da violência, procuraram refúgio neste país nos últimos anos.
Mas, segundo o ACNUR, não estão ainda reunidas as condições para encorajar este regresso. "Pessoas que continuam a chegar do Burundi falam ainda de violações de direitos humanos, o que indica que, neste momento, não estão reunidas as condições para um regresso em massa", diz Babar Baloch.
A posição do ACNUR é por isso muito clara: continuará a ajudar os refugiados que queiram voltar voluntariamente ao seu país, mas não apoiará o regresso forçado dos que entenderem que ainda não está na hora.
Risco de nova onda de atrocidades
Também a organização de defesa de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) tem vindo a alertar para as contínuas execuções sumárias, sequestros e intimidações levadas a cabo pelos serviços de segurança no Burundi.
De acordo com um relatório sobre a situação no país publicado recentemente pela ONU, à medida que se aproximam as presidenciais, marcadas para 2020, cresce o risco de uma nova onda de atrocidades.
No início desta semana, o governo do Presidente Pierre Nkurunziza já avisou que qualquer tentativa da ONU nas eleições do próximo ano será considerada "um ataque à soberania" do país.
Nigéria: Dar e receber para sobreviver
Fugiram do grupo terrorista Boko Haram e vivem sem dinheiro no campo de refugiados de Bakasi, na Nigéria. A troca de produtos foi a solução que muitos encontraram para sobreviver e satisfazer necessidades básicas.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Alguma autonomia
Os alimentos e os produtos doados nem sempre são os desejados. Dinheiro e trabalhos remunerados são raros no campo de refugiados de Bakasi, no nordeste da Nigéria. Com a troca de produtos, os refugiados encontraram uma maneira de satisfazer as suas necessidades.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Dinheiro significa corrupção
"Nós não ganhamos dinheiro. Por isso é que fazemos as trocas", explica Umaru Usman Kaski. O refugiado quer trocar um molho de lenha no valor de 50 nairas (cerca de 11 cêntimos de euro) por alimentos para a família de oito membros. Muitos residentes preferiam receber dinheiro. Mas o risco é grande porque a corrupção na rede de distribuição do campo é generalizada.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Arroz em troca de farinha
Falmata Madu (à dir.) troca arroz pela farinha de milho de Hadisa Adamu. As refugiadas fazem parte dos dois milhões de pessoas que fugiram do Boko Haram. Uns refugiaram-se no interior do país, outros no estrangeiro. Há mais de oito anos que o grupo terrorista aterroriza o nordeste da Nigéria, onde quer estabelecer um califado. Segundo a ONU, esta é uma das piores crises humanitárias mundiais.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Milhares de refugiados
Há 670.000 refugiados nos vários campos espalhados pelo nordeste da Nigéria. No campo de Bakasi, nos arredores da cidade de Maiduguri, capital do estado de Borno, vivem 21 mil pessoas. Em troca do seu milho, Falmata Ahmadu recebe folhas de amaranto de Musa Ali Wala.
Foto: Reuters/A. Sotunde
"Não havia mais nada"
Abdulwahal Abdulla não gosta muito de peixe. Mas as pequenas tilápias foram a única coisa que conseguiu comprar porque os produtos são muitos escassos. Em vez do peixe seco, que custou 150 nairas (cerca de 36 cêntimos de euro), o refugiado de 50 anos, que vive no campo de Bakasi há três anos, preferia ter comprado óleo.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Necessidades alteram-se
Nasiru Buba (à dir.) comprou detergente com o dinheiro que conseguiu a trabalhar como porteiro na cidade. Na altura, não precisava de nada especial. Agora precisa urgentemente de amendoins, mas já não tem dinheiro. "A minha mulher acabou de ter um bébé, mas não tem leite", diz Buba. Acredita-se que os amendoins estimulam a produção de leite.
Foto: Reuters/A. Sotunde
Violência sem fim à vista
Maiduguri é considerada o berço do Boko Haram e centro de violência. Em finais de dezembro de 2017, pelo menos nove pessoas morreram num ataque do grupo terrorista na capital do estado de Borno. Face a este cenário, é pouco provável que os refugiados deixem o campo de Bakasi em breve. Por enquanto, a troca direta de bens deverá continuar.