Críticas e elogios a Magufuli a um ano de terminar mandato
Henry-Laur Allik | Tulanana Bohela | Fredrick Nwaka | ac
5 de novembro de 2019
Falta um ano para o fim do mandato do Presidente John Magufuli. E muitos criticam-no por reprimir a oposição e a imprensa independente. Mas ele também é apoiado por tanzanianos que sentem que as suas vidas melhoraram.
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John Magufuli chegou ao poder há precisamente quatro anos, a 5 de novembro de 2015. Na altura, prometeu erradicar a corrupção e impulsionar a economia. Fora da Tanzânia, os observadores concentraram-se mais no histórico de Magufuli no setor dos direitos humanos, longe de ser perfeito. Organizações não-governamentais como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch publicaram vários relatórios sobre abusos contra a liberdade de imprensa e de expressão.
Políticos da oposição como Ally Saleh Alberto concordam com essas críticas: "Foram tomadas medidas duras, e essa situação não é saudável para a democracia do país. Se a situação não alterar, a oposição vai-se ressentir, e muito, nas eleições em 2020."
Uma perspetiva diferente
Mas Hoseana Lunogelo, especialista independente na área agrícola, diz que há quem tenha uma opinião bastante diferente sobre a atuação de Magufuli. Segundo Lunogelo, a abordagem do Presidente tanzaniano pode ser, em alguns casos, "demasiado radical", mas o chefe de Estado "está cheio de boas intenções".
"Muitos cidadãos são influenciados pela oposição, que diz às pessoas para não cooperarem com programas de desenvolvimento rural propostos pelo Presidente, dizendo que o Governo deve fazer tudo sozinho. Esse tipo de comportamento torna impossível para o partido no poder implementar as suas propostas", afirma o analista.
No que diz respeito à repressão da liberdade de imprensa, Lunogelo é cuidadoso, ressaltando que nada sabe sobre casos de jornalistas perseguidos. Ao mesmo tempo, enfatiza as especificidades da imprensa tanzaniana, com os seus muitos meios de comunicação e uma concorrência acirrada - "uma história de sucesso democrático", na opinião de Lunogelo - mas que levou alguns a publicar críticas infundadas e manchetes negativas sobre o Executivo.
"Acho que, a certo ponto, o Governo ficou preocupado com o perigo de eles poderem distorcer os factos, e isso seria contraproducente para os esforços de atrair investidores para a Tanzânia", afirma.
Críticas e elogios a Magufuli a um ano de terminar mandato
Balanço misto
Tanzanianos interrogados pela DW tecem críticas, mas também elogios ao Presidente. "Houve alguns avanços, por exemplo na administração pública. Agora, os funcionários trabalham melhor. Vai-se a uma repartição governamental e há quem pergunte se foi atendido. Isso não costumava acontecer", diz um cidadão ouvido em Dar es Salaam pela DW África. O economista Lunogelo afirma que o segredo do sucesso da luta contra a corrupção no setor público foi a digitalização da burocracia estatal. Atualmente, há acesso online a quase todos os requerimentos, por exemplo para abrir um negócio.
Outro cidadão sublinha que "ao nível das infraestruturas, é preciso reconhecer o trabalho do Presidente. Mas, quanto à economia, acho que nos estão a atirar areia para os olhos. Podem dizer que a economia está a crescer. Acho que é 7%. Mas, no terreno, os cidadãos estão a sofrer."
Lunogelo admite que isso possa acontecer nas zonas urbanas. No entanto, a população rural tem visto a sua vida melhorar significativamente nos últimos quatro anos. "Olhe para a castanha-de-caju, que é a principal cultura em quatro ou cinco regiões. Os preços no produtor duplicaram". Isto é fruto de novas regras, que forçaram os produtores a vender no mercado interno a preços fixos. Permitindo-lhes exportar produtos, as receitas aumentaram.
Melhorias na qualidade de vida
Algumas medidas de Magufuli granjearam-lhe reconhecimento não só dos cidadãos tanzanianos, como também de outros Estados africanos: o cancelamento de celebrações luxuosas do Dia da Independência para combater com esse dinheiro uma epidemia de cólera; a anulação do jantar oficial de abertura do Parlamento para comprar camas de hospital ou a proibição de viagens de governantes ao estrangeiro, excetuando do Presidente, do vice-Presidente e do primeiro-ministro, são apenas alguns exemplos.
Até os opositores aplaudem as medidas, de vez em quando. Tumaini Makene, porta-voz do partido da oposição Chadema, elogia as reformas no setor da educação: "Muitas pessoas têm agora acesso à educação, muito estudantes puderam registar-se", porque as propinas escolares foram reduzidas. Mas muito continua por fazer: "A educação não se baseia no número de estudantes registados, mas na qualidade da educação".
Em última análise, segundo o economista Lunogelo, quando a Tanzânia for a votos em outubro de 2020, os eleitores olharão sobretudo para o que mudou nas suas vidas. E 65% dos tanzanianos que dependem da agricultura para sobreviver já veem as diferenças: "Quando Magufuli chegou ao poder, 40% das pessoas tinham acesso a água potável a um quilómetro das suas casas, agora esse número aproxima-se dos 70%". Lunogelo diz ainda que o acesso à eletricidade quase duplicou. E foram disponibilizados fundos para estradas rurais, que ajudaram ao reforço das infraestruturas no interior. "Eu acho que é isso que irá convencer os eleitores nas zonas rurais a votar em Magufuli", afirma o analista, que acredita que o Presidente deverá conseguir uma vitória folgada nas próximas eleições.
Uma relação especial: a Alemanha Oriental e África
A República Democrática Alemã manteve relações estreitas com os países africanos de orientação socialista. Entre eles estavam Angola, Etiópia, Moçambique e Tanzânia. A cooperação terminou com a reunificação em 1990.
Foto: Ismael Miquidade
Formação de profissionais africanos
A República Democrática Alemã (RDA), extinta após a reunificação da Alemanha a 3 de Outubro de 1990, formou muitos trabalhadores vindos de países africanos socialistas. Estes angolanos participam num curso em Dresden, em 1983, no Instituto para Segurança no Trabalho. Angola estava em guerra nessa altura. O chamado "Bloco de Leste" apoiava o Governo marxista-leninista do MPLA.
Foto: Bundesarchiv/183-1983-0516-022 /U. Häßler
Ajuda ao desenvolvimento para aliados políticos
Depois do fim do colonianismo português em África, em 1975, a Alemanha Oriental (RDA) apoiou os partidos socialistas que foram conquistando o poder. A ideia era fazer desses novos Estados africanos aliados e parceiros económicos do Bloco de Leste. Aqui, o angolano Eduardo Trindade recebe formação de mecânico de máquinas agrícolas (1979).
Foto: Bundesarchiv/183-U0213-0014/P. Liebers
Formação para jornalistas africanos
Não havia só formação para profissões técnicas. A Alemanha Oriental também formava jornalistas africanos. Centenas de jornalistas, de quase todos os países de África, passaram pela Escola de Solidariedade da Associação de Jornalistas da RDA, em Berlim-Friedrichshagen. Na foto: jovens jornalistas de Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe durante o curso em dezembro de 1976.
Foto: Bundesarchiv/183-R1210-302
Cooperação no desporto
Esta foto foi tirada em setembro de 1989, em Leipzig, numa aula de atletismo da Escola Superior Alemã para Educação Física (DHfK), com treinadores de Angola, Nicarágua e Moçambique. Em Leipzig, a partir de 4 de setembro, os cidadãos começaram a exigir todas as segundas-feiras mais liberdade na RDA - primeiro eram centenas, depois dezenas de milhares. A 9 de novembro de 1989 caiu o Muro de Berlim.
Foto: Bundesarchiv/183-1989-0929-019/ W. Kluge
Estudantes nas universidades da RDA
Moisés José da Costa, de Angola, fez parte de um grupo de estudantes de 34 países que frequentou a Escola Superior Técnica de Karl-Marx-Stadt em 1986. A cidade passou a chamar-se Chemnitz em 1990. Muitas ruas da Alemanha Oriental, com nomes de políticos marxistas, também foram renomeadas. Hoje, muitos estrangeiros que viveram na RDA têm dificuldade em encontrar endereços antigos.
Foto: Bundesarchiv/183-1986-1112-002/W. Thieme
"Escola da Amizade"
1983: O Presidente de Moçambique, Samora Machel (dir.), e Margot Honecker, ministra da Educação da RDA (esq.), encontram-se com a direção da "Escola de Amizade", na localidade de Staßfurt. Em 1979, ambos os países decidiram que 899 crianças moçambicanas frequentariam essa escola na Alemanha Oriental durante quatro anos. Algumas dessas crianças tinham apenas 12 anos de idade.
Foto: Bundesarchiv/Bild 183-1983-0303-423/H. Link
Escola "Dr. Agostinho Neto"
Em outubro de 1981, durante uma visita do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, à Alemanha, a 26ª Escola de ensino médio da RDA "Berlim-Pankow" recebeu o nome do seu antecessor. Passou a chamar-se Escola "Dr. Agostinho Neto". Jovens da Alemanha Oriental receberam o Presidente angolano com cartazes propagandísticos, como: "Apoiando a União Soviética pela paz e socialismo."
O Presidente angolano José Eduardo dos Santos (o quinto, a partir da esq.) visitou o Muro de Berlim na Porta de Brandemburgo. O muro começou a ser construído em 1961 para impedir que a população da RDA fugisse para Berlim Ocidental, onde se tinha livre-trânsito para o Ocidente. Oficialmente, o muro era chamado de "Muralha Antifascista". Cerca de 200 pessoas morreram ao tentar fugir.
Foto: Bundesarchiv
Congresso do SED com convidados africanos
O Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED) gostava de exibir os seus convidados estrangeiros. No 10° Congresso do partido, em 1981, recebeu Ambrósio Lukoki, do MPLA (atrás, à direita), e Berhanu Bayeh (atrás, o segundo à esq.), que mais tarde se tornou chefe da diplomacia da ditadura marxista-leninista etíope do Derg, período em que milhares de pessoas foram mortas.
Foto: Bundesarchiv/183-Z0041-138/M. Siebahn
Visitas a congressos partidários africanos
O contrário também era comum. Konrad Naumann (na segunda fila, à dir.), membro do SED, participou do 3° Congresso do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) em Bissau, em novembro de 1977. O evento foi realizado sob o lema "Independência, Unidade e Desenvolvimento".
Foto: Bundesarchiv/Bild 183-S1118-026/Glaunsinger
Acampamentos de verão para crianças e adolescentes
Também durante o período de férias, a RDA tentava educar as crianças de acordo com os ideais comunistas. E convidavam-nas para acampamentos de verão. Aqui também vinham convidados estrangeiros. Na foto, dois membros da organização juvenil da Alemanha Oriental "Pioneiros" explicam a uma criança da República Popular do Congo uma matéria do jornal "Die Trommel".
Foto: Bundesarchiv/183-T0803-0302
Fim-de-semana em casa de família alemã
As crianças estrangeiras que, em 1982, participaram no acampamento dos "Pioneiros" também passaram um fim-de-semana com famílias alemãs para conhecer o dia-a-dia na Alemanha Oriental. Elas foram de comboio até à cidade de Schwedt, na fronteira com a Polónia. Sandra Maria Bernardo, de Angola, foi recebida pela sua "mãe-anfitriã" Ingeborg Scholz e a filha Petra.
Foto: Bundesarchiv/183-1982-0731-010 /K. Franke
Solidariedade militar
1973: Combatentes do MPLA marcham durante o Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, que teve lugar no estádio da Juventude Mundial, no leste de Berlim. A RDA solidarizou-se com a luta do MPLA contra o poder colonial português. Os outros dois movimentos de libertação de Angola, a UNITA e a FNLA, foram apoiados pela África do Sul e EUA.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-M0814-0734/F. Gahlbeck
Hora do adeus
Depois de formados na RDA, namibianos despedem-se no aeroporto Berlim-Schönefeld. De 1981 a 1984, eles estiveram a receber formação na Alemanha Oriental. No entanto, não puderam regressar às suas casas porque a Namíbia só se tornou independente da África do Sul em 1990. Por isso, voaram para Angola, para trabalhar como técnicos de silvicultura, canalizadores ou mecânicos de automóveis.
Foto: Bundesarchiv/183-1984-0815-031/A. Kämper
A ajuda chega de avião
Na foto, uma aeronave da companhia aérea Interflug, pertencente à extinta RDA, no aeroporto de Luanda. A bordo: material escolar para crianças angolanas. Em 1978, além de Angola, o Comité de Solidariedade da Alemanha Oriental enviou donativos à Etiópia, Moçambique, Vietname, República Popular do Iémen e às organizações de libertação do Zimbabwe (ZANU), da Namíbia (SWAPO) e da África do Sul.
Foto: Bundesarchiv/183-T0517-0022/R. Mittelstädt
Tratores para aliados socialistas
Doação de máquinas agrícolas da fábrica de tratores Schönebeck (da RDA) para a Etiópia. Os tratores do tipo "ZT 300-C" eram comuns na Alemanha Oriental e foram exportados para 26 países. Incluindo Angola e Moçambique. (1979)
Foto: Bundesarchiv/183-U1110-0001/Schulz
Máquinas têxteis da RDA para a Etiópia
Fábrica têxtil na cidade de Kombolcha, na província etíope de Amhara (foto de novembro de 2005). Esta fábrica processa algodão para fazer lençóis e toalhas. Foi construída em 1984 com o apoio da RDA e da hoje extinta Checoslováquia. Quase todas as máquinas foram produzidas pelo consórcio TEXTIMA, na antiga cidade de Karl-Marx-Stadt, hoje Chemnitz.
Foto: picture-alliance/dpa
Construções pré-fabricadas da RDA em Zanzibar
Ainda hoje, é possível ver prédios, construídos a partir de elementos pré-fabricados, em Zanzibar, com os quais a Alemanha Oriental apoiou a Tanzânia socialista criada em 1964 sob o Presidente Julius Nyerere. Os materiais chegaram de navio e tiveram apenas de ser montados. "Michenzani" é o nome do projeto com mais de 1,5 km de comprimento.
Foto: cc-by-sa/Sigrun Lingel
RDA - Nostalgia em Maputo
Cerca de 15 mil moçambicanos trabalharam na Alemanha Oriental no final dos anos 80. A maioria voltou ao seu país de origem após a reunificação da Alemanha, a 3 de Outubro de 1990. Em casa, são chamados de "Madgermanes", uma palavra derivada de "Made in Germany". Até aos dias de hoje, eles reúnem-se com frequência no Jardim 28 de Maio, em Maputo, para reivindicar os seus direitos.