Tanzânia dá sete dias para repatriar refugiados do Burundi
EFE | AP | tms
26 de agosto de 2017
Governo tanzaniano acusa a ACNUR de atrasar a repatriação de pelo menos oito mil burundeses que querem retornar para o seu país. Presidente do Burundi garante que a situação é de segurança.
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A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) tem um prazo de sete dias para repatriar os refugiados burundeses que estão na Tanzânia e querem regressar ao Burundi. A medida foi defendida pelo ministro de Assuntos Internos tanzaniano, Mwigulu Nchemba, que acusa a ONU de atrasar o processo de repatriação. Segundo o ministro, passado este prazo, o Governo tomará as devidas providências.
O Governo da Tanzânia deu assim um ultimato às Nações Unidas para que ajude a repatriar os refugiados que querem voltar ao Burundi, apenas um mês depois que o Presidente Pierre Nkurunziza disse aos refugiados que o país é agora um lugar seguro.
Nechemba, que visitou esta semana o campo de refugiados de Nduta, no oeste tanzaniano, pediu à ACNUR que frete camiões para transportar os refugiados de volta para casa, porque se não, disse, utilizará camiões militares.
Pelo menos oito mil refugiados do campo de Nduta teriam se registado para uma repatriação voluntária ao Burundi. O ministro insistiu que a agência da ONU deve de fazer isto imediatamente. Entretanto, a ACNUR não respondeu aos comentários do minsitro tanzaniano, conforme apurou a agência de notícias AP.
Refugiados
A ACNUR estima que atualmente haja 249 mil cidadãos burundeses que fugiram da agitação política no país e se refugiaram na Tanzânia. Segundo os últimos dados, cerca de 410 mil pessoas fugiram do Burundi desde abril de 2015.
A Tanzânia acolhe a maioria de refugiados burundeses em três campos superlotados. Outros países também estão a acolher estes refugiados: o Ruanda se ocupa de aproximadamente 84 mil burundeses, enquanto o Uganda de 45 mil e a República Democrática do Congo (RDC) de 41 mil.
Um número menor de cidadãos do Burundi fugiu também para o Quénia, Zâmbia, Moçambique, Malawi e África do Sul.
Conflitos
Uma onda de protestos começou no Burundi há pouco mais de dois anos, quando o Presidente Pierre Nkurunziza anunciou que concorreria pela terceira vez consecutiva às eleições, algo proibido pela Constituição e que violava os acordos que acabaram com a guerra civil em 2005.
Desde então, morreram centenas de pessoas e cerca de meio milhão foram obrigadas a deixar seus lares, segundo dados da ONU, que também alertou para um possível genocídio.
Em junho deste ano, investigadores da Comissão Independente da ONU sobre o Burundi, que foram impedidos de entrar no país, disseram que a oposição continua a ser torturada e morta pelo Governo. Ainda segundo a comissão, esta constatação é baseada em 470 testemunhos de refugiados burundeses que fugiram para os países vizinhos.
Burundi: uma cronologia da crise
Em julho de 2015, o Presidente Pierre Nkurunziza candidatou-se a um terceiro mandato, dando espaço a uma profunda instabilidade no país. Possível solução da crise, que já deixou milhares de mortos, não está à vista.
Foto: Getty Images/AFP/C. Ndegeya
Julho de 2015: eleições tensas
O anúncio em abril de que o Presidente do Burundi, Pierre Nkurunziza, concorreria a um terceiro mandato à revelia da Constituição, gerou um confronto amargo entre apoiantes e opositores do governo. Em três meses, mais de 80 pessoas foram mortas. Muitos dissidentes e jornalistas deixaram o país. As eleições em 21 de julho de 2015 foram boicotadas pela oposição.
Foto: Reuters/E. Benjamin
Julho de 2015: Agathon Rwasa – um perdedor?
Em 24 de julho, foi anunciado que o líder da oposição, Agathon Rwasa, perdera as eleições. Nkurunziza foi escolhido como novo Presidente com 69% dos votos. Dias depois, Rwasa foi nomeado vice-presidente da Assembleia Nacional. Antigos aliados apelidaram-no de "traidor".
Foto: Reuters/M. Hutchings
Agosto de 2015: general é morto
Em 1 de agosto, o general Adolphe Nshimirimana, responsável pela segurança pessoal do Presidente, foi morto num atentado na capital Bujumbura. A União Europeia demonstra preocupação com a "perigosa escalada de violência" e pede "contenção" e retomada do diálogo. Em provável retaliação à morte do general, o ativista Pierre-Claver Mbonimpa foi alvo de uma tentativa de assassinato em 3 de agosto.
Novembro de 2015: tensões entre Burundi e o Ruanda
Desde o início da crise, milhares de cidadãos do Burundi refugiaram-se no Ruanda. Em 6 de novembro, o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, criticou a situação de violência e instabilidade no país vizinho. "Vocês devem tirar lições do que aconteceu no Ruanda", declarou em referência ao genocídio de 1994. Nkurunziza acusa o governo ruandês de recrutar burundeses para causar mais problemas.
Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Kagire
Dezembro de 2015: escalada da violência
Em 12 de dezembro, mais de 100 pessoas foram mortas em confrontos. Os assassinatos de autoria desconhecida seriam uma resposta aos ataques coordenados contra três bases militares no dia anterior. "Quando um conflito irrompe em grande escala, não podemos fingir que nada aconteceu", afirmou Adama Dieng, relator especial das Nações Unidas sobre prevenção do genocídio.
Foto: Reuters/J.P. Aime Harerimana
Dezembro de 2015: novo movimento rebelde
Um dia antes do Natal, o ex-oficial do exército Edouard Nshimirimana proclamou a formação de um novo grupo rebelde. As "Forças Republicanas do Burundi" têm o objetivo de derrubar Nkurunziza. O militar acusou o Presidente de utilizar a força e de colocar a polícia e o exército um contra o outro.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Pfister
Dezembro de 2015: tentativas de mediação
O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, inaugurou em 28 de dezembro negociações de paz entre a oposição e o governo do Burundi. A União Africana decidiu enviar oito mil soldados ao país. Nkurunziza recusa-se a dialogar com a CNARED, a coligação da oposição. A ONU anunciou a abertura de investigações para apurar alegadas violações de direitos humanos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Wandera
Abril de 2016: ONU denuncia tortura
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, denunciou a prática de tortura rotineira nas prisões do Burundi. Desde o início do ano, foram 354 casos. O Governo do Burundi deve "acabar com as práticas inaceitáveis e ilegais imediatamente", afirmou Al Hussein.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Campardo
Maio de 2016: CNARED de fora
Em 21 de maio, começam as negociações de paz em Arusha, na Tanzânia. O ex-presidente tanzaniano, Benjamin Mkapa, atua como mediador. A coligação de grupos da oposição CNARED não é convidada, sob pena de o Governo do Burundi deixar as conversações.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
Junho de 2016: críticos pagam preço elevado
Em 3 de junho, onze estudantes da cidade de Muramvya foram presos por rabiscar uma foto de Nkurunziza num livro escolar. O caso gerou revolta entre ativistas de direitos humanos. Anteriormente, 300 alunos já tinham sido expulsos das aulas em Ruziba pelo mesmo motivo.
Foto: DW
Julho de 2016: ex-ministra é morta
A morte de Hafsa Mossi, ex-ministra e confidente do presidente Nkurunziza, em 13 de julho, cria ainda mais tensão no Burundi. A ex-jornalista era membro do partido no poder, CNDD-FDD, e trabalhou como assessora de comunicação para o chefe de Estado. Pela primeira vez, um político do alto escalão do governo é assassinado em Bujumbura.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Julho de 2016: um assento vazio em Kigali
A crise no Burundi foi um dos temas de discussão da 27ª Cimeira da União Africana, realizada em Kigali, no Ruanda. A delegação do Burundi não participou nas discussões, porque pediu licença pouco antes da reunião. Os chefes de governo e de Estado da União Africana não chegaram a um acordo sobre a imposição de sanções. Falta vontade de Nkurunziza para negociar a saída do impasse.