Tanzânia impõe toque de recolher após protestos eleitorais
29 de outubro de 2025
Toque de recolher em Dar es Salaam após protestos contra eleições sem oposição na Tanzânia. Manifestantes incendiaram uma esquadra e derrubaram cartazes da Presidente Hassan. Internet foi bloqueada.
Samia Hassan enfrenta protestos após eleições sem oposiçãoFoto: AP/picture alliance
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A polícia da Tanzânia declarou hoje um toque de recolher na maior cidade do país, depois de centenas de pessoas protestarem, derrubando cartazes da Presidente Samia Suluhu Hassan e incendiando uma esquadra, no dia em que terminaram as eleições, marcadas pela ausência dos principais candidatos da oposição, presos ou impedidos de concorrer.
Apesar da forte presença militar em Dar es Salaam, com tanques posicionados em pontos estratégicos, centenas de jovens saíram às ruas a cantar "Queremos o nosso país de volta", segundo um jornalista da AFP. Um grupo incendiou uma esquadra na estrada Nelson Mandela, a principal via que liga ao porto da cidade.
A polícia lançou gás lacrimogéneo, mas acabou por recuar perante os manifestantes que atiravam pedras. Um veículo militar atravessou a multidão, mas não interveio. A organização NetBlocks reportou uma "interrupção nacional da internet".
O chefe da polícia, Camillus Wambura, anunciou o toque de recolher na televisão estatal TBC, avisando que "todos devem estar em casa a partir das seis da tarde", com patrulhas militares e policiais nas ruas.
O dia começou calmo, com assembleias de voto praticamente vazias, ao contrário das eleições anteriores. Um dirigente do partido no poder, Chama Cha Mapinduzi (CCM), admitiu antes dos protestos que iria mobilizar eleitores "para salvar a situação".
Eleições contestadas provocam caos na TanzâniaFoto: Imani Luvanga/DW
Oposição silenciada e denúncias de abusos
A Amnistia Internacional denunciou uma "onda de terror" antes das eleições, incluindo desaparecimentos forçados, tortura e execuções extrajudiciais de opositores e ativistas. A Presidente Hassan, de 65 anos, procura consolidar o poder com uma vitória esmagadora, segundo analistas.
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O principal adversário, Tundu Lissu, está a ser julgado por traição e pode enfrentar pena de morte. O seu partido, Chadema, foi impedido de concorrer. Outro candidato relevante, Luhaga Mpina, do ACT-Wazalendo, foi desqualificado por questões técnicas.
Hassan, que assumiu a presidência em 2021 após a morte de John Magufuli, inicialmente foi vista como reformista, mas organizações como a Human Rights Watch acusam o Governo de sufocar a oposição, controlar os media e comprometer a independência da comissão eleitoral.
Há também relatos de perseguição a membros do próprio partido no poder. Humphrey Polepole, ex-porta-voz do CCM e embaixador em Cuba, desapareceu este mês após criticar Hassan. A família encontrou manchas de sangue na sua casa. A Ordem dos Advogados da Tanzânia confirma 83 raptos desde que Hassan assumiu o cargo, com mais 20 casos recentes.
Em Zanzibar, a situação manteve-se calma, embora analistas prevejam uma disputa mais equilibrada devido à maior liberdade política na ilha.
Os aeroportos dos presidentes em África
São uma espécie de monumento auto-instituído: vários líderes africanos construíram os seus próprios aeroportos em locais remotos. Hoje, são estruturas esquecidas, paralisadas ou dão grandes prejuízos.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
O aeroporto esquecido de uma capital esquecida
Nos anos 60, o Presidente Félix Houphouët-Boigny decidiu fazer da sua cidade natal, Yamoussoukro, a capital da Costa do Marfim. Construiu avenidas imponentes, uma enorme igreja, vários edifícios e um aeroporto. Tanto a cidade como o Aeroporto Internacional de Yamoussoukro acabaram por cair na insignificância. Hoje em dia, o aeroporto está praticamente abandonado.
Foto: Getty Images/AFP/L. Bonaventure
Perdido na selva
Também Mobuto Sese Seko, ex-Presidente da RDC, se instalou com toda a pompa e circunstância na sua cidade natal, Gbadolite, com três palácios e edifícios representativos. Há também um aeroporto, rodeado por floresta tropical. Não há indústria nem turismo nas redondezas e a capital, Kinshasa, fica a 1400 quilómetros. Mobutu e a mulher gostavam de voar de Gbadolite para Paris – num Concorde alugado.
Foto: Getty Images/AFP/J. Wessels
O ditador com a sua própria pista de aterragem
Mobutu foi também recebido pelo ditador da vizinha República Centro-Africana, Jean-Bedel Bokassa (segundo à direita). Na residência de Bokassa, a cerca de 80 quilómetros de distância, havia também uma pista de aterragem para passageiros. Há muito que Bokassa morreu e a sua pista desintegra-se – tal como os seus palácios.
Foto: Getty Images/AFP/OFF
Boas-vindas a um convidado alemão
Mesmo antes de se tornar um aeroporto internacional - a mando do antigo Presidente Daniel Arap Moi - o aeródromo de Eldoret, no centro-oeste do Quénia, recebia o chanceler Helmut Kohl, em 1987. Eldoret é o centro económico dos Kalenjin – o grupo étnico do Presidente Moi. Apesar do nome, o aeroporto serve apenas para voos domésticos.
Foto: Imago Images/D. Bauer
O aeroporto inviável do ex-Presidente da Nigéria
O ex-Presidente da Nigéria, Umaru Yar'Adua, também converteu o aeroporto da sua cidade natal, Katsina, em aeroporto internacional durante o seu mandato (2007-2010). Mas o projeto preferido do antigo Presidente, que morreu em 2010, não é rentável. O Governo está a ponderar a entrada da autoridade aeronáutica nacional na equipa de gestão do aeroporto de Katsina.
Foto: Getty Images/AFP/P. Utomi Ekpei
Rumo a Chato?
A companhia aérea tanzaniana Precision Air poderá voar em breve para Chato, cidade natal do Presidente John Magufuli. O chefe de Estado quer expandir este aeroporto para impulsionar o turismo. Mas uma comissão parlamentar apela à renovação das infraestruturas já existentes em vez de novos projetos. Apenas 5 dos 58 aeroportos e pistas de aterragem do país contribuem para o PIB, dizem os deputados.