Tanzânia quer indemnizações da Alemanha por crimes coloniais
Martina Schwikowski
10 de fevereiro de 2017
Dezenas de milhares de pessoas foram torturadas e mortas quando a Alemanha governou o território conhecido como Tanganica, atual Tanzânia, de 1890 a 1919.
Publicidade
"Queremos uma compensação", afirmou o ministro da Defesa tanzaniano, Hussein Mwinyi. Este não é o primeiro processo legal contra a Alemanha pelo seu passado colonial.
"A Tanzânia segue o exemplo de outros países africanos, como Quénia e Namíbia, que solicitaram compensação às suas antigas potências coloniais. Esperamos conseguir negociar com o Governo alemão", acrescentou o ministro.
No Sudoeste Africano Alemão, pesquisadores tentavam provar que as raças africanas eram inferiores às europeias, levando em navios milhares de crânios das zonas coloniais até ao então império.
Em novembro do ano passado, jornalistas alemães encontraram, no depósito central da Fundação Património Cultural Prussiano, 1.003 crânios da região da atual Ruanda e 60 da Tanzânia.
Historiadores estimam que até 300 mil pessoas foram mortas durante a rebelião do Maji Maji, no sul da Tanzânia, entre 1905 e 1907. Colonizadores alemães também queimaram campos dos agricultores, o que levou milhares de pessoas a morrer de fome. Foi um "ato de genocídio", disse o legislador tanzaniano à agência de notícias alemã DPA.
O deputado alemão pelo partido A Esquerda, Niema Movassat, considera que "o reconhecimento do genocídio de hereros e namas na Namíbia e a questão da compensação encorajou o Governo da Tanzânia a seguir com suas pretensões". Mas "a quantidade de vítimas na Tanzânia é ainda maior", acrescenta Niema Movassat.
Em janeiro, a Alemanha decidiu que irá pagar indemnizações à Namíbia pela morte de 65 mil pessoas durante a ocupação colonial, num episódio considerado o primeiro genocídio do século XX.
Uma responsabilidade moral
O parlamentar critica a falta de debate sobre a responsabilidade da Alemanha pelo extermínio provocado nas suas ex-colónias. Não há nenhum memorial que recorde os crimes e pouco é esclarecido sobre o assunto nas escolas.
10.02.17 Tanzânia pede compensação à Alemanha - MP3-Mono
Apesar de a história colonial alemã não ser bem conhecida, cresce a atenção sobre a questão por parte dos países africanos.
O deputado Niema Movassat defende que há "uma obrigação moral e histórica para a Alemanha pagar compensações". Agora, "se existe uma obrigação legal, os historiadores terão de decidir", acrescenta o parlamentar do partido A Esquerda.
Em 2013, o governo britânico aceitou indemnizar cerca de cinco mil quenianos, 60 anos depois da violenta repressão à insurgência Mau Mau contra as autoridades coloniais. Quase 10 mil pessoas foram mortas e milhares detidas entre 1952 e 1960.
Racista e cruel, a história colonial da Alemanha
A exposição no Museu Histórico Alemão, em Berlim, é a primeira grande exibição que explora os capítulos do domínio colonial da Alemanha. Uma história da ambição falhada de uma superpotência.
Foto: public domain
A cara do colonialismo
Com o chanceler Otto von Bismarck, o Império Colonial Alemão estabeleceu-se nos territórios da atual Namíbia, Camarões, Togo e em algumas partes da Tanzânia e do Quénia. O imperador Guilherme II, coroado em 1888, tentou expandir os domínios coloniais. O imperador alemão queria um "lugar ao sol", como disse mais tarde, em 1897, o chanceler Bernhard von Bülow.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DW
Colónias alemãs
Foram conquistados territórios no Pacífico (Nova Guiné, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Marshall e Salomão e Samoa) e na China (Tsingtao). A Conferência de Bruxelas em 1890 determinou que o imperador germânico iria obter os reinos do Ruanda e Burundi, ligando-os à África Oriental Alemã. No final do século XIX, as conquistas coloniais alemãs estavam praticamente completas.
Foto: picture-alliance / akg-images
Um sistema de desigualdades
A população branca nas colónias era uma minoria, raramente representava mais de 1% da população. Uma minoria privilegiada, contudo. Em 1914, cerca de 25 mil alemães viviam nas colónias, menos de metade no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia). Os 13 milhões de nativos das colónias alemãs eram vistos como subordinados, sem recurso ao sistema legal.
Foto: picture-alliance/dpa/arkivi
O primeiro genocídio do século XX
O genocídio contra os povos Herero e Nama no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia) é o mais grave crime na história colonial da Alemanha. Durante a Batalha de Waterberg, em 1904, a maioria dos rebeldes Herero fugiram para o deserto, onde as tropas alemãs bloquearam sistematicamente o acesso à água. Estima-se que morreram mais de 60 mil Hereros.
Foto: public domain
A culpa alemã
Apenas cerca de 16 mil Hereros sobreviveram ao extermínio. Foram depois detidos em campos de concentração, onde muitos acabaram por falecer. O número exato de vítimas continua por apurar e é ponto de controvérsia. Quanto tempo terão sobrevivido os Hereros depois de fugirem para o deserto? Eles perderam todos os seus bens, os seus meios de subsistência e as perspetivas de futuro.
Foto: public domain
Reformas em 1907
Depois das guerras coloniais, a administração das colónias alemãs foi reestruturada com o objetivo de melhorar as condições de vida. Bernhard Dernburg, um empreendedor de sucesso (na imagem, transportado na África Oriental Alemã), foi nomeado secretário de Estado dos Assuntos Coloniais em 1907 e introduziu reformas nas políticas coloniais da Alemanha.
Foto: picture alliance/akg-images
A ciência e as colónias
Com as reformas de Dernburg foram criadas instituições científicas e técnicas para lidarem com assuntos coloniais. Assim estabeleceram-se faculdades nas atuais universidades de Hamburgo e Kassel. Em 1906, Robert Koch dirigiu uma longa expedição à África Oriental para investigar a transmissão da doença do sono. A imagem demonstra amostras coletadas nessa expedição.
Foto: Deutsches Historisches Museum/T. Bruns
Uma das maiores guerras coloniais
De 1905 a 1907, uma ampla aliança de grupos étnicos rebelaram-se contra o poder na África Oriental Alemã. Cerca de 100 mil locais morreram na Revolta de Maji-Maji. Apesar de raramente discutido, este continua a ser um importante capítulo da história da Tanzânia.
Foto: Downluke
A perda das colónias
Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha assinou o tratado de paz de Versalhes, em 1919, que previa que o país renunciava a soberania sobre as colónias. Cartazes como este demonstram o medo dos alemães de, como consequência, perderem poder económico e viverem na pobreza e na miséria no seu país.
Foto: DW/J. Hitz
Ambições coloniais do "Terceiro Reich"
As aspirações coloniais voltaram a surgir com o nazismo e não apenas em relação à colonização da Europa Central e Oriental, através do genocídio e limpeza étnica. O regime nazi pretendia também recuperar as colónias perdidas em África, como demonstra este mapa escolar de 1938. Os territórios eram vistos como fonte de recursos para a Alemanha.
Foto: DW/J. Hitz
Processo espinhoso
As negociações para uma declaração conjunta do genocídio dos povos Herero e Nama entraram numa fase difícil. Enquanto a Alemanha trava quanto a compensações financeiras, há também deficiências nas estruturas políticas internas da Namíbia. Representantes Herero apresentaram, recentemente, uma queixa à ONU contra a sua exclusão nas negociações em curso.