Tanzânia retira-se do Pacto Global para os Refugiados
Lusa
10 de fevereiro de 2018
O Presidente da Tanzânia, John Magufuli, anunciou que o seu país se retirará do Pacto Global para os Refugiados, que prevê soluções duradouras para os refugiados, incluindo a integração nas comunidades de acolhimento.
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"A Tanzânia decidiu retirar-se por razões de segurança e de falta de fundos", afirmou a presidência do país, em comunicado divulgado ao final da noite de sexta-feira (09.02).
Em janeiro, a Tanzânia informou o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) que estava a suspender a concessão da cidadania a alguns refugiados do Burundi e que desencorajaria novos pedidos de asilo.
A Tanzânia tem sido considerada um refúgio seguro para os refugiados do Burundi e da República Democrática do Congo.
De acordo com o jornal oficial do Governo da Tanzânia Daily News, Magufuli culpa a comunidade internacional por não ter desbloqueado os fundos prometidos para ajudar a Tanzânia a assegurar a integração de refugiados.
O Pacto Global para os Refugiados visa a integração dos refugiados nas comunidades de acolhimento. A ideia é que, quando os refugiados têm acesso à educação e ao direito de trabalhar legalmente, podem desenvolver as suas competências e ser mais autónomos, contribuindo para a economia local.
Paraíso natural da Tanzânia em perigo
Selous, na Tanzânia, é a maior reserva natural de África e é Património Mundial da UNESCO há 35 anos, mas está em perigo. O Governo planeia extrair urânio e construir uma barragem. Os ambientalistas fazem soar o alarme.
Foto: WWF Deutschland/Astrid Dill
Natureza pura
A "Reserva de Caça de Selous" é uma das maiores reservas naturais do mundo e a maior em África. São 50.000 quilómetros quadrados de estepe e savana que abrangem várias regiões do sudeste da Tanzânia. A diversidade de animais que aqui vivem é tão grande quanto a reserva em si: hipopótamos, elefantes, girafas, búfalos, leões, crocodilos, chitas, antílopes e mais de 400 espécies de aves.
Foto: WWF Deutschland/Astrid Dill
Passado colonial
A reserva foi criada em 1896 pelo poder colonial alemão. Depois de a administração ser transferida para o Reino Unido, a reserva foi aumentada e batizada de "Selous", em memória de Frederick Selous, um oficial britânico e caçador, que morreu durante a I Guerra Mundial e foi enterrado no parque. Em 1982, a UNESCO declarou a reserva como Património Mundial devido à sua fauna e flora únicas.
Foto: Imago/BE&W
Património em perigo
Mas a UNESCO e várias organizações ambientalistas estão preocupadas. Há três anos que a reserva está na "lista vermelha" dos Patrimónios Mundiais ameaçados, apesar dos protestos do Governo tanzaniano.
Foto: WWF Deutschland/Astrid Dill
Barragem no meio da reserva
O rio Rufiji é um órgão vital da reserva de Selous. O rio serpenteia ao longo de 600 quilómetros e desagua a sul de Dar es Salaam no Oceano Índico. Futuramente, o rio deverá ser usado para produzir energia elétrica, um bem precioso na Tanzânia. O Presidente John Magufuli anunciou recentemente a construção "tão depressa quanto possível" de uma barragem planeada há décadas.
Foto: WWF Deutschland/Michael Poliza
Área enorme submersa
"Seria um duro golpe contra a Natureza", critica a organização ambientalista WWF. De acordo com o projeto, a barragem deverá ter 130 metros de altura e 700 metros de largura. Centenas de quilómetros de quadrados da reserva ficarão debaixo de água numa área superior à das cidades de Bissau, Luanda e Maputo em conjunto.
Foto: WWF Deutschland/Greg Armfield
"Industrialização da Natureza"
A barragem trará inevitavelmente consigo a construção de estradas, áreas industriais e zonas habitacionais para os trabalhadores - no meio da reserva. A WWF teme uma "destruição da natureza intocada e de um dos habitats mais importantes para muitas espécies ameaçadas". A barragem também será motivo de preocupação para o Governo alemão.
Foto: WWF Deutschland/Michael Poliza
18 milhões de euros da Alemanha
Um dia antes do anúncio de Magufuli sobre a construção da barragem no meio da reserva de Selous, o Governo da Tanzânia e o embaixador alemão no país assinaram um "Programa para a Conservação e Desenvolvimento de Selous". O objetivo: Proteger a reserva e mantê-la como Património Mundial da UNESCO. A Alemanha disponibilizou 18 milhões de euros para o projeto.
Foto: Getty Images/MCT/A. Anderson
Extração de urânio no sul
Alvos de críticas são também as concessões da Governo tanzaniano para pesquisar as reservas de petróleo e gás, além de uma mina de urânio na zona sul de Selous. O material radioativo deverá ser separado da rocha a montante do rio Rufiji. Já começaram as primeiras perfurações. A WWF alerta que água contaminada poderá penetrar no solo e misturar-se nos lençóis de água subterrâneos.
Foto: imago/CHROMORANGE
Caça furtiva sob controlo?
O Governo tanzaniano não quer saber das críticas. Aponta, em vez disso, para os sucessos na luta contra a caça furtiva. De facto, a população de elefantes cresceu em Selous. Em tempos, já foram mais de 100 mil, mas, entre 1982 e 2014, o número baixou cerca de 90%.
A caça comercial é autorizada em Selous e é uma fonte de receitas para a reserva e muitos dos 1,2 milhões de habitantes que, tal como estas crianças, vivem na área protegida. Ainda assim, esta reserva atrai bastante menos turistas do que o Parque Nacional de Serengeti, apesar de ser três vezes maior.