TAP não tem previsão para retomar voos para Bissau
20 de fevereiro de 2014 A Transportes Aéreos de Portugal (TAP) suspenderam as operações regulares para a Guiné-Bissau em finais de dezembro em reação a alegada falta de segurança de sua tripulação na capital guineense, verificada no epísódio conhecido como "caso dos sírios".
O incidente aconteceu no dia 10 de Dezembro passado, quando uma tripulação da empresa foi forçada a embarcar 74 passageiros que pretendiam chegar à Europa por Lisboa, com documentação falsa. Passados mais de dois meses, a TAP mantém a decisão de não voar para Bissau.
As alternativas para os passageiros que saem da Europa tem sido chegar a capital guineense via Dakar (Senegal) ou fazer escala em Casablanca, utilizando os serviços da marroquina Air Maroc.
O voo da Air Maroc com destino à Casablanca parte de Lisboa às 13h40. O check-in começa às 11h00 para despacho das bagagens. A DW África esteve no Aeroporto da Portela, em Lisboa, para acompanhar o que mudou apósa a decisão polémica da TAP.
Transtornos
Conforme os funcionários da Air Maroc, as operações têm decorrido com normalidade. Embora os bilhetes sejam relativamente mais baratos, comparados com os preços praticados pelos TAP, as alternativas à decisão da companhia portuguesa em suspender os voos para Bissau não são bem acolhidas pelos passageiros.
"Nós imigrantes estamos a sofrer muito. Queremos ir para o nosso país, mas não podemos ir [em voo] direto. Temos que ir para outras zonas, o que não é necessário. Temos que passar sacrifícios, dormir na rua", conta. Graciete Qatar Madi, que agora vive no Luxemburgo
Ela foi visitar a família em Bissau e esperou algumas horas em Casablanca, no Marrocos, para apanhar o voo para Portugal. "Eu passei nove horas a espera. Foi muito cansativo. Na ida, foi a mesma coisa."
Quem opta por viajar pela TAP até Dakar, capital do Senegal, enfrenta o mesmo problema. Conforme o comerciante guineense Soulemane Darame, a decisão da companhia aérea portuguesa tem afetado os negócios porque os voos diretos para Bissau, que duravam apenas cerca de quatro horas, eram menos onerosos.
Passageiros abandonados
Segundo Darame, em Dakar, cabe ao passageiro, por conta própria, encontrar o melhor meio de transporte para chegar a Bissau. Ele prefere os voos via Marrocos porque seria menor o risco de perder as mercadorias que recebe todas as semanas. O comerciante importa produtos oriundos da Guiné-Bissau e de países vizinhos para Portugal.
A reportagem da DW África ouviu um passageiro guineense, que pediu anonimato, que revelou casos de passageiros que compraram bilhetes em Bissau e foram obrigados pela TAP a fazer a viagem de regresso por Dakar. A fonte ressaltou que há bagagens que se perderam no voo da TAP para Dakar em finais de dezembro, que ainda não apareceram.
"A companhia portuguesa não poderia prejudicar os passageiros que já pagaram os respetivos bilhetes por culpa do que aconteceu com os sírios em Bissau", disse a fonte que pediu anonimato para a reportagem da DW África.
Negócios prejudicados
O empresário português, Álvaro Rosa, é outro dos passageiros que julga estar a ser prejudicado pela medida da TAP.
Ele vai pesquisar o mercado guineense para investir. Tal como defende Soulemane Darame, Rosa considera correta a posição da TAP por razões de segurança, mas pede o reatamento dos voos diretos.
"Todos nós, os imigrantes e os residentes na Guiné estão a sofrer muito com isso. Portanto, era bom que se entendessem e que retomassem os voos", defende o empresário português.
De um modo geral, os guineenses dizem ser eles os mais penalizados. O sentimento é partilhado pelo primeiro-ministro deposto da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, exilado em Portugal, que já pediu às autoridades portuguesas para ponderarem a situação.
"São situações inadmissíveis em um Estado em pleno Século 21. As autoridades portuguesas conhecem-nos bem e queremos ver quais são as garantias para tentar ultrapassar com responsabilidade este impasse que não nos serve de nada a ninguém", disse o ex-primeiro-ministro.
Sem segurança
Contactado pela DW, a administração da TAP reafirma a decisão de manter os voos suspensos por razões que já explicou em comunicado oficial, apoiado pelo Governo português. A empresa disse por E-mail que não há condições de segurança para realizar voos Lisboa-Bissau.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, afirmou recentemente que o Governo português fará "esforços" para que sejam retomadas as ligações aéreas com a Guiné-Bissau "em prol" dos guineenses e dos portugueses.
Mais de dois meses após o incidente, ainda ninguém foi responsabilizado na Guiné-Bissau, apesar de um inquérito ter concluído que o ministro do Interior, Suka Ntchama, deu a ordem de embarque forçado.
Observadores atentos consideram que a única linha que liga Bissau ao continente europeu só será retomada após as eleições, quando a normalidade constitucional e democrática for reposta.