Três anos depois de ter suspenso as ligações à capital guineense devido a um incidente que envolveu mais de meia centena de passageiros sírios ilegais, a Transportadora Aérea Portuguesa (TAP) volta a voar para Bissau.
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Sauani Sané está de malas feitas para embarcar esta noite (01.12.) com destino à Bissau, no voo da Transportadora Aérea Portuguesa (TAP).
"Vou porque gosto de andar na TAP. Acho que a TAP é muito mais segura do que qualquer outra companhia. A TAP suspendeu a viagem para a Guiné-Bissau e a maior parte de nós sentiu falta.”
O imigrante guineense, a viver em Portugal há quatro anos, vai sobretudo para visitar a família. "Há muito tempo que não fui lá, já há mais de quatro anos. E vou muito feliz. Peço muito para que a viagem corra bem e possa lá chegar bem e encontrar a família”.
Sané é um dos passageiros que viajam no aparelho da TAP, depois do Governo português ter autorizado o regresso da companhia de bandeira nacional à Guiné-Bissau. Alguns guineenses abordados pela DW África aplaudem a decisão.
Para Miguel da Silva "é muito melhor, mais rápido e eficaz. Não tem tanta trajetória de ir até o Marrocos e só depois ir até a Guiné-Bissau. Era muito complicado. Com a TAP é melhor, é direto”.
Já Antonieta Gomes afirma que o voo "até [acontece] de certa forma tardia, mas de qualquer forma também digo é na hora certa. Porque a suspensão do voo para a Guiné-Bissau penalizou muitos guineenses, e não só esses. Portugueses e todos quantos desejam fazer voo para a Guiné-Bissau diretamente e vice-versa para Portugal.
Voos suspensos desde dezembro de 2013
Os voos foram suspensos em dezembro de 2013, na sequência do embarque forçado pelas autoridades guineenses de 74 sírios em situação ilegal. O incidente aconteceu no aeroporto de Bissau num voo para Lisboa. Na altura, a TAP considerou que só retomaria as três ligações semanais depois das autoridades da Guiné-Bissau garantirem medidas de segurança no aeroporto local.
O administrador executivo da transportadora portuguesa, Fernando Pinto, disse à DW África que tem garantias para a retoma dos voos "e que teríamos toda a segurança, enfim, que situações daquele tipo não teriam a menor chance de voltar a acontecer. Nós acreditamos no país e queremos participar do seu desenvolvimento também".
É uma aposta bem ponderada, diz Fernando Pinto, apesar das mudanças de governação que se têm registado nos últimos anos na Guiné-Bissau.
"Por enquanto, sim, é essa a ideia. Nós queremos operar lá como fazíamos anteriormente, focado na Guiné-Bissau”.
O administrador brasileiro não adianta mais pormenores, admitindo que no futuro a companhia portuguesa possa realizar operações a pensar no mercado regional da África Ocidental.
01.12.16 novo TAP/Bissau - MP3-Mono
Bairro de imigrantes africanos demolido em Lisboa
O 6 de Maio, de génese ilegal, começou a ser construído na década de 1970 na Amadora, na periferia da capital portuguesa. Autarquia diz que demolições são de casas devolutas, antes habitadas por famílias já realojadas.
Foto: DW/João Carlos
Tudo começou nos anos 70
O Bairro 6 de Maio teve na sua génese barracas improvisadas erguidas nos anos 70, com a chegada dos retornados e dos imigrantes oriundos de países africanos de língua portuguesa. É um dos bairros degradados da Amadora, na periferia de Lisboa, que os seus habitantes não querem que se chame "problemático".
Foto: DW/João Carlos
No gueto às portas de Lisboa
O bairro fica a poucas centenas de metros da estação de comboio da Damaia, perto das Portas de Benfica, que confluia com o já extinto Estrela de África. É um dos aglomerados degradados do município em fase de iminente demolição. Os seus habitantes, na sua maioria cabo-verdianos e guineenses, fazem questão de o classificar como gueto nos dizeres e graffitis que preenchem as paredes.
Foto: DW/João Carlos
Viver em comunidade
Entrando na intimidade do lugar sente-se o pulsar quotidiano das gentes que vieram de África há cerca de quatro décadas e das que já nasceram em Portugal. Muitas delas, sem emprego e em situação de debilidade financeira, assumem que conquistaram o direito de viver no bairro, de preferência em comunidade. Reclamam por uma casa digna para as respetivas famílias.
Foto: DW/João Carlos
Conviver com a insalubridade
O bairro 6 de Maio é o que tem os piores indicadores de surto de doenças no concelho. A autarquia da Amadora diz estar atenta aos vários problemas de saúde pública ali existentes. Mesmo sob o fantasma da demolição, os próprios residentes já promoveram uma Feira da Saúde a favor de um bairro saudável, limpo e acolhedor.
Foto: João Carlos
A angústia de Justina
Justina Ramos, 54 anos, veio para aqui morar em 1999, na casa que lhe deixou a irmã, emigrada em França. A habitação acabou depois por ser derrubada por falta de condições. Dependente de 280 euros da reforma, teve de alugar um quarto por 200 euros para não dormir na rua. Sem outra alternativa, fez um apelo à autarquia. Vive angustiada porque não sabe se terá ou não direito a realojamento.
Foto: DW/João Carlos
As incertezas de Carlos
Aqui nasceu há 39 anos, tal como os dois filhos que ainda dependem dele. É outro dos afetados pelo plano de demolição. Carlos Fortes está inconformado com o facto de o seu filho de 18 anos não ser admitido no processo entregue na Câmara Municipal. Vive na incerteza, à espera de uma solução e da próxima carta em resposta à sua reclamação.
Foto: DW/João Carlos
“Trançar” a beleza de portas abertas
Enquanto não cairem as paredes da casa onde vivem desde que nasceram, Paula (sentada) e Sandra (de pé) mantêm as portas abertas à clientela que queira fazer tranças. Uma fonte de rendimento para a família. Aos fins de semana, a afluência é maior por parte de jovens, adultos e crianças que recorrem ao salão improvisado. São elas que arranjam o cabelo às meninas antes do início da semana de aulas.
Foto: DW/J. Carlos
Improvisos
Cada espaço é aproveitado como cada um entende, conforme impõem as necessidades de sobrevivência. Quem não tem uma máquina elétrica para secar a roupa improvisa um cordel como se faz nos quintais em África, aproveitando os benefícios da energia solar.
Foto: DW/J. Carlos
Homenagem a Musso
Os habitantes deram o nome de "Largo Too Sexy" a esta espécie de praceta, centro dos principais eventos e de convívio como a "festa de 6 de Maio", que este ano não se realizou. O mural em graffiti representa a homenagem dos habitantes do bairro a Musso, jovem de 16 anos de idade morto numa intervenção policial, em 2013.
Foto: DW/J. Carlos
Espaço cultural: a marca do bairro
Este é um dos rostos e uma das portas de entrada para o bairro, igualmente ponto de concentração e de encontro com amigos e visitantes. Aqui ainda nascem ideias e projetos de utilidade para os residentes, aparentemente pouco preocupados com a demolição que decorre há já dois anos. Aberto de segunda a sexta-feira, alberga atividades culturais diversas, muitas delas organizadas pelo Centro Social.
Foto: DW/J. Carlos
Baralhar as cartas
O estabelecimento de Helena, ao lado do Espaço Cultural – uma sui generis combinação de bar, café e mercearia –, é outro lugar partilhado pelos jovens, tanto para ver partidas de futebol europeu, como os jogos da Liga ou da Taça portuguesas. O animado jogo de cartas acaba por ser também um motivo para atração de potenciais clientes. O negócio vai de vento em pompa, sobretudo no final do mês.
Foto: DW/J. Carlos
Equipamento social em risco
Central é o trabalho comunitário prestado à população pelo Centro Social, dirigido pela irmã Deolinda. A instituição, gerida pelas Missionárias Dominicanas do Rosário, acolhe crianças da creche e do pré-escolar, na sua maioria de origem africana. O futuro é ainda uma incógnita, diz a irmã Deolinda, que aguarda por uma decisão da presidente da Câmara Amadora sobre o destino do Centro.