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CulturaAlemanha

Teatro Lusotaque celebra o centenário de José Saramago

Nelson Camuto (São Paulo)
8 de junho de 2022

O grupo de teatro Lusotaque celebra o centenário de José Saramago. A peça "Terminal Saramago" reflete a diversidade de estilos do escritor português e convida o público a conhecer algumas obras do Nobel da Literatura.

Teatro Lusotaque | "Terminal Saramago”
Foto: Inês Cardoso/DW

Este ano celebra-se o centenário de José Saramago, um dos maiores escritores da língua portuguesa, vencedor do prémio Nobel da Literatura 1998.

O Lusotaque, grupo de teatro em português, de Colónia, na Alemanha, decidiu prestar a sua homenagem ao autor através do espetáculo "Terminal Saramago". A peça dirigida por Alexandra Marinho reflete a diversidade de estilos de José Saramago e convida o público a conhecer algumas das suas obras.

Um homem está de pé diante de uma mulher que limpa o chão do castelo do rei, só com um balde de metal e um pano. O homem veio pedir um barco para concretizar o sonho de encontrar uma ilha desconhecida. A mulher diz-lhe que o rei não o vai receber. Mas o homem, determinado, decide que não vai sair dali enquanto não conseguir o que quer. Ao fim de três dias, o rei dá-lhe um barco, mas sem marinheiros. Já a mulher da limpeza, farta do trabalho no castelo, resolve acompanhá-lo.

É assim que começa "Terminal Saramago", a mais recente produção do grupo de teatro Lusotaque.

Cena I - O Impossível: "É preciso sair da ilha, para ver ilha"Foto: Inês Cardoso/DW

Saramago na divulgação da cultura lusófona

Alexandra Marinho relembra a importância do escritor na divulgação da cultura lusófona. "O Saramago tem uma importância enorme na cultura, não só portuguesa, como mundialmente. Principalmente nas últimas obras que ele escreveu. Eu acredito que ele teve um impacto muito grande na divulgação da cultura portuguesa ao redor do mundo inteiro", diz.

A peça apresenta excertos de diferentes obras do escritor, como "O Conto da Ilha Desconhecida", "A Noite",  "A maior flor do mundo", "Ensaio sobre a Cegueira" e "Levantado do Chão". A política, a religião, a linguagem e a autorreflexão dividem o palco com trechos de entrevistas de José Saramago, onde o autor reflete sobre esses temas.

Teatro Lusotaque celebra o centenário de José Saramago

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Saramago é o nome de uma planta que cresce na região onde o escritor nasceu. O pseudónimo remete às suas origens, comprovando "a influência que as raízes têm na vida do ser humano". Assim o diz Alexandra Marinho, que relembra o principal objetivo do Lusotaque: "divulgar a lusofonia, cultura nativa de muitos dos elementos do grupo, através do teatro".  

"Existem alguns componentes do grupo que não fazem parte da universidade e que querem se aproximar da cultura ou querem estar perto porque pertencem a essa cultura", acrescenta.

O grupo de teatro Lusotaque foi fundado em 2006 por iniciativa de Beatriz Medeiros. No início era essencialmente composto por estudantes da Universidade de Colónia. Hoje, acolhe participantes de várias regiões da Alemanha com diferentes níveis de português.

No final da peça "Terminal Saramago", os onze atores cantam a música de Chico Buarque, "Levantados do Chão".  Empunhando cartazes, alertam para as 450 mil famílias que fazem parte do Movimento Sem Terra, no Brasil, que foi criado com o objetivo de redistribuir os campos agrícolas por quem os trabalha.

Na cena veem-se também fotos de Sebastião Salgado e ouvem-se palavras de Saramago, palavras vivas, que não ficam presas nos livros.

Cena II - Humanismo: "Há uma revolução. Alguém sabe de que revolução se trata?"Foto: Inês Cardoso/DW

Teatro virtual

Nos últimos dois anos, período do pico da pandemia de Covid-19, o Lusotaque continou a apresentar os seus trabalhos mas em formato virtual. Entre eles estão as peças "Revoluções Tropicalistas" (2020) e "Pindorama" (2021). O grupo acarretou perto de mil (tele)espetadores de mais de 15 países na sua plateia-zoom.

Gabriel Frey, ator no Lusotaque, acredita que o teatro virtual fortaleceu o grupo. "O virtual permitiu que continuássemos a trabalhar num período em que as pessoas estavam isoladas. Para além disso, permitiu que pessoas que estavam noutros países também pudessem participar. Isso foi ótimo para o grupo. Apesar de não estarmos fisicamente juntos, pudemos seguir com essa vontade de trabalhar com a cultura lusófona", conclui.

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