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Teatro

Descolonizar pensamentos sobre colonização através do teatro

13 de outubro de 2017

Peça de teatro “Libertação” sobre a guerra de descolonização em palco português. Criada pelo ator e encenador André Amálio, narra episódios sobre as guerras de libertação em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

Uma cena da peça de teatro "Liberdade"Foto: B. Simao

A peça "Libertação” estreia esta sexta-feira (13.10.) no Teatro Maria Matos em Lisboa. A descolonização dos territórios outrora colónias portuguesas em África terminou há pouco mais de 40 anos, depois do fim das chamadas guerras coloniais.

Para Lucília Raimundo, atriz nascida em Moçambique e que cresceu em Portugal, esse passado era desconhecido: "O meu conhecimento também vem dos meus pais. Na verdade tinha muito pouco conhecimento e tenho vindo a surpreender-me em relação à falta de consciência, minha própria, e mesmo da minha mãe em Moçambique. E, então, a memória que eu tenho é a que me é transmitida por essa via. Nós, para transmitir a história, também tivemos que aprender muito sobre ela."

Ela faz parte da jovem geração do pós-independência, que não viveu aquele período traumático da guerra colonial e da luta de libertação, descrito nesta peça de teatro documental, feita a partir de vários testemunhos.

André Amálio, encenador Foto: DW/J. Carlos

História silenciada em Portugal

O espetáculo faz parte de uma trilogia – "Portugal não é um País pequeno”, "Passa-porte” e "Libertação” – e resulta de um trabalho de investigação realizado durante quatro anos por André Amálio, que dirige a companhia Hotel Europa.

Segundo ele, "em todo o ciclo quisemos, de facto, abordá-lo porque achamos que esta história está silenciada [em Portugal]. É uma história que os portugueses ainda não se sentem à vontade em discutir. Portanto, quisemos fazer todo o ciclo e achamos que era ideal terminar com a parte mais traumática desta história, que tem a ver com as guerras."

"São histórias vividas pelos nossos pais, pelos nossos tios ou pelos nossos avós mas que nunca nos foi transmitida. Ou foi transmitida muito em surdina. As pessoas não sabem de facto o que aconteceu", afirma Amálio.

13.10.17 Teatro Libertacao estreia em Lisboa - MP3-Mono

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Para além disso, acrescenta, "há ainda toda a mistificação à volta do colonialismo português, a narrativa do bom colonizador que era diferente dos outros europeus. Para nós é importante desconstruir, desmistificar [a história] e mostrar que, de facto, Portugal errou como todos os outros povos colonizadores e que temos que viver com isso e debater isso de forma natural. Não estarmos a esconder isso e a criar mitos que não correspondem àquilo que aconteceu."

Saber a verdade

E em que medida uma peça de teatro pode quebrar os tabus que ainda existem em Portugal sobre as guerras coloniais? O encenador responde: "Obviamente, acho que nós sozinhos não conseguimos. Mas, na verdade, nos antigos países que tiveram impérios coloniais há um movimento internacional – e em Portugal há um movimento bastante forte – que quer descolonizar o seu pensamento e a sua história; movimentos que exigem que os nossos livros de História não continuem a contar apenas os grandes acontecimentos e uma versão eurocêntrica daquilo que aconteceu."

Nelson Martins e Lucília Raimundo, atores angolano e moçambicana, respetivamenteFoto: DW/J. Carlos

E Amálio justifica: "Porque achamos que já não precisamos de ter apenas um relato desses grandes acontecimentos, mas queremos saber a verdade. Não queremos uma história branqueada. Queremos saber, de facto, aquilo que aconteceu."

"Nós lutamos precisamente para que essa parte da história de Portugal seja reescrita", disse ainda André Amálio. O encenador esclarece que a intenção também é fazer parte de um movimento: "Não somos os únicos. Há muita gente em Portugal a fazer esse trabalho, nas artes plásticas, no cinema, no teatro, nas universidades. Há um movimento pós-colonial português bastante forte e nós estamos aqui a fazer parte desse movimento."

A investigação de André Amálio, enriquecida com vários testemunhos, faz parte de um programa de doutoramento que realiza na Inglaterra, o qual inclui a criação artística. Dela faz parte esta trilogia que o elenco gostaria de levar a exibir também nos países africanos que viveram a guerra colonial.

 

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