Na Alemanha o Governo pode cair por causa da crise migratória e na UE já há tensões por causa do tema. Angela Merkel encara nesta quinta-feira (28.06.) o Conselho Europeu, depois de ter enfrentado o Parlamento alemão.
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Angela Merkel falou nesta quinta-feira (28.06.) no Bundestag, o Parlamento alemão, sobre vários temas controversos. O que mais desencadeou acesos debates foi a migração ilegal.
Este assunto já causou um momento de grande tensão na união entre a CDU, a União Democrata Cristã, de Angela Merkel e a sua ala bávara CSU, a União Social Cristã, na semana passada. A tensão coloca em risco a coligação governamental.
No seu discurso, a chanceler alemã esclareceu alguns pontos: "Muitas pessoas dizem que não existirá uma solução europeia, que já se aguarda por isso há mais de três anos e eu quero aproveitar a oportunidade aqui para dizer que não é verdade. Todos na Europa concordam que a migração ilegal precisa de ser reduzida e que é preciso acabar com o negócio dos traficantes."
Tensões na União Europeia
A tentativa de Merkel de ganhar confiança dos alemães acontece no dia em que o tema migração também começa a ser discutido no Conselho Europeu. Entretanto, ao nível dos 28 as tensões entre os membros aumentam. A chanceler alemã considera que "muitas coisas estão em jogo" sobre a questão da migração.
Nas últimas semanas crises diplomáticas aconteceram a volta dos barcos de organizações não-governamentais que transportam migrantes. Mas o ponto mais controverso deste dossier tem a ver com o local do pedido de asilo dos migrantes.
Angela Merkel tranquilizou os parlamentares em relação a isso: "Duas coisas têm de ser respeitadas - primeiro, um requerente de asilo que procura asilo na Europa não pode escolher o país onde quer viver e fazer o pedido de asilo. E segundo, nós não podemos deixar os países onde chegam os requerentes de asilo completamente sozinhos."
A chanceler alemã pediu a criação de uma" coligação de voluntários "entre os membros da União Europeia para concluir acordos que permitam o retorno dos migrantes ao primeiro país onde foram registados. E ao nível nacional parece que a chanceler conseguiu acalmar os ânimos de alguns com o seu discurso, pelo menos por ora.
Itália ameaça com veto
O primeiro-ministro de Itália ameaçou nesta quinta-feira (28.06.) votar contra as conclusões da cimeira se a Itália não ver satisfeitos os seus pedidos. Giuseppe Conte referiu que "a Itália elaborou uma proposta considerada razoável, porque está completamente alinhada com o espírito e os princípios fundados na UE".
O governante conta ainda o seguinte: "Nos encontros que tive com dirigentes de outros países membros, percebi as muitas manifestações de solidariedade. Esperamos que essas palavras se traduzam em ações", insistiu. Giuseppe Conte acentuou que "a Itália não precisa de sinais verbais, mas sim de factos concretos".
Tema migração ao rubro na Europa
Reagindo a essa posição, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou não estar preocupado quanto a um hipotético veto de Itália a um acordo sobre imigração." Mas Junker diz que está preocupado com a situação na costa de Itália, por isso acha que se deve mostrar solidariedade.
Apoio do SPD
A líder do SPD, partido com assento parlamentar, Andrea Nahles, reagiu positivamente: "O SPD apoia-a, Angela Merkel, na procura de soluções ao nível europeu. E também apoia o ministro do Interior a implementar os planos acordados conjuntamente a nível nacional."
Mas a ala direita da frágil coligação governamental, a CSU, exige que medidas concretas sobre o assunto sejam decididas em Bruxelas. Caso contrário, o ministro alemão do Interior, Horst Seehofer, presidente do partido conservador, a CSU, ameaça unilateralmente afastar a partir da próxima semana imigrantes já registados noutros lugares. Isso poderia por fim a coligação governamental e desencadear a novas eleições na Alemanha.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.