Mesmo que José Eduardo dos Santos se afaste do poder em Angola, os "Revús" prometem continuar a lutar contra o regime. Os últimos anos de governação de JES foram marcados por onda de contestações públicas.
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Desde março de 2011 que a governação do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, há 37 anos no poder, é marcada por uma onda de manifestações inspiradas na "primavera árabe". Os protestos, entretanto reprimidos pela policia angolana, visavam a destituição do Chefe do Estado Angolano. O que contribui para o desgaste da sua imagem no contexto internacional.
Depois de tantos protestos, Eduardo dos Santos mostra que quer deixar o Palácio Presidencial pelo próprio pé.
Será que o "Movimento Revolucionário” de Angola vai continuar a sua luta contra o regime após a saída de José Eduardo dos Santos?"
Governo de transição com pessoas sérias
O ativista Nito Alves, processado criminalmente em 2013 por calúnia e difamação contra o Presidente da República, responde:"Tirar o MPLA por completo e criar um Governo de transição com pessoas sérias”.Um outro ativista do chamado processo 15+2, Arante Kivuvu, garante que a luta é para continuar.
"A nossa luta não era só focada na pessoa de Eduardo dos Santos, a nossa luta foi sempre contra o MPLA, porque o MPLA é que está há mais de 40 anos no poder, gastou tudo que podia nos oferecer. Acho que a nossa luta não pára”.
Questionado sobre se o "Movimento Revolucionário” angolano teria capacidade de derrubar o Movimento Popular de Libertação de Angola, Nito Alves é perentório:"Dure o tempo que durar, tarde ou cedo vai deixar mesmo o poder”.
Processo eleitoral pouco transparente
A transparência do processo eleitoral em curso em Angola está ser colocada em causa. O tom de dúvidas sobre eleições justas acentuou-se ainda mais com a indicação de Bornito de Sousa, ministro angolano da Administração do Território, como candidato à vice-presidente da República na lista do MPLA. O seu ministério é responsável pelo registo eleitoral, iniciado em agosto de 2016.
Além da oposição angolana, também os "Revús” querem ver o governante fora do ministério. Bornito de Sousa já disse que "não há incompatibilidades legais e constitucionais” com a sua indicação.Mas os ativistas têm um entendimento diferente, sublinha Arante Kivuvu.
07.02.2017 'Révus' - Luta continua - MP3-Mono
"Nós pretendemos realizar uma manifestação que visa demitir Bornito de Sousa do cargo de ministro da Administração do Território”.
Os ativistas convocaram uma manifestação, para dia 24 de fevereiro, nas cidades de Luanda e Benguela. Exigem a saída de Bronito de Sousa do Ministério da Administração do Território.
Julgamento dos 15+2 em imagens
Foi um julgamento envolto em polémica. 17 ativistas angolanos foram condenados a entre 2 e 8 anos de prisão por atos preparatórios de rebelião. Os críticos falam em "farsa judicial". Veja aqui momentos-chave do processo.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Kumm
Julgamento polémico
Os 15+2 ativistas angolanos, acusados de atos preparatórios de rebelião, foram condenados a entre 2 e 8 anos de prisão efetiva. A defesa e ativistas de direitos humanos denunciam que o processo foi marcado por várias irregularidades. O julgamento começou logo com protestos, a 16 de novembro. Um ativista escreveu na farda prisional "Recluso do Zédu". Observadores internacionais ficaram à porta.
Foto: DW/P.B. Ndomba
#LiberdadeJa
Antes e durante o julgamento, foram muitos os pedidos de "liberdade já!" para os ativistas angolanos. Essas foram também as palavras de ordem de uma campanha nas redes sociais pela libertação dos jovens a que se associaram músicos, escritores, ativistas e muitos outros cidadãos de dentro e fora de Angola.
Foto: Reuters/H. Corarado
"Justiça sem pressão"
Fora do tribunal, um grupo de manifestantes jurou acompanhar o julgamento dos 15+2 até ao fim. Vestiram-se a rigor com t-shirts brancas de apoio ao sistema judicial angolano, com os dizeres "Justiça sem Pressão" - "Estamos aqui a favor da Justiça, visto que Angola é um Estado soberano e que os tribunais têm o seu papel, com o qual nós estamos solidários", disse um dos manifestantes.
Foto: DW/P. Borralho
Irregularidades no processo
Em dezembro, os ativistas enviaram uma carta ao Presidente angolano onde apontavam irregularidades no processo. Os jovens queixavam-se, por exemplo, das demoras, da falta de acesso ao processo por parte da defesa antes do início do julgamento e da impossibilidade de manter contato visual com a procuradora Isabel Nicolau (na foto). Eram ainda denunciados casos de agressão física e psicológica.
Foto: Ampe Rogério/Rede Angola
Dois dias a ler o livro de Domingo da Cruz
"Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura". É este o título do livro escrito pelo ativista Domingos da Cruz, inspirado no livro "Da Ditadura à Democracia", do pacifista norte-americano Gene Sharp. Segundo a acusação, era este o manual dos ativistas para preparar uma rebelião. O livro foi lido na íntegra durante dois dias no Tribunal de Luanda.
Foto: DW/Nelson Sul D´Angola
"Governo de Salvação Nacional" é "embuste"
Dezenas de personalidades angolanas integram uma lista, divulgada online, de um "Governo de Salvação Nacional". Esse seria um Executivo que assumiria o poder em Angola após a rebelião pensada pelos ativistas, segundo a acusação. Vários declarantes faltaram à chamada e várias sessões tiveram de ser adiadas. Um dos declarantes, Carlos Rosado de Carvalho, disse que o suposto Governo era um "embuste".
Foto: DW/P. Borralho
Prisão domiciliária
A 18 de dezembro, 15 ativistas, detidos desde junho, passaram ao regime de prisão domiciliária. Laurinda Gouveia e Rosa Conde permaneceram em liberdade condicional. O tribunal autorizou os detidos a receber visitas de familiares e amigos. No entanto, não foi permitido qualquer contato com membros do "Movimento Revolucionário" e do "Governo de Salvação Nacional".
Foto: DW/P. Borralho Ndomba
"Este julgamento é uma palhaçada"
Numa das sessões do julgamento, os ativistas levaram vestidas t-shirts com autocaricaturas como palhaços. Nito Alves disse em tribunal que o julgamento era uma palhaçada. Foi julgado sumariamente por injúria e condenado a 6 meses de prisão efetiva. Ativistas alertam que o estado de saúde de Nito Alves é grave e que Nito foi transportado numa maca para o tribunal de Luanda para ouvir a sentença.
Foto: Central Angola 7311
Nuno Dala em greve de fome
Como forma de reinvindicar o acesso a contas bancárias e entrega de pertences, Nuno Dala entrou em greve de fome a 10 de março. Gertrudes Dala, irmã do ativista, lamentou a reação da sociedade civil e a defesa alertou para a situação financeiramente "delicada" da família. Outros ativistas também passaram por dificuldades durante a prisão domiciliária.
Foto: DW/P.B. Ndomba
Ativistas são condenados
O tribunal de Luanda condenou, a 28 de março, os 17 ativistas angolanos. Domingos da Cruz, tido como "líder", deverá cumprir 8 anos e 6 meses de prisão efetiva. Luaty Beirão foi condenado a 5 anos e 6 meses. Rosa Conde e Benedito Jeremias foram condenados a 2 anos e 3 meses de prisão. Os restantes foram condenados a 4 anos e 6 meses. A defesa e o Ministério Público vão recorrer da decisão.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Juliao
"Dia triste para a liberdade de expressão"
"Este é um dia muito triste para a liberdade de expressão e de associação", disse Ana Monteiro, da Amnistia Internacional, reagindo às sentenças. "Não deveria ter existido sequer um julgamento. Estamos a falar de cidadãos angolanos que estavam reunidos a falar sobre liberdade e democracia". Zenaida Machado, investigadora da HRW, considerou a condenação ridícula.