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Tempo extremo em África

Glynis Crook
5 de outubro de 2018

No continente africano aumenta a frequência de secas, cheias e tempestades. Com tanta gente dependente da pequena agricultura para sobreviver, os resultados podem ser devastadores e o futuro aparece como incerto.

Sudan Bauer mit Mohrenhirse in Bulbul Dalal Angara, Nyala, Süd-Darfur

A farmer is harvesting sorghum plants from seeds donated by the FAO (Food & Agriculture Organization) in Bulbul Dalal Angara region of Nyala, Southern Darfur, 1980 km west of Khartoum. British sci
Foto: picture-alliance/Photoshot/Lightroom Photos/F. Noy

Secas no Corno de África, cheias no leste do continente, derrocadas na Serra Leoa, neve em zonas de elevada altitude no deserto do Sará: as notícias sobre fenómenos climáticos extremos em África são cada vez mais frequentes.

Peter Johnston, climatologista do Grupo de Análise do Sistema Climático da Universidade da Cidade do Cabo na África do Sul (CSAG), diz que conquanto não seja possível concluir uma alteração do clima a partir do registo de fenómenos individuais, não há dúvida que está a emergir um padrão revelador. "A verdade é que o planeta está a aquecer, o que tem consequências para o clima. Contamos com mais tempo extremo. O que é um sinal para a alteração climática”, disse Johnston à DW. "Não podemos dizer que este ou aquele extremo é causado pela alteração do clima. Mas o aumento da frequência destes padrões de tempo extremo é um resultado da mudança do clima”, acrescentou.

Uma das razões pelas quais a África é particularmente vulnerável a estas alterações, é a dependência de cerca de 70% da população da agricultura de subsistência. O consultor agrícola sul-africano Kobus Hartman diz que muitos dos agricultores com os quais trabalha estão preocupados com a imprevisibilidade do tempo.

Ameaça à segurança alimentar

Secas no Corno d África são uma ameaça constante para a populaçãoFoto: picture-alliance/AP Photo/E. Meseret

"Um agricultor no norte, perto da Namíbia, disse-me que não viu chuva que merecesse o nome nos últimos sete anos”, disse Hartman à DW. "A área é bastante seca, mas não chover tantos anos é um fenómeno extremo. E começa a ser típico: temos anos com grandes cheias, e outros sem chuva nenhuma”, acrescentou.

O nigeriano Chidiebere Ofoegbu da Iniciativa Africana de Desenvolvimento e Clima da Universidade da Cidade do Cabo, especializado em administração ambiental e mudança do clima, explica os perigos para os africanos que dependem da agricultura de subsistência: "Significa que a mudança do clima tem maior impacto no bem estar das pessoas e o seu estatuto sócio económico”, disse. "De modo que uma pequena alteração, por exemplo, chuva, pode levar ao fracasso da colheita para muitas pessoas, aumentando a pobreza”, acrescentou.

A segurança alimentar é a grande questão futura, tanto mais que muitos governos não têm dinheiro para importar alimento em quantidade suficiente para as populações quando as colheitas falham. Johnston afirma que as temperaturas elevadas são uma ameaça, sobretudo, para o rendimento das colheitas. O SCAG aconselha os agricultores a diversificarem, por exemplo, plantando legumes que resistem à canícula e à seca.

No leste do continente aumenta a frequência das cheiasFoto: DW/S. Khamis

Riscos para os centros urbanos

Ofoegbu diz que os agricultores têm que aprender práticas agrícolas adaptadas ao clima. Alguns métodos tradicionais tendem a agravar a situação, reduzindo, por exemplo, a qualidade do clima. Organizações da sociedade civil em África já começaram a educar as pessoas. Mas segundo o cientista nigeriano, os governos têm que assumir maior responsabilidade neste âmbito, para capacitar os agricultores a gerirem as suas terras e o meio ambiente.

Há outras preocupações para além da possibilidade de colheitas falhadas. Mau planeamento, desenvolvimento sem controle, problemas de drenagem e a falta de infraestruturas também tornam as cidades africanas vulneráveis a cheias e temperaturas extremas.

Johnston diz que as cheias podem causar sérios problemas de saúde por causa da falta de saneamento em muitas cidades. "Sabemos que a mudança de clima tem um impacto sobre o alastramento da malária e outras doenças”, disse o especialista à DW. "Também sabemos que as doenças se vão tornar mais voláteis e alastrar-se ainda mais por causa do aumento da temperatura e da queda da chuva”.

A alteração do clima pode exacerbar a escassez de água potávelFoto: Getty Images/AFP/M. Abdiwahab

Diversificação para aumentar a resiliência

Stephanie Midgley, professora e pesquisadora na Universidade sul-africana de Stellenbosch, defende que os países africanos devem diversificar as suas economias, incluindo dentro do sector agrícola, para aumentar a resistência à mudança do clima. "Países que têm indústrias ou recursos naturais estão obviamente melhor equipados para se adaptar às mudanças”, disse à DW. "Mas países que têm muito pouca diversificação e estão quase completamente dependentes da agricultura não conseguem absorver os choques”.

Os especialistas concordam que a vulnerabilidade africana não se deve apenas à dependência da agricultura, mas também à falta de capacidade de muitas comunidades e responder à mudança do clima e as suas consequências. Mas aumentar a resiliência é crucial para um desenvolvimento sustentável, afirmam. O diretor do CSAG e climatologista Bruce Hewitson diz que não conseguir manter o aquecimento global abaixo de dois graus centígrados causaria problemas enormes, incluindo falta de água e perturbações em cidades costeiras e sistemas agrícolas. O que resultará num aumento da emigração.

"E tudo isto, claro, impede o desenvolvimento”, disse Hewitson à DW. "Constatamos um aumento dos fatores negativos que impedem a África de avançar. O que tem um efeito no bem estar das sociedades. Se não tomarmos rapidamente as providências necessárias, a segurança de todos vai diminuir no futuro próximo”.

 

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