Tempestade tropical deverá atingir hoje norte de Moçambique
Lusa
24 de janeiro de 2022
A tempestade tropical Ana deverá atingir esta segunda-feira (24.01) o norte de Moçambique com chuva intensa e rajadas de vento de 120 quilómetros por hora, segundo as últimas previsões.
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A primeira depressão atmosférica da época ciclónica do sudoeste do oceano Índico está a intensificar-se desde domingo, "devendo atingir o grau mínimo de forte tempestade tropical até atingir a costa, a meio do dia, na zona de Angoche", segundo o centro meteorológico da ilha de Reunião.
Aquele distrito costeiro faz parte da província nortenha de Nampula, a mais povoada de Moçambique.
"Preveem-se chuvas intensas nas regiões a norte da cidade da Beira e posteriormente no sul do Maláui", detalha-se no boletim do centro de previsões francês especializado no acompanhamento de baixa pressões atmosféricas.
Inundações podem afetar milhares de pessoas
A Cruz Vermelha Internacional lançou na sexta-feira (21.01) um alerta para o risco de a intempérie, acompanhada por inundações, poder afetar entre 25 a 300 mil pessoas.
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As previsões meteorológicas do centro da ilha de Reunião afastam para já os piores cenários, prevendo que a tempestade tropical não chegue a ser um ciclone ao chegar a terra - altura em que as zonas de baixas pressões atmosféricas usualmente perdem força e começam a dissipar-se.
Há, no entanto, o risco de as chuvas intensas se prolongarem por toda a semana no norte e centro de Moçambique.
Época ciclónica mais calma
Apesar do cenário adverso que se prevê a partir de hoje, a atual época ciclónica (de outubro a abril) continua mais calma que a anterior.
Há um ano, Moçambique já tinha sido atingido pela tempestade tropical severa Chalane e pelo ciclone Eloise, com um balanço oficial total de 19 mortos, mas com relatos de autoridades locais a apontar para o dobro, só naquelas duas intempéries.
Na atual época de tempestades, pelo menos 14 pessoas morreram e outras 53.269 foram afetadas por desastres naturais, segundo o mais recente relatório do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) de Moçambique.
Chuva em Nampula: Um rasto de destruição
Casas destruídas, estradas esburacadas e um ano letivo em risco: o mau tempo que se faz sentir há um ano na província de Nampula, norte de Moçambique, continua a fazer estragos.
Foto: DW/S. Lutxeque
Muitos estragos, poucos apoios
As chuvas que se fazem sentir desde dezembro do ano passado em Nampula estão a causar enormes estragos. Vários edifícios, entre residências e salas de aulas, ficaram destruídos. Há também estradas e pontes degradadas. Os apoios aos residentes são quase inexistentes. E o início do ano letivo poderá estar comprometido em várias escolas da cidade e província.
Foto: DW/S. Lutxeque
Edifícios não resistem à força da chuva
Desde dezembro de 2018, o número de casas destruídas na sequência do mau tempo tem vindo a aumentar. Até ao momento, as autoridades de gestão de calamidades ainda não divulgaram números concretos. No terreno, no entanto, constata-se que só na cidade de Nampula milhares de casas cederam perante a força da chuva.
Foto: DW/S. Lutxeque
Ano letivo comprometido
O início das aulas está marcado para 1 de fevereiro, mas o arranque do ano letivo poderá estar comprometido em diferentes distritos da província mais populosa de Moçambique, na sequência da destruição de algumas salas de aulas, sobretudo os telhados. Só na Escola Primária da Cerâmica, na cidade de Nampula, sete salas de aulas estão sem telhados devido a um vendaval que arrastou a cobertura.
Foto: DW/S. Lutxeque
Erosão ameaça destruir mais casas
Ainda chove na província de Nampula. A força das águas já está a provocar a erosão dos solos. Devido a este fenómeno, muitas moradias estão em risco de desabar: as paredes já estão a ruir.
Foto: DW/S. Lutxeque
Como chegar ao hospital?
O acesso ao Hospital Geral de Marrere, o segundo maior da província, está ameaçado. A ponte sobre o rio Muepelume, infraestrutura que dá acesso à unidade sanitária, está a ser corroída pelas chuvas e deixa os utentes preocupados. "Se as chuvas continuarem e o Governo não fizer uma intervenção, estaremos isolados do hospital", disse o cidadão André Kupula, à DW África.
Foto: DW/S. Lutxeque
Chuva pode isolar bairros
O rio Naphuta separa as unidades residenciais de Piloto e Muthita (à esquerda e à direita na foto, respectivamente). Com as chuvas intensas, um ponto pode, definitivamente, ficar isolado do outro, uma vez que não existe nenhuma infraestrutura a unir as duas regiões. Os moradores pedem que as autoridades municipais criem soluções, construindo uma ponte ou aqueduto, para evitar que o pior aconteça.
Foto: DW/S. Lutxeque
Lixo e pedras contra o mau tempo
Para se defenderem das chuvas, algumas famílias no bairro de Mutauanha decidiram entulhar as estradas e canais da corrente de água das chuvas com pedras e lixo. Mesmo assim, o perigo continua eminente. Se o mau tempo prevalecer, muitas casas poderão ceder.
Foto: DW/S. Lutxeque
A força dos sacos de areia
As famílias vão procurando alternativas para contornar os estragos do mau tempo e desafiar a corrente das chuvas. À entrada de muitas moradias vêem-se sacos de areia empilhados como uma espécie de "muralha" para travar a chegada das águas ao interior das casas e quintais.
Foto: DW/S. Lutxeque
Buracos nas estradas
Além das zonas residenciais, as intempéries afetam também o centro e as principais ruas da terceira cidade moçambicana. Muitas estradas e ruas estão esburacadas, mas as autoridades municipais afirmam que nada podem fazer, por enquanto, estando a aguardar o abrandamento das chuvas. Entretanto, os buracos vão ferindo a beleza da cidade, dizem os residentes.
Foto: DW/S. Lutxeque
Melhorar acessos "a medo"
Enquanto a chuva continua a cair, as estradas vão sofrendo as consequências. As vias das zonas periféricas são as mais afetadas. Ainda assim, a edilidade já começa os trabalhos de reparação, ainda que de forma "tímida". Uma das estradas em causa é a que liga a cidade ao bairro de Marrere, a zona em expansão mais concorrida dos arredores, devido às boas infraestruturas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Trabalho infantil em alta
Com a queda das chuvas, as obras de reparação surgem um pouco por toda a província. E a construção civil gera um aumento do trabalho infantil, com muitas crianças a fazer o transporte de areia para venda nos locais das empreitadas. Jeremias, de 10 anos, trabalha para conseguir comprar material escolar: "Não tenho pasta nem cadernos". Precisa de juntar 400 meticais (cerca de cinco euros e meio).
Foto: DW/S. Lutxeque
Oportunidade para fazer dinheiro
A procura de blocos melhorados para a construção de moradias tem aumentado nas últimas semanas. Entre as consequências das chuvas, há quem encontre oportunidades de negócio. Na zona da Faina, um grupo produz e vende blocos de cimento: "Ultimamente, o negócio está a caminhar bem", diz um dos trabalhadores. "É normal, por dia, conseguir entre 2 mil e 5 mil meticais (entre 29 e 70 euros)".