Tempestades e secas ameaçam campanha agrícola moçambicana
Lusa
4 de abril de 2022
A produção agrícola em Moçambique deverá cair na atual campanha em relação a anos anteriores devido às condições meteorológicas adversas, de acordo com o último relatório da rede de vigilância humanitária.
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"No geral, a produção nacional deverá ser inferior à do ano passado e ficar abaixo da média de cinco anos, após os múltiplos choques ao longo da campanha agrícola", lê-se no documento da Rede de Alerta Antecipado de Fome (rede Fews, sigla inglesa) que auxilia operações humanitárias.
A maior parte do sul de Moçambique, incluindo partes das províncias de Sofala e Manica, "terá, provavelmente, colheitas bem abaixo da média devido a chuvas reduzidas e períodos de seca prolongados", refere o relatório, que prevê o alastrar de situações de crise alimentar na região.
As áreas baixas das províncias de Nampula, Zambézia e Sofala também perderam colheitas devido às cheias, mas "a plantação após o período de inundações é possível se os agregados familiares tiverem acesso a sementes de ciclo curto".
Culturas de resiliência à seca em Moçambique
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Próxima colheita
Espera-se que a próxima colheita esteja próxima da média "nas áreas de maior produção de Moçambique, incluindo o norte de Tete, os planaltos de Sofala, Manica e Zambézia, grande parte do Niassa, e o interior de Nampula e Cabo Delgado".
Na zona costeira de Cabo Delgado permanece a crise alimentar provocada pela insurgência armada, que obrigou cerca de 800.000 pessoas procurarem outras paragens, enquanto nas zonas urbanas, apesar do levantamento de restrições associadas à covid-19, há dificuldades económicas por causa da subida de preço dos combustíveis.
A rede prevê ainda que o início da colheita "seja adiado por um mês na maior parte de Moçambique, exceto na província de Maputo, onde a colheita principal já começou".
"O atraso na colheita provavelmente prolongará a época de escassez e impedirá que os preços dos alimentos caiam sazonalmente", conclui.
Em Moçambique, mais de 2,9 milhões de pessoas enfrentam risco alimentar severo e a desnutrição grave afeta quase metade das crianças com menos de cinco anos de idade, segundo dados do Programa Alimentar Mundial (PAM).
Agricultura urbana em Maputo: um modelo a ser seguido
A atividade de horticultura na cintura verde da capital moçambicana garante a subsistência de milhares de pessoas. O cultivo de hortícolas, como beterraba, couve e espinafre, é um propulsor da economia local.
Foto: DW/R. da Silva
Cintura verde
O vale do Infulene é a principal cintura verde da capital moçambicana. A produção de hortícolas é intensa com os agricultores a aproveitar a baixa do rio Milauze, que separa as cidades de Maputo e Matola e a zona da Costa do Sol. A agricultura urbana é praticada por milhares de pessoas. Abnério Matusse, de 26 anos, consegue, assim, alimentar os seus dois filhos.
Foto: DW/R. da Silva
No meio da cidade
O modelo de agricultura urbana de Maputo é semelhante ao implementado em Havana devido à Revolução Cubana. As cinturas verdes na capital cubana foram fundamentais para a população sobreviver ao isolamento na guerra civil. Em Maputo e arredores, mais de dez mil agricultores de pequena escala promovem a agricultura dentro da cidade.
Foto: DW/R. da Silva
Terras férteis
A cintura verde do vale do Infulene é a zona de agricultura urbana mais extensa. Os pequenos agricultores aproveitam a fertilidade dos solos para juntarem a produção à beleza. Os jovens que aqui trabalham criaram uma paisagem agrícola para atrair mais clientes.
Foto: DW/R. da Silva
No quintal de casa
Nas zonas onde a terra é bastante fértil, as famílias aproveitam os espaços nos seus quintais para reduzir a dependência dos mercados. Dessa maneira, não gastam dinheiro, senão pouco apenas para a compra de mudas.
Foto: DW/R. da Silva
Banquinha
Famílias de baixa renda preferem ir comprar verduras e vendê-las em banquinhas em frente às suas casas. Os principais clientes são os vizinhos, que reduzem assim as distâncias para os mercados. Os canteiros de beterrabas, couve-acelga, cenouras, espinafres e muitas outras hortícolas servem como base para a alimentação da população de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Mercados
Perto da praia da Costa do Sol, existe também uma cintura verde que permite a produção de hortícolas para os mercados suburbanos de Maputo. Daqui, saem produtos para o maior mercado informal de Maputo, o mercado de Xikelene, na Praça dos Combatentes.
Foto: DW/R. da Silva
Couve, a preferida
Nestes canteiros na cintura da Costa do Sol, a couve é das mais procuradas hortaliças. Por isso, os agricultores sempre as colocam à disposição dos seus clientes.
Foto: DW/R. da Silva
Subsistência de famílias
Muitas famílias dedicam-se à pratica da agricultura urbana para sobreviver. Por se tratar de produtos da época, os vendedores afirmam que são muitos os clientes que compram para o consumo de vários tipos de saladas.
Foto: DW/R. da Silva
Nas escolas
A prática da agricultura já é uma realidade nas escolas. As autoridades educacionais introduziram a disciplina de agropecuária, e o resultado é visível. Muitos alunos dedicam-se a esta prática. Com a orientação de seu professor, cada um abre o seu canteiro.
Foto: DW/R. da Silva
Vendedores locais
Senhoras como dona Helena tem o seu próprio canteiro. A cidadã colhe quantidade suficiente para vender. Dependendo da adesão dos clientes, ela garante que regressa ao canteiro para buscar mais hortaliças.
Foto: DW/R. da Silva
Água para a rega
Mesmo no tempo seco, a água está sempre disponível. Os produtores abrem pequenas valas para canalizar água que chegue para todos. É uma fonte que não seca, por isso, mesmo no tempo de muito calor, as hortícolas são sempre vendidas.
Foto: DW/R. da Silva
Pressão
Na zona da Costa do Sol, há muita produção, mas há também muita pressão dos grandes burgueses em Maputo que compram espaços a fim de construir casas luxuosas. Há algumas pessoas que acabaram deixando de praticar a agricultura para ceder o espaço aos endinheirados.