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"Tenho muitas dúvidas que se consiga avançar alguma coisa"

14 de dezembro de 2024

Eugénio Costa Almeida, investigador do ISCTE, considera que a ronda de conversações entre o Ruanda e a RDC, mediada por Angola, que acontecerá este domingo (15.12), vai negligenciar a importância dos grupos rebeldes.

Eugénio Costa Almeida, professor do ISCTE, numa foto de arquivo
Eugénio Costa Almeida: "É preciso haver uma reunião entre Kinshasa e os grupos armados que existem dentro do RDC e tentar chegar a um acordo"Foto: DW/João Carlos

Os Presidentes do Ruanda, Paul Kagame, e da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi, vão reunir-se em Angola para uma nova ronda de conversações para tentar pôr fim ao conflito no leste da RDC.

No início de agosto, Angola mediou uma frágil trégua que estabilizou a situação na linha da frente, mas ambas as partes continuaram a troca de tiros, e os confrontos intensificaram-se desde o final de outubro.

O Presidente angolano, João Lourenço, nomeado pela União Africana (UA) como mediador do conflito, manifestou na quinta-feira (12.12) a esperança de que a cimeira de Luanda possa conduzir a um acordo de paz.

Mas Eugénio Costa Almeida, investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE, em Lisboa, tem dúvidas sobre a efetividade das conclusões que o encontro poderá produzir.

DW África: A cimeira de Luanda está condenada ao fracasso por não convidar os diferentes grupos rebeldes e organizações da sociedade que atuam nas regiões afetadas pelo conflito?

Eugénio Costa Almeida (ECA): Por muito que os dirigentes políticos principais, Presidentes dos países em causa, estejam disponíveis para trabalhar pela paz, os diferentes grupos que pululam o leste da RDC, mas também dentro do próprio Ruanda, Burundi e Uganda, [também deveriam estar envolvidos e isso] leva-nos a que possamos ter algumas dúvidas de que a situação vá adiante.

Rebeldes do movimento M23 patrulham Kilumba, no leste da República Democrática do CongoFoto: Moses Sawasawa/AP Photo/picture alliance

DW África: Diz isso porque é preciso envolver estes grupos também nas negociações, não só os líderes e Presidente?

ECA: Exatamente. No último acordo que houve, o M23 [movimento rebelde] disse logo que não tinha sido chamado – o que não era bem verdade – e que por isso não ia desistir da luta.

DW África: Qual seria uma outra solução para resolver este conflito?

ECA: Na minha opinião, é preciso haver uma reunião entre Kinshasa e os grupos armados que existem dentro do RDC e tentar chegar a um acordo. A partir do momento em que haja esse acordo e que seja efetivo, será mais fácil chegar a um acordo também ao nível dos líderes – um acordo mais bem cimentado. Enquanto essa situação não ocorrer, tenho muitas dúvidas que se consiga avançar alguma coisa. É certo que Luanda, e o Presidente Joao Lourenço em particular, quer levar isso por adiante, porque a partir de fevereiro Angola passa a presidir à União Africana e, portanto, quer começar com alguma coisa.

DW África: Ouvimos na quinta-feira (12.12) o Presidente de Angola, João Lourenço, a instar a África do Sul a encontrar uma solução regional para a crise de instabilidade preocupante que afeta Moçambique. Porque é que João Lourenço fez isso?

ECA: África do Sul é que tem, neste momento, melhor hipótese de ter alguma intervenção, não só por ser a potência efetiva da região austral, e porque tem fronteiras diretas, mas também por ser um país de influência em Moçambique. Angola vai ter algumas dificuldades de poder intervir ou pelo menos de ajudar, porque o poder em Luanda é um poder muito próximo do poder em Maputo. O MPLA e a FRELIMO são partidos irmãos. Angola foi o primeiro e o único país a reconhecer Daniel Chapo e a FRELIMO como vencedores das eleições, ainda antes do Conselho Constitucional. O CNE já o disse, mas o Conselho Constitucional ainda não o confirmou.

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