Polícia impede aglomerações no Cazenga e detém jovens
António Cascais (em Luanda) | DW (Deutsche Welle) | Lusa
29 de agosto de 2022
No município do Cazenga, em Luanda, onde deveria realizar-se uma conferência de imprensa de jovens que contestam resultados eleitorais, a Polícia ocupou o espaço e impediu aglomerações e até a presença de jornalistas.
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Um dispositivo policial de cerca de duas dezenas de elementos concentrou-se esta segunda-feira junto do local onde estava agendada uma conferência de imprensa de ativistas para contestar os resultados eleitorais de 24 de agosto.
Membros do movimento Sociedade Civil Contestatária pretendiam apresentar a sua posição sobre "desenvolvimentos do processo eleitoral e a detenção de ativistas", na sequência das eleições gerais. Mas a polícia ocupou o espaço e impediu aglomerações e até a presença de jornalistas.
"O tom no contacto com os jornalistas foi agressivo e ameaçador. Dizem ter indicação para impedir qualquer manifestação", relata o o enviado especial da DW a Luanda. "Obrigaram a comunicação social presente a sair do local", acrescenta António Cascais.
Em entrevista à DW, Aléxia Gamito, representante da sociedade civil, descreve o ambiente que se vive em Angola, no dia em que a CNE "valida" os resultados finais do escrutínio.
Manifestantes detidos
Há informações de que foram detidos 36 jovens que pretendiam participar em manifestações. Vão a julgamento sumário esta segunda-feira.
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A organização não-governamental angolana Friends of Angola (FoA) exigiu hoje a "libertação incondicional dos cidadãos e cidadãs detidos ilegalmente quando exerciam um direito constitucional de reunião e manifestação pacífica" logo após as eleições.
Numa carta aberta dirigida ao Presidente angolano, João Lourenço, a FOA diz ter recebido "com grande preocupação" notícias sobre as "mais recentes agressões e detenções de manifestantes registadas em Angola, nas províncias do Uíge, Benguela, Huíla, Huambo, Moxico e Zaire, horas depois do enceramento do voto no passado dia 24 de agosto de 2022", de acordo com o texto, assinado pelo diretor executivo da FoA, Florindo Chivucute.
As "violações" da Constituição angolana e dos direitos humanos "por agentes do Estado", alerta ainda a ONG, estão a ter como "efeito, obviamente propositado, a deterioração com recurso ao terror da estabilidade política e social que, como consequência, pode nalgum momento resultar numa indesejável turbulência generalizada".
Angola: Movimento Mudei faz contagem paralela em Luanda
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Clima de tensão em Angola
O ambiente em Luanda é tenso. A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Angola aprovou a ata do resultado final das eleições de 24 de agosto, numa reunião que decorreu esta madrugada. Ainda hoje deverá ter lugar na sede da CNE uma conferência de imprensa.
Dos 11.153 votos reclamados, 7.925 foram considerados válidos. Destes, foram atribuídos 4.360 ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e 2.935 à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), com os restantes a serem distribuídos pelos outros partidos.
Segundo dados divulgados anteriormente pela CNE, quando estavam escrutinados 97,03% dos votos das eleições realizadas na passada quarta-feira (24.08), o MPLA, no poder desde 1975, obtivera 3.162.801 votos, menos um milhão de boletins escrutinados do que em 2017, quando obteve 4.115.302 votos.
Já a UNITA registara uma grande subida, elegendo deputados em 17 das 18 províncias e obtendo uma vitória histórica em Luanda, a maior província do país, conseguindo até então 2.727.885 votos, enquanto em 2017 obtivera 1.800.860 boletins favoráveis.
A UNITA contestou na sexta-feira (26.08) uma possível vitória do MPLA, indicando que estava a desenvolver uma contagem de votos paralela, com base nas atas síntese provenientes das 18 províncias do país. O líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior (ACJ), pediu uma comissão internacional para comparar as atas eleitorais na posse do partido com as da CNE.
Angola: As eleições em imagens
Esta quarta-feira é dia de Angola decidir quem será o próximo Presidente e os deputados da Assembleia Nacional. A DW compilou as imagens desta manhã de eleições, no dia em que 14 milhões de angolanos vão às urnas.
Foto: Adolfo Guerra/DW
Longas filas no dia de decidir
As mesas de voto só abriram às 07h00, mas as filas para votar nas eleições mais disputadas de sempre em Angola começaram a formar-se bem cedo. Cabe aos eleitores decidir se "a força do povo" continua do lado do MPLA, mantendo no poder o partido que governa o país desde a independência, ou se dizem "sim" ao apelo de mudança da oposição liderada pela UNITA.
Foto: John Wessels/AFP
Oito partidos na corrida
Além dos rivais Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), concorrem Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Partido de Renovação Social (PRS), Aliança Patriótica Nacional (APN), Partido Nacionalista para a Justiça (P-NJANGO), Partido Humanista de Angola e a coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE).
Foto: António Cascais/DW
Madrugar para votar
Aos 79 anos, Adélia Namalange exerce hoje o seu direito de voto pela quinta vez. A idosa chegou às 5h00 à assembleia de voto número 9658, no município do Lobito, em Benguela, e esperou duas horas pela abertura das urnas, no dia que 14 milhões de angolanos decidem o futuro político do país.
Foto: Daniel Vasconcelos/DW
João Lourenço apela ao voto: "É Angola que ganha"
"Acabámos de exercer o nosso direito de voto, é rápido e é simples", disse João Lourenço, na assembleia de voto n.º 105, em Luanda, convidando os eleitores a fazerem o mesmo. No meio de uma enorme confusão de jornalistas que queriam registar o momento, o candidato do MPLA salientou que todos saem a ganhar: "É a democracia que ganha, é Angola que ganha."
Foto: AP Photo/picture alliance
Adalberto Costa Júnior critica processo
O líder da UNITA votou no bairro 28 de Agosto, em Luanda, onde foi fortemente aplaudido pelos eleitores presentes. "Fiquei satisfeito e votei no meio do meu povo e constatei que a votação está a ser feita sem cadernos eleitorais aos fiscais, apenas um caderno eleitoral na mesa", afirmou Adalberto Costa Júnior, que defendeu mais uma vez a afixação dos resultados nas assembleias de voto.
Foto: John Wessels/AFP
Manuel Fernandes "plenamente" confiante na vitória
Manuel Fernandes, o candidato da coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), votou esta manhã no Bairro Militar, em Talatona, Luanda. Depois de votar, manifestou "plena confiança" no resultado eleitoral do atual terceiro partido com mais assentos no parlamento angolano.
Foto: Borralho Ndomba/DW
"Grande expetativa" de Nimi Ya Simbi é ganhar eleições
Nimi Ya Simbi, candidato da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), votou em Viana, um dos mais populosos municípios de Luanda. Minutos depois, Nimi disse que a sua "grande expetativa é ganhar as eleições." O líder da FNLA acredita que o seu partido "vai vencer" as eleições, "porque quem vai para o combate não vai para perder", tendo enaltecido o cumprimento do seu dever cívico.
Foto: Nelson Francisco Sul/DW
Benedito Daniel exorta à afixação das atas
O candidato do Partido de Renovação Social (PRS) exerceu o seu direito de voto no Instituto Superior Politécnico do Bita, em Luanda. Após votar, Benedito Daniel manifestou um "sentimento de alegria e de dever cumprido", exortando à afixação das atas sínteses nas assembleias. Disse também esperar que a CNE possa corresponder às expetativas dos eleitores.
Foto: DW/M. Luamba
Bela Malaquias insite em "humanizar" Angola
A líder do Partido Humanista de Angola (PHA), Florbela Malaquias, manifestou um "sentimento de realização" após votar e reiterou a promessa de humanizar Angola, "que se encontra completamente desumanizada em todos os sentidos", sublinhou a única mulher a liderar um partido político em Angola, depois de votar no bairro do Maculusso, distrito urbano da Ingombota, em Luanda.
Quintino Moreira, líder da Aliança Patriótica Nacional (APN), sem assento no Parlamento angolano, manifestou-se "otimista" em relação à obtenção de uma "bancada parlamentar vasta", para que não haja maiorias absolutas na "casa das leis", afirmou esta manhã, depois de depositar o seu voto numa assembleia de voto, em Talatona, perto da capital angolana.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Dinho Chingunji contra "Votou, Sentou"
O candidato do Partido Nacional para a Justiça em Angola (P-Njango) considerou hoje as eleições como "ocasião soberana" para escolha dos governantes e exortou os eleitores a esperarem os resultados em casa, contrariando o movimento "Votou, Sentou". Chingunji, que votou no município do Kilamba Kiaxi, em Luanda, exortou "os cidadãos a regressarem para as suas casas e a esperar pelos resultados".
Foto: Borralho Ndomba/DW
CNE diz que está tudo a funcionar
A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que as 13.238 assembleias de voto espalhadas pelos 164 municípios angolanos "estão abertas e em perfeito funcionamento" e "não há registo de qualquer incidente" que possa beliscar a votação. Também foram constituídas 45 mesas de voto no estrangeiro, para as quais foram recrutados 105.952 membros.
Foto: António Cascais/DW
UNITA denuncia irregularidades no Bengo
No Bengo, a UNITA chamou os jornalistas para denunciar supostas irregularidades na votação. De acordo com o partido do "galo negro", a CNE local está a proibir que os delegados de lista suplentes exerçam o direito de voto nas assembleias para as quais estão destacados, contrariando, desta forma, uma circular da própria Comissão Nacional de Eleições.
Foto: António Ambrósio/DW
Queixas de eleitores em Cabinda
A votação em Cabinda está a decorrer com alguma normalidade, mas com várias queixas por parte dos eleitores que dizem desconhecer as suas mesas de voto. Os cidadãos são obrigados a percorrer longas distâncias para votar, já que foram colocados em pontos longínquos da província e da capital. E há delegados de lista de partidos que não foram credenciados.
Foto: Simão Lelo/DW
Delegados monitorizam processo
Delegados de lista dos partidos políticos controlam o processo de votação no Bairro da Cuca, em Luanda, a capital. Durante a campanha eleitoral, o polémico movimento "Votou, Sentou", propalado por alguns partidos e membros da sociedade civil, também pediu aos eleitores para permanecerem nas imediações das assembleias de voto.
Foto: Manuel Luamba/DW
O voto da diáspora em Portugal
O ator Daniel Martinho, a viver há cerca de 40 anos em Portugal, foi ao Consulado Geral de Angola em Lisboa votar, feliz por ser a primeira vez que foi dada à comunidade radicada no exterior a possibilidade de exercer o direito de voto. "Era uma aspiração que nos incomodava", contou à DW. "É uma forma de contribuirmos para um país melhor, porque nós na diáspora também fazemos Angola", precisou.