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Tensão em Cabinda: “Quando encontram civis, não os poupam”

30 de junho de 2020

Confrontos entre rebeldes e forças do Governo angolano teriam causado mais de 20 mortos em junho em Cabinda. Ativistas denunciam que militares estariam a vitimar civis e a operar em território de países vizinhos.

Angola Cabinda & Luanda | Straße in Cabinda
Foto: DW/B. Ndomba

Organizações que defendem a autonomia da província angolana de Cabinda consideram reais os alegados confrontos entre as Forças Armadas Angolanas (FAA) e o braço armado da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC).

Segundo relatos de organizações que advogam pela paz via a autonomia da região, confrontos entre soldados angolanos e guerrilheiros intensificaram-se nos últimos dias. As incursões militares atribuídas às FAA terão feito ao menos 23 mortos em junho.

O movimento separatista acusa o Governo angolano de evitar o diálogo. No domingo (28.06), dois líderes da União dos Cabindeses para Independência (UCI) foram detidos.

"Ainda não recebemos informações preliminares por parte dos advogados, haja vista que foram impedidos de interagir com os detidos. A informação não oficial que temos é que foram detidos por colarem panfletos pelo diálogo para a paz em Cabinda. A colagem de panfletos aconteceu na noite de sábado, e a detenção na manhã de domingo em Bukungoio”, diz.

Civis estariam sendo vítimas de ações militaresFoto: DW/B. Ndomba

"Situação caótica”

O secretário-geral da UCI, Eduardo Matunda, disse que a busca por combatentes da FLEC na região tem vitimado cidadãos inocentes.

"Quem vive em Cabinda sabe que se trata de um território muito militarizado. Vive-se um clima de insegurança total. Vemos todos os dias militares com armas de guerra nas ruas e isso intimida a população”, analisa Matunda.

Segundo o secretário-geral da UCI, militares do Governo estariam a atacar constantemente áreas do enclave e a operar em território de países vizinhos – como República do Congo e República Democrática do Congo. Matunda garante que tais incursões vitimam inocentes.

"O que acontece aqui em Cabinda é uma situação caótica”, diz o ativista.

O líder do Movimento da Reunificação dos Povos de Cabinda para a sua Soberania (MRPCS), Arão Bula Tempo, confirma o conflito armado no interior da província. O advogado denuncia que algumas vítimas seriam cidadãos dos dois países vizinhos, suspeitos de apoiarem os separatistas.

"Quando as nossas forças [militares do Governo angolano] encontram civis naquelas circunstâncias, não poupam. Para eles, todo o que for suspeito deve morrer. É o mesmo que acontece na cidade de Cabinda com os ativistas de movimentos independentistas. Quando estes apelam que o Governo angolano adote outra postura que não seja pelas armas, são detidos”, afirma o presidente do MRPCS.

Acordo prevê que parte das receitas do petróleo ficariam em CabindaFoto: AP

Acordo falhado

O advogado defende o diálogo para a solução do problema e acredita que o impasse continua por falta de "votande política” do Governo - que não cumpriu com o memorando de entendimento.

O acordo visava a adoção de medidas para mitigar os problemas sociais da província, a construção do porto e do aeroporto na região e mecanismos para Cabinda beneficiar de pelo menos 1% da produção local do petróleo e da arrecadação de impostos. Havia o acordo para a integração dos membros do Fórum Cabindês para o Diálogo no Governo e nas FAA.

"Infelizmente o Governo não teve esta boa vontade de cumprir com o que foi assinado”, afirma Tempo.

O Governo recusa reagir aos comunicados da FLEC, que relatam as hostilidades no enclave. Na semana passada, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) classificou o silêncio como "insanidade”.

O primeiro-ministro do "Governo Sombra” da UNITA, o deputado Raúl Danda, diz que o que a FLEC regista em "vídeos” demonstra que "estão lá de pedra e cal, bem fardados, bem armados, e a criar problemas”. Por seu turno, o secretário-geral da UCI afirma que o silêncio tem a finalidade de deturpar a informação.

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