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Tensão na RDC com fim do mandato de Kabila

Friederike Müller-Jung | Julia Hahn | nn | Lusa
19 de dezembro de 2016

Forças de segurança invadiram as ruas de Kinshasa, depois da suspensão das conversações para encontrar uma solução para a crise política na República Democrática do Congo. Joseph Kabila parece indisponível para sair.

Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Bompengo

Vários bloqueios de estradas realizados durante a noite já foram levantados, mas há forças de segurança em peso nos pontos de maior concentração da oposição na capital da República Democrática do Congo (RDC), Kinshasa. Os receios do ressurgimento da violência regressaram ao país, com Joseph Kabila a recusar marcar eleições e a dar sinais de estar indisponível para abandonar o poder.

No sábado (17.12), as negociações para uma saída da crise, decorrente do fim do segundo e último mandato do atual chefe de Estado previsto para mais logo, à meia-noite, foram interrompidas, sem a obtenção de quaisquer progressos. O diálogo só deverá ser retomado na quarta-feira (21.12), quando os bispos católicos que têm assumido a mediação regressarem ao país.

Os jogos de futebol da primeira divisão foram suspensos nas próximas quatro semanas para evitar novos protestos e a escalada de violência dentro dos estádios. Também o acesso às redes sociais está parcialmente restringido desde domingo (18.12).

"É triste e realmente lamentável que o Governo possa suspender os jogos de futebol da liga nacional. Isso mostra o pânico que existe dentro do Executivo", afirma Fred Bauma, do movimento civil congolês Lucha. "Querem realmente parar tudo. Já não podemos sair, ir ao futebol, juntarmo-nos na rua. Já não podemos ir a lado nenhum, nem fazer nada ou simplesmente viver", lamenta o ativista.

Protestos

Apesar do teor da reivindicação, a organização de Fred Bauma está a marcar um protesto à escala nacional caso Kabila não saia do poder. Para o movimento civil congolês Lucha, os cidadãos devem sair à rua e ocupar lugares públicos simbólicos, como os edifícios do Governo em Kinshasa.

19.12.2016 Kabila no poder - MP3-Stereo

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Outras organizações também apelam à realização de protestos pacíficos. No entanto, Fred Bauma teme a reação das autoridades.

"Se houver manifestações, o exército e a polícia vão tentar reprimi-las. Isso pode acabar num banho de sangue, porque o Governo vai reagir com violência". 

O ativista receia também que grupos armados se aproveitem da situação instável no país para lançar o caos e dar início a novas situações de violência e abusos dos direitos humanos.

Agarrado ao poder

A Constituição da República Democrática do Congo não permite um terceiro mandato na Presidência. Ainda assim, Joseph Kabila não mostra ainda qualquer intenção de renunciar ao cargo. As próximas eleições ainda não foram marcadas, nem sequer o recenseamento eleitoral naquele que é um dos maiores países em termos de território no continente africano.

Kabila quer continuar sentado na cadeira do poderFoto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

Há poucas semanas, o Governo e parte da oposição decidiram adiar a votação para a Primavera de 2018, admitindo que o país não é capaz de organizar o sufrágio até lá. No entanto, a maioria da oposição na RDC está contra este acordo.

Phil Clark, analista político da Universidade de Londres, sublinha que tudo o que Kabila quer é manter-se na Presidência. Todos os seus movimentos nos últimos meses indicam "que ele está a fazer de tudo para permanecer no poder", lembra.

"Ele está a atrasar as eleições o máximo que pode. Acho que a maioria dos comentadores na RDC acredita que Kabila vai tentar mudar a Constituição para permitir que ele concorra a um terceiro mandato", explica Phil Clark.

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