Burkina Faso: Militares ocupam áreas estratégicas na capital
ms | DW (Deutsche Welle) | AFP | EFE
30 de setembro de 2022
Um tiroteio foi ouvido esta manhã em Ouagadougou, no bairro que acolhe a presidência e o quartel-general da Junta Militar no poder desde janeiro. Principais estradas estão bloqueadas e o sinal da televisão foi cortado.
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Os militares ocuparam várias áreas estratégicas de Ouagadougou, a capital do Burkina Faso, esta manhã, numa altura em que o país se encontra num processo de transição após o golpe de Estado de janeiro passado.
"Ouvi grande explosões por volta das 04h30 da manhã e agora as estradas à volta da minha casa estão bloqueadas por veículos militares", disse à AFP uma testemunha que vive perto dda zona presidencial.
Há soldados nas imediações da estação de televisão nacional, da rotunda central das Nações Unidas e da Avenida Kwame Nkrumah, onde se encontra a sede da União Europeia (UE), não muito longe do aeroporto internacional de Ouagadougou.
O sinal da televisão pública foi cortado esta manhã, o que, segundo um jornalista que trabalha para a estação, deveu-se à ausência nas instalações das pessoas responsáveis pelas primeiras transmissões do canal.
Várias estradas da capital foram bloqueadas de manhã por militares. A situação ainda é confusa. Soldados têm vindo a disparar desde madrugada. Há quem fale numa tentativa de golpe de estado. O Presidente de transição, Paul-Henri Sandaogo Damiba, estará em parte incerta.
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Novo ataque jihadista na segunda-feira
O Burkina Faso sofreu novamente um ataque jihadista na segunda-feira (26.09). Uma caravana humanitária, que deveria abastecer a cidade do norte de Djibo com alimentos, foi atacado por alegados jihadistas.
Onze soldados do exército Burkinabe morreram no ataque e cerca de 50 civis estão desaparecidos, de acordo com números oficiais provisórios.
O ataque deveria ser o foco de uma conferência de imprensa esta tarde pelo tenente-coronel Yves Didier Bamouni, comandante de operações.
Transição liderada pelo exército
O Burkina Faso é governado por uma junta militar desde o final de janeiro de 2022, que chegou ao poder num golpe de estado.
O tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, o homem forte da junta, tinha prometido fazer da segurança a sua prioridade num país atormentado por ataques jihadistas durante anos.
Desde 2015, ataques recorrentes já mataram milhares e deslocaram cerca de dois milhões de pessoas. Damiba assumiu a chefia de um governo de transição após o golpe que destituiu o governo civil de Roch Marc Christian Kaboré.
Na semana passada, Paul-Henri viajou para Nova Iorque, onde se dirigiu à Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Esta quinta-feira esteve no norte do país, em Djibo, onde fez um discurso, mais uma vez relacionado com a segurança, na sequência dos recentes acontecimentos.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.