Tensão no Nilo: Etiópia e Sudão optam pela via diplomática
Lusa
2 de dezembro de 2022
Etiópia e Sudão concordaram em resolver as tensões fronteiriças de forma diplomática relativamente à enorme barragem construída por Adis Abeba no rio Nilo Azul.
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O chefe do Exército Sudanês e Presidente do Conselho Soberano de Transição, Abddel Fatah al-Burhan, recebeu o vice-primeiro-ministro e chefe da diplomacia da Etiópia, Demeke Mekonnen, concordaram em melhorar a cooperação económica e sublinharam que os diferendos entre os dois países devem ser resolvidos "através de mecanismos conjuntos". Foi o que avançou esta sexta-feira (02.12) a agência de notícias sudanesa Suna.
A construção da barragem alimentou tensões com Cartum e Cairo sobre as cotas de água para o Nilo.
Além disso, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Etiópia, Meles Alem, também destacou que o acordo de cessar-fogo entre Adis Abeba e a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês) foi discutido durante a reunião, revelando que Cartum prometeu trabalhar para facilitar sua aplicação.
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Confrontos fronteiriços
A Etiópia e o Sudão têm estado envolvidos em vários confrontos de fronteira nos últimos meses e Adis Abeba tem vindo a acusar o país vizinho de apoiar a TPLF no contexto do conflito que eclodiu em novembro de 2020 na região de Tigray (norte).
O epicentro destes combates tem sido a zona de Fashaga, apesar de ambos os países terem iniciado os trabalhos de demarcação da fronteira em dezembro de 2020, após vários incidentes, que giraram em torno da presença de agricultores etíopes em território sudanês, facto que foi tacitamente tolerado pelo ex-Presidente sudanês Omar Hassan al-Bashir.
As autoridades sudanesas, que estão no poder após o golpe que derrubou Al-Bashir, em abril de 2019, mantêm uma posição diferente e exigem a saída desses agricultores da área, o que provocou um aumento das tensões com a Etiópia.
As tensões foram intensificadas por diferenças sobre a Grande Barragem do Renascimento, com Etiópia, Sudão e Egito a não conseguirem chegar a um acordo, o que levou a grandes divergências entre Adis Abeba e Cairo.
As maiores barragens de África
Nilo, Congo, Zambeze: os rios africanos guardam grande potencial para a produção de energia. Os governos reconhecem isso e apostam cada vez mais em megaprojetos. Um panorama das maiores centrais hidroelétricas de África.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Grande Represa do Renascimento, na Etiópia
No sudoeste da Etiópia, está a ser erguida aquela que será a maior barragem de África. A construção da Grande Represa do Renascimento começou em 2011 e deve ser concluída em 2017. A barragem localiza-se perto da fronteira com o Sudão, no Nilo, e terá uma potência de 6.000 megawatts (MW). O reservatório será um dos maiores do continente, com capacidade para armazenar 63 quilômetros cúbicos de água.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Represa Alta de Assuão, no Egito
A Represa Alta de Assuão é atualmente a barragem mais potente de África. Está localizada perto da cidade de Assuão, no sul do Egito. O lago atrás da barragem pode armazenar até 169 quilómetros cúbicos de água. Seu maior afluente é o Rio Nilo. As turbinas têm uma capacidade de 2.100 megawatts. A construção durou onze anos e a inauguração foi em 1971.
Uma das maiores barragens do mundo está localizada na província de Tete. A hidroelétrica Cahora Bassa, no rio Zambeze, tem uma potência de 2.075 megawatts, pouco menos que a Represa Alta de Assuã, no Egito. A maior parte da energia gerada é exportada para a África do Sul. No entanto, sabotagens durante a guerra civil impediram a produção de eletricidade por mais de dez anos, a partir de 1981.
Foto: DW/M. Barroso
Represa Gibe III, na Etiópia
A barragem Gilgel Gibe III fica 350 quilômetros a sudoeste da capital etíope, Addis Abeba. Foi concluída em 2016 e pode gerar um máximo de 1.870 megawatts, tornando-se a terceira maior barragem em África. A construção durou quase nove anos e foi financiada a 60% pelo Banco de Exportação e Importação da China, China Exim Bank.
Foto: Getty Images/AFP
Kariba, entre a Zâmbia e o Zimbabué
A barragem de Kariba fica na garganta do rio Zambeze, entre a Zâmbia e o Zimbabué. Tem 128 metros de altura e 579 metros de comprimento. Cada país tem sua própria central eléctrica. A estação norte, da Zâmbia, tem capacidade total de 960 megawatts. A estação sul, do Zimbabué, tem capacidade total de 666 megawatts. As obras de expansão em 300 megawatts começaram em 2014 e devem terminar em 2019.
Foto: dpa
Inga I e Inga II na RDC
As barragens Inga consistem de duas represas. Inga I tem capacidade para produzir 351 megawatts e Inga II, 1424 megawatts. Foram encomendadas em 1972 e 1982, como parte do plano de desenvolvimento industrial do ditador Mobutu Sese Seko. Mas, atualmente, atingem apenas 50% de seu potencial energético.
Foto: picture-alliance/dpa
Inga III
Inga I e Inga II localizam-se perto da foz do rio Congo e ligadas às cataratas Inga. O governo congolês já planeia o lançamento de Inga III, com custo de 13 mil milhões de euros e capacidade de 4.800 megawatts. Juntas, as três barragens seriam a central hidroelétrica mais potente de África.
Merowe no Sudão
O Sudão também depende fortemente de energia eólica com duas grandes barragens no país: Merowe no Rio Nilo (na foto) tem uma capacidade de 1.250 MW e foi construída por uma empresa chinesa. Ainda maior é a barragem de Roseires no Nilo Azul, que desde a sua construção em 1966 foi várias vezes ampliada e conta atualmente com turbinas que têm uma potência total de 1.800 MW.
Foto: picture-alliance/dpa
Akosombo, no Gana
A oitava maior barragem de África é Akosombo, no Gana. Construída na garganta do Rio Volta, a represa teve como resultado o Lago Volta - o lago artificial do mundo, com área de 8.502 quilómetros quadrados. As seis turbinas têm uma capacidade combinada de 912 megawatts. Além de gerar eletricidade, a barragem também protege contra inundações.
Foto: picture-alliance / dpa
Represa Tekezé, na Etiópia
Outra represa grande de África está localizada na Etiópia. A barragem Tekeze encontra-se entre as regiões de Amhara e Tigré. Apesar de seus impressionantes 188 metros de altura, a capacidade máxima da hidrelétrica é de 300 megawatts e, assim, apenas um vigésimo da potência da Grande Represa do Renascimento. A represa entrou em funcionamento em 2009.