ms | Daniel Pelz | Reuters | AFP | AP | Lusa | EFE
16 de janeiro de 2019
Desde segunda-feira, várias pessoas morreram e dezenas ficaram feridas nos protestos contra a subida do preço dos combustíveis. Acesso à internet foi bloqueado. E o conhecido ativista Evan Mawarire foi detido em Harare.
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O ambiente no Zimbabué é cada vez mais tenso. Desde que o Presidente Emmerson Mnangagwa anunciou, na noite de sábado (12.01), que iria duplicar os preços dos combustíveis por causa da profunda crise económica que o país atravessa, as manifestações violentas sucedem-se nas duas maiores cidades do país, Harare, a capital, e Bulawayo, no sul.
A subida incendiou os ânimos, com muitos zimbabueanos a recearem uma subida generalizada dos preços. A Confederação Sindical do Zimbabué apelou à população para fazer greve até esta quarta-feira (16.01).
Preço do combustível gera protestos no Zimbabué
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Hoje, terceiro dia de protestos, a população voltou a sair às ruas, entre pilhagens de estabelecimentos comerciais e pedidos de demissão do Presidente.
Um cenário que já se tinha verificado no dia anterior, em Bulawayo. A polícia usou gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes na segunda maior cidade do país, considerada um bastião da oposição ao regime.
Na segunda-feira (14.01), oito pessoas foram mortas em confrontos com a polícia e militares, segundo os números da Amnistia Internacional. A Human Rights Watch fala em pelo menos 25 feridos. O Governo zimbabueano só confirmou a morte de três pessoas, incluindo um polícia que foi apedrejado até à morte pela multidão.
Internet bloqueada e detenções
Os sistemas de telecomunicações, incluindo o acesso à internet, foram bloqueados em todo o país pelo Governo. Mas a autoridade local de regulação da internet desmentiu qualquer interferência no sistema. "Não fui informado da existência de qualquer problema", disse à AFP o diretor-geral da instituição, Gift Machengele.
Esta quarta-feira (16.01), o ativista Evan Mawarire, um pastor de Harare que se tornou conhecido pelas suas críticas ao antigo Presidente Robert Mugabe, foi preso em casa pela polícia. Mawarire deverá ser acusado por incitação à violência pública, disse à AFP a advogada do ativista, Beatrice Mtetwa, que testemunhou a detenção.
Pelo menos 200 pessoas foram detidas durante os protestos dos últimos dias. O ministro da Segurança do Zimbabué, Owen Ncube, acusa os manifestantes de "terrorismo". "É um completo atentado contra o Estado de direito, que não tem nada a ver com o direito dos cidadãos de se manifestarem de forma pacífica", disse o governante.
Oposição: "Não somos culpados pela violência"
Jacob Mafume, porta-voz do principal partido da oposição zimbabuena, o Movimento para a Mudança Democrática (MDC), refuta as acusações de que são apoiantes da oposição os responsáveis pela violência que está abalar o país. "O Governo reagiu com violência, enviou soldados e polícias para disparar gás lacrimogéneo nos subúrbios e isso provocou uma reação de alguns manifestantes", disse o porta-voz do MDC em entrevista à DW África.
"Quando se aumenta os preços dos combustíveis, isso torna-se um problema para todos, independentemente do partido a que pertencem. É um erro tentar culpar a oposição", disse Jacob Mafume, que apela ao diálogo sobre a crise política e económica no Zimbabué.
O Governo de Harare atribuiu culpas à oposição pela violência dos últimos dias nas principais cidades do país. A ministra da Informação, Monica Mutsvangwa, disse na segunda-feira (14.01) que as manifestações contra o governo foram "coordenadas pela oposição".
Enquanto o Zimbabué vive este cenário de violência, Emmerson Mnangagwa encontra-se fora do país, numa viagem internacional que o levou já até à Rússia, onde se reunirá com o Presidente Vladimir Putin, antes de participar no Fórum Económico Mundial de Davos, na Suíça.
Família Mugabe: 37 anos de luxo e ostentação
Enquanto Robert Mugabe liderou o Zimbabué, não foi uma preocupação da sua família esconder o luxo em que vivia. Num país em que parte da população é pobre, a família do Presidente exibiu, durante anos, uma vida faustosa.
Foto: Getty Images/M.Safodien
Fortuna de um bilião
Estima o The Guardian que a fortuna de Mugabe deverá rondar um bilião de euros, espalhados, entre outros, em contas secretas na Suiça e Bahamas. Só a sua mansão, localizada a norte de Harare, está avaliada em cerca de oito milhões de euros. Um valor que um cidadão comum no Zimbabué só conseguiria pagar se trabalhasse cerca de 3.825 anos seguidos sem gastar um centavo.
Foto: Getty Images
Seis pessoas, 25 quartos
Desenhada por arquitetos chineses, a mansão “Blue Roof”- com este nome por causa dos azulejos azuis do telhado importados da China - tem 25 quartos. Se cada elemento da família tiver um quarto - Robert, Grace, os três filhos do casal e o filho do primeiro casamento de Grace - sobrarão ainda 19. A casa tem ainda lagos, monitores panorâmicos, cadeiras de veludo e camas em estilo monárquico.
Foto: Getty Images/J.Njikizana
Outras propriedades
Sabe-se que o casal possui ainda propriedades na Malásia, Singapura e Dubai . Em 2009, diz o Sunday Times, Robert e Grace Mugabe adquiriram uma outra casa num bairro de luxo em Hong Kong, cidade onde estudou a sua filha Bona, por 4,5 milhões de euros. Na mesma altura, "Dis Grace", como também é chamada pelos zimbabueanos, terá gasto mais de 60 mil euros em estátuas de mármore do Vietname.
Foto: picture-alliance/dpa/Ym Yik
Casamento extravagante
Robert e Grace Mugabe deram o nó em agosto de 1996, quatro anos após a morte da primeira esposa do presidente do Zimbabué, Sally, ter falecido. O casamento custou um milhão de dólares e contou com 40 mil convidados. Na imprensa local, falou-se no “casamento do século”. Para assinalar o 20º aniversário de casamento, Grace terá comprado um anel de diamantes por 1,15 milhões de euros.
Foto: Getty Images/O.Anderson
"Gucci Grace"
Embora quisesse ser notícia pelo trabalho social que desenvolvia no Zimbabué, a agora ex primeira-dama, apelidada também de "Gucci Grace" pela sua futilidade, era criticada pelos seus gastos pessoais com objetos de luxo. Grace Mugabe, 40 anos mais nova que Robert Mugabe, não escondia as suas roupas, sapatos e jóias de marcas de luxo.
Foto: Getty Images/Z.Auntony
Às compras pela Europa...
Diz o The Guardian que a marca favorita de sapatos de Grace é a Ferragamo. Ao todo, o seu armário, contará com mais de três mil pares de sapatos. Em 2003, o Daily Telegraph deu conta que Grace gastou, numa só viagem a Paris, cerca de 63 mil euros. Já em Londres, a primeira-dama terá gasto 45 mil. Até 2004, Grace terá retirado do Banco Central do Zimbabué mais de cinco milhões de euros.
Foto: Getty Images/J.Delay
Luxo “hereditário”
O gosto por gastar é algo que Grace parece ter incutido nos seus filhos. Só o casamento de Bona (na foto) custou mais de três milhões de euros. Já Robert Jr. e Bellarmine Chatunga, os outros dois filhos do casal, enquanto viveram no Dubai, estiveram instalados num apartamento que tinha uma renda mensal de cerca de 30 mil euros. Já na África do Sul, pagavam cerca de 4,5 mil.
Foto: Getty Images/R.Rahman
Filhos não escondem riqueza
Este ano, o filho mais novo de Mugabe publicou um vídeo onde derramava champanhe Armand de Brignac em cima do seu relógio de luxo. Dias antes, diz o The Guardian, o jovem postou uma fotografia com a legenda “51 mil euros no pulso quando o seu pai comanda o país”. A imprensa local não deixou também passar em branco a excentricidade do enteado de Mugabe, que importou dois luxuosos Rolls-Royce.
Foto: Rolls-Royce
"Gucci Grace" em tribunal
Recentemente “DisGrace” travou uma guerra no tribunal com um negociante de diamantes libanês. Grace Mugabe afirma ter pago cerca de 858 mil euros por um diamante de 100 quilates que não recebeu.
Foto: dapd
Festas de anos milionárias
As festas de anos de Mugabe já eram uma tradição. Ano após ano, em fevereiro, repetiam-se as notícias relacionadas com as suas extravagâncias. No seu 85º aniversário, por exemplo, foram encomendadas duas mil garrafas de champanhe Moet & Chandon e 400 doses de caviar. Já por altura dos seus 91 anos, Mugabe gastou cerca de um milhão de dólares na festa, que teve lugar num hotel de cinco estrelas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Na mira do “Wikileaks”
Em 2010, as informação reveladas pelo Wikileaks vieram dar razão aos zimbabueanos que criticavam os luxos da família Mugabe. Os documentos divulgados fizeram referência ao envolvimento de elites e altos funcionários do governo do Zimbabué em negócios de diamantes. Um dos nomes citados foi precisamente o de Grace Mugabe.