Ataques: Missão da União Africana avalia apoio a Moçambique
Lusa
27 de janeiro de 2021
Uma missão da União Africana vai avaliar, em Moçambique, o apoio necessário à luta contra o terrorismo. "Não somos insensíveis ao que se passa em Moçambique", disse o presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat.
Violência armada na província Cabo Delgado já fez mais de duas mil mortes Foto: AFP/M. Longari
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"Não somos insensíveis ao que se passa em Moçambique. A União Africana está empenhada na luta contra o terrorismo, seja no Sahel, seja na bacia do Chade, seja no Mali ou em Moçambique", afirmou esta terça-feira (26.01) Moussa Faki Mahamat, questionado pela Lusa, depois de se reunir, na Praia, com o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca.
O responsável avançou que uma missão daquela organização a Moçambique vai avaliar nos próximos dias "a modalidade prática de apoio da União Africana à luta contra o terrorismo", referindo-se à insurgência armada na província de Cabo Delgado, no norte do país.
"Mas agimos com base no princípio da subsidiariedade. Moçambique pertence à zona da SADC [Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral], pelo que é na zona da SADC que o assunto tem sido abordado e temos estado em contacto com a SADC e com Moçambique", recordou o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros do Chade, que está em final de mandato e é recandidato, único, ao cargo, nas eleições previstas para fevereiro.
UE reforça cooperação
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, disse na segunda-feira (25.01), em Bruxelas, esperar que, "nas próximas semanas", seja alcançado um "quadro de cooperação reforçada" entre União Europeia e Moçambique, para enfrentar a "situação gravíssima" em Cabo Delgado.
Terrorismo no topo da agenda Portugal-Moçambique
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Em declarações em Bruxelas, onde participou numa reunião dos chefes de diplomacia da UE, Santos Silva deu conta que explicou aos seus homólogos a "missão política" que realizou na semana passada a Maputo, "para exprimir a solidariedade europeia com a situação gravíssima que Moçambique enfrenta na sua luta contra o terrorismo e a insurgência na província de Cabo Delgado".
Lembrando que realizou esta missão "como representante do alto-representante para a Política Externa e de Segurança da UE", Josep Borrell, o ministro português reiterou que "os objetivos desta missão política foram todos cumpridos [...] e pude recolher as prioridades muito claras das autoridades moçambicanas, que querem maior cooperação da Europa na área da ação humanitária, na área do apoio ao desenvolvimento e na área da segurança", disse.
Nesta última área, Moçambique pretende sobretudo "apoio à formação e ao treino de forças militares especiais, assim como através da provisão de equipamento e de capacidade logística", precisou Santos Silva.
"Ao mesmo, as equipas técnicas dos dois lados começaram a trabalhar e, portanto, a minha expectativa é que nós, durante as próximas semanas, possamos chegar a um quadro de cooperação reforçada com Moçambique", afirmou.
A violência armada na província Cabo Delgado, norte de Moçambique, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, o que levou as autoridades moçambicanas a pedir auxílio à UE.
O desterro forçado dos deslocados em Cabo Delgado
São mais de 450 mil no norte de Moçambique. O terrorismo cortou-lhes as raízes e tomou-lhes o chão. Os deslocados internos procuram vingar noutras paragens. E Pemba tem sido lugar de eleição. Sobreviverão na nova terra?
Foto: Privat
A dor da perda e da impotência
Um olhar que diz mais do que mil palavras, a imagem poderia ser "sem legenda". Foi depois de um ataque à aldeia "Criação", Muidumbe, a primeira investida terrorista ao distrito, em novembro de 2019. Os insurgentes começaram os seus ataques em Cabo Delgado em outubro de 2017.
Foto: Privat
Histórias de vida reduzidas a cinzas
Desde então, a matança e destruição passaram a ser visitas assíduas da região. Como ninguém quer ser anfitrião, os aldeões fugiram. Em finais de outubro, Muidumbe e outros distritos sangraram de novo e a população fugiu. Muidumbe está praticamente nas mãos dos terroristas, tal como Mocímboa da Praia, desde agosto.
Foto: Privat
Quase todos os caminhos vão dar a Pemba
O único desejo destes residentes de Mueda é conseguir um canto no camião para chegar à capital provincial de Cabo Delgado. Mas a disputa entre pessoas e os seus próprios pertences ameaça deixar alguém para trás. Desde meados de outubro, Pemba recebeu cerca de 12 mil deslocados. Inicialmente, recebia à volta de mil deslocados por dia.
Foto: Privat
Quando o mato passa a ser melhor que o lar
Para muitos em Cabo Delgado, ter um teto deixou de ser sinónimo de segurança. Conseguir manter a vida, mesmo sem casa, passou agora a ser a meta. Os bichos passaram a ser mais cordiais que os irmãos terroristas, as estrelas melhores que o teto e os arbustos melhores que as paredes. Famílias procuram refúgio nas matas, onde caminham por dias dominados pelo medo, sem comida e sem norte.
Foto: Privat
Um abraço amigo em Pemba
Estes deslocados chegam de Quissanga. Mas também chegam à praia de Paquitequete, Pemba, deslocados vindos de vários lugares. Todos tentam escapar ao terror. Muitos fixam-se aqui, onde recebem apoio de ONGs, associações, indivíduos e do Governo. Há até quem abra as portas da sua casa para os receber, mesmo não os conhecendo.
Foto: Privat
Crise humanitária faz brotar solidariedade infinita
A falta de quase tudo faz despertar solidariedade que chega de todo o lado. Para quem está longe, uma angariação de fundos e bens materiais é a opção. Já cuidar dos deslocados na praia de Paquitequete, atendendo-os nas suas necessidades, é o que faz quem está no terreno. Na praia, há jovens que chegam de madrugada para dar amor a quem precisa.
Foto: Privat
Uma fuga rodeada de perigos
O medo é tanto que nem a sobrelotação parece intimidar os deslocados internos. No começo de novembro, mais de 40 pessoas morreram a tentar chegar a Pemba num naufrágio entre as ilhas do Ibo e Matemo.
Foto: Privat
Pemba a rebentar pelas costuras
O "boom" de deslocados é tão grande que o sistema de serviços básicos para a população, como água e saneamento, está no limite. Antes desta nova vaga de deslocados, a capital de Cabo Delgado tinha 204 mil habitantes. Agora, tem mais de 300 mil.
Foto: DW/E. Silvestre
Começar nova vida noutro chão
O Governo criou um comité de gestão para esta crise humanitária. Afirma que está a criar novas aldeias, centros de reassentamento, infrastruturas e a parcelar terras para acomodar os deslocados. Embora esteja garantida a segurança, as suas raízes estão noutro chão.
Foto: Privat
Que futuro?
Por enquanto não há resposta. Mas há deslocados que se vão "desenrascando" para sobreviver. Muitos dizem que não querem viver de mão estendida. Por exemplo, quem tem barco vai à pesca ou trasporta mercadorias. Outros entretêm-se a jogar futebol. Vão cuidando das suas vidas. Mas para os que não têm alternativas, que são a maioria, correrão riscos de entrar para o mundo do crime?