Textáfrica ainda espera participar no Moçambola 2020/21
Bernardo Jequete (Chimoio)
20 de novembro de 2020
A Federação Moçambicana de Futebol anunciou que apenas 11 clubes, de um total de 14, têm o passaporte carimbado para participar na maior prova futebolística do país. O Textáfrica de Chimoio está de fora.
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Acácio Gonçalves, presidente do Textáfrica de Chimoio, continua com esperança que o seu clube dispute a edição do Moçambola 2020/2021. O clube foi posto de fora da competição porque não ter reunido vários documentos no processo de licenciamento de clubes da primeira divisão, incluindo a certidão de quitação do Instituto Nacional de Segurança Social de Moçambique ou um relatório sobre o pagamento de salários em atraso aos jogadores e trabalhadores.
A imprensa moçambicana dá como certo que na próxima época do Moçambola só participarão 11 clubes e que o Textáfrica de Chimoio não é um deles. Mas, à DW África, o presidente do clube diz que não é bem assim.
"Este é um trabalho interno que já está sendo feito, a comissão de gestão está a trabalhar no assunto, já temos o ponto de situação e está numa fase avançada e creio que tudo vai estar bem", afirma Acácio Gonçalves.
O presidente da Associação provincial de Futebol de Manica, Zacarias Calisto Fernando, diz que está de mãos dadas com a direção do Textáfrica de Chimoio para regularizar a situação do clube.
"Nós, junto da direção do Textáfrica, marcámos um encontro para sabermos do que se estava a precisar. Tratou-se de toda a documentação final e encaminhámos para a federação. Agora, não podemos dizer que está fora ou foi despromovido, porque ainda não recebemos um documento oficial, o que nós sabemos é que existem 11 equipas já licenciadas a nível nacional."
Adeptos temem afastamento
Inácio Sambo, um amante confesso do Textáfrica, diz que a saída do clube seria um golpe terrível para os adeptos na província.
"O Moçambola é para nós o povo futebolístico, nós o público. Então, se tira o futebol daqui ficará complicado. Temos que ter bom senso neste tipo de situações", comenta.
O edil da cidade de Chimoio, João Ferreira, diz que não gostaria de ver o clube – um antigo campeão nacional - fora do Moçambola na próxima época.
"Eu acho que a luz tem que estar sempre verde, porque o Textáfrica é um clube histórico", refere o autarca. "O nome do Moçambola não fica completo sem falar do Textáfrica. E nós temos o direito e obrigação de criar condições para estarmos lá e pensamos que vamos estar lá, sim."
Mas o tempo está a escassear para o Textáfrica. Para este sábado está prevista uma reunião da Assembleia Geral da Federação Moçambicana de Futebol. Um dos pontos na agenda será a aprovação da proposta do programa e orçamento para o ano 2021. A Liga Moçambicana reúne-se na terça-feira (24.11) e em cima da mesa estará o plano de atividades e orçamento para a próxima época. O campeonato arranca a 5 de dezembro.
Textáfrica: Ruínas e o legado do seu clube de futebol
A Textáfrica foi a maior fábrica têxtil de Moçambique. Instalada na década de 50, hoje sobram apenas ruínas, e o bom nome de seu clube de futebol.
Foto: DW/J. Bernardo
Ano 2000: Extinta a fábrica Textáfrica
A empresa Textáfrica, instalada em 1951, foi a maior fábrica têxtil de Moçambique. Depois da Independência do país, ela teve apoio de cooperantes alemães da República Democrática da Alemanha (RDA). No ano 2000, paralisou as suas atividades e cerca de quatro mil trabalhadores ficaram desempregados. A economia do país foi afectada - a empresa impulsionava a economia moçambicana.
Foto: DW/J. Bernardo
Só ficaram quinquilharias
Nos pavilhões da extinta fábrica, já não se encontram as maquinarias - tampouco parece que este local um dia foi uma fábrica têxtil. Há apenas bugigangas e máquinas obsoletas. Uma dúvida, porém, permanece: para onde foram as maquinarias da Textáfrica?
Foto: DW/J. Bernardo
"Gigante" têxtil abandonada
À primeira vista, a antiga fábrica da empresa moçambicana parece um ginásio. Mas engana-se quem assim o pensa, pois neste local decorriam as atividades de tecelagem. Antigamente, era bem melhor equipada com sistemas de frio e maquinarias de alta potência, entre outros. Caso apareça um investidor, deverá recomeçar tudo do zero...
Foto: DW/J. Bernardo
De plantação de algodão a mercado
Após a falência da Textáfrica, no ano 2000, foram erguidas bancas de venda de diversos produtos na zona onde era plantado o algodão, matéria-prima da empresa têxtil. Neste local, vende-se produtos alimentares, roupas, cereais, tubérculos, frutas, etc. Este é hoje o maior mercado grossista da província, denominado Francisco Manyanga, também conhecido como "Mercado 38".
Foto: DW/J. Bernardo
Carpintaria na fábrica têxtil
Para evitar que as instalações fiquem totalmente abandonadas, a direção da extinta Textáfrica arrenda vários compartimentos da mesma. E, pela escassez de armazéns e empresas extrativas, empresários concorrem às instalações para desenvolverem suas atividades comerciais.
Foto: DW/J. Bernardo
Reativação em breve?
O governador provincial de Manica, Manuel Rodrigues, garantiu há dias que esforços estão sendo envidados, a nível provincial e central, para atrair investidores. O objetivo é colocar em funcionamento aquela que foi a maior fábrica têxtil do país. "Potenciais investidores chineses, indianos e sul-africanos já visitaram o local. Há uma luz no fundo do túnel", disse o governador.
Foto: DW/J. Bernardo
Petizes no antigo centro infantil da Textáfrica
Neste edifício degradado funcionava um centro infantil da antiga fábrica Textáfrica. No local, as crianças dos trabalhadores - e também as que viviam nos arredores – frequentavam as aulas. Hoje, crianças ainda visitam o local, mesmo nas atuais condições. Os petizes brincam, correm e passam tempo ali, de algum modo, a pressionar os dirigentes para a reativação do espaço.
Foto: DW/J. Bernardo
Clube de futebol sem fundos
O clube de futebol da empresa foi criado em 1958. Hoje, a bancada do campo do Grupo Desportivo e Recreativo Textáfrica está sem teto devido à intempérie de janeiro último. A direção está a buscar fundos para reposição, pois, a 31 de março, deverá começar a edição 2019 da maior prova futebolística de Moçambique: "Moçambola".
Foto: DW/J. Bernardo
Equipa fabril em pé e forte!
Estes são alguns dos jogadores do Grupo Desportivo e Recreativo Textáfrica, GDRT: eles mantém o bom nome da empresa! O governador, Manuel Rodrigues, ao centro, é ladeado por Miguel Júnior, técnico-adjunto, e Aleixo Fumo, técnico principal. A equipa arrasta massas em Manica e no país. Apesar da falência da empresa, os futebolistas continuam em pé e forte!
Foto: DW/J. Bernardo
Negócio sustentável
O clube Textáfrica possui alguns artigos timbrados, ou bordados, com o nome da própria fábrica. São chapéus, cascóis, camisetas e muitos outros artigos. É através da venda deste material que o clube GDRT sobrevive, para além do apoio de alguns empresários da praça. Há também uma loja em Chimoio, que vende material desportivo e promove a imagem desta empresa.
Foto: DW/J. Bernardo
Campeão de futebol
A equipa Textáfrica foi a primeira campeã de futebol em Moçambique, mas, de lá para cá, nunca mais ascendeu ao título nacional. O curioso é que, mesmo passando diversas situações difíceis no âmbito financeiro, ela nunca abandonou a competição futebolística.
Foto: DW/J. Bernardo
Futuro
O primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, visitou as instalações em fevereiro de 2018, anunciando interesse de empresários estrangeiros em breve. "Tivemos que vir cá para mantermos contacto e acompanharmos o nosso empreendimento. Nossa visita ao complexo fabril Textáfrica foi para demostrar interesse do Governo em revitalizar a fábrica da Textáfrica", disse.