Thuli Madonsela: "Protetora pública" sul-africana de saída
António Cascais
14 de outubro de 2016
Na África do Sul, a luta contra a corrupção contou, nos últimos anos, com uma protagonista de grande calibre: a advogada Thuli Madonsela. Ativistas aplaudem "desempenho brilhante" da advogada enquanto defensora do povo.
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Apesar de ser aclamado pelo Parlamento e nomeado pelo Presidente, o denominado "public protector" na África do Sul é, em teoria, independente do poder político.
Thuli Madonsela, que assumiu o cargo de defensora do povo em 2009, levou a sério esse estatuto, afirma em entrevista à DW África o ativista sul-africano Paul Holden. "Foi uma pessoa que lutou pela sua independência do poder político", sublinha.
Segundo o co-fundador da organização anti-corrupção Corruption Watch, Thuli Madonsela, cujo mandato expira esta sexta-feira (14.10), "teve um desempenho brilhante como protetora pública".
A advogada tornou-se, por isso uma das personalidades mais respeitadas da África do Sul. "A sua coragem é reconhecida por toda a gente. Ela opôs-se com toda a sua força à corrupção no seio do próprio Estado e das suas instâncias".
Busisiwe Mkhwebane, a sucessora
A sucessora de Madonsela já está escolhida: Busisiwe Mkhwebane, advogada de 46 anos, que até agora trabalhava nos serviços de informação do Ministério do Interior da África do Sul. Mkhwebane candidatou-se e ganhou o concurso público, contra 13 outros candidatos.
África do Sul - luta contra a corrupção - MP3-Stereo
"Chamo-me Busisiwe Mkhwebane. Sou uma pessoa com boa reputação", disse a advogada quando se apresentou aos parlamentares. "Tenho bastante influência. Sou cristã praticante. No trabalho dou muito valar à objetividade, à competência e à eficiência".
Numa entrevista recente, Thuli Madonsela descreveu o perfil ideal da sua sucessora: uma pessoa muito empenhada nos direitos humanos, na transparência e justiça. "Tem de ser uma pessoa que queira mudar a situação no nosso país".
Para o ativista Paul Holden, resta agora saber se a sucessora "terá a mesma coragem ou se cairá na tentação de se encostar ao poder, nomeadamente, ao Presidente Jacob Zuma, que está no cerne da corrupção organizada do Estado".
Independência e isenção
Thuli Madonsela mudou, de facto, e para melhor, os moldes da luta contra a corrupção no seu país. Noutros países africanos também existem cargos comparáveis ao do "protetor público", encarregados de luta contra a corrupção e falta de transparência, mas Madonsela mostrou como ocupar o cargo com independência e isenção, considera Paul Holden.
"O episódio mais importante do trabalho de Madonsela foi, sem dúvida, a sua persistência, no caso da casa particular do Presidente Zuma. Sabia-se que ele tinha gasto somas consideráveis de dinheiro público em obras nessa mesma casa", lembra o ativista da organização Corruption Watch.
Os defensores do chefe de Estado sul-africano alegavam que se tratava de medidas de segurança a que o Presidente tinha direito. "Mas a protetora pública insistiu nas averiguações. Provou que o dinheiro tinha sido mal gasto e obrigou o Presidente a devolver o dinheiro ao erário público", recorda Holden.
Soweto: a profunda transformação de uma cidade
Soweto era apenas um símbolo do apartheid, mas hoje é considerada um exemplo do vibrante urbanismo sul-africano. 40 anos depois da violenta revolta na "cidade-dormitório" Soweto transformou-se numa atração turística.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Futebol e liberdade
"Soccer City"- hoje denominado "FNB Stadium" - é considerado o "coração do futebol sul-africano". O gigantesco complexo desportivo foi construido para o mundial de 2010, mas antes já existia aqui um estádio. Foi precisamente aqui que, em 1990, milhares de sul-africanos aplaudiram a libertação de Nelson Mandela da prisão. Em 2013 teve lugar aqui o funeral do primeiro presidente pós-apartheid.
Foto: picture-alliance/Zuma Press
A casa de um herói
Em Soweto vivia a classe trabalhadora, assim como muitos ativistas anti-apartheid, incluindo o próprio Nelson Mandela, que morou num dos apartamentos construidos pelo governo para os operários negros. Estas casas eram conhecidas por "matchbox houses" - caixas de fósforos - devido ao seu reduzido tamanho. "Foi a minha primeira casa e eu orgulhava-me dela", escreveu Mandela na sua autobiografia.
Foto: Getty Images/C. Furlong
Da sala de aulas diretamente para a luta!
As históricas revoltas do Soweto surgiram praticamente nas escolas da cidade. Em 1976 milhares de estudantes e alunos iniciaram os seus protestos contra o ensino obrigatório de Afrikaans, a língua oficial do regime de apartheid. A revolta estudantil do Soweto constitui um marco importante no declínio e derrube do sistema de apartheid.
Foto: AFP/AFP/GettyImages
Enorme centro comercial
"Maponya Mall" é um dos maiores centros comerciais da África do Sul. Esta megaloja foi inaugurada em 2007 por Mandela. Os promotores do projeto prometiam a criação de muitos postos de trabalho e conseguiram mesmo. Mas muitos pequenos comerciantes também se queixaram da concorrência. Richard Maponya, um dos primeiros milionários negros da África do Sul e promotor do projeto, mora também em Soweto.
Foto: picture-alliance/robertharding/I. Trower
Fúria e violência
Milhares de estudantes negros invadiram as ruas de Soweto: foi o tiro de partida para a luta contra o regime de segregação racial, o início da longa marcha contra o apartheid na África do Sul. No dia 16 de junho de 1976 cerca de 176 jovens foram mortos pelas forças de segurança que dispararam sobre os manifestantes que recusavam abandonar os protestos.
Foto: AFP/Getty Images
o "glamour" de uma central elétrica
As torres "Orlando Towers", que faziam parte de uma central elétrica a carvão, encontram-se agora cobertas de desenhos alusivos à cultura dos "townships". A central fora construida nos anos 30 para fornecer eletricidade aos bairros brancos e ao centro da cidade de Joanesburgo. Enquanto isso o papel dos negros era trabalhar nas minas de carvão que forneciam o combustível para a central.
Foto: picture-alliance/WILDLIFE/M. Harvey
Cultura e cor
O primeiro teatro do Soweto abriu em 2012. O edifício é de uma arquitetura extrovertida e o seu programa não é menos arrojado. Quem assiste às peças aqui apresentadas consegue obter uma boa impressão de como a cidade e a sociedade mudaram nos últimos decénios. O teatro foi construindo com dinheiros públicos.
Foto: Getty Images/AFP/S. de Sakutin
Imagens que perduram
Entre os primeiros a perderem a vida durante as revoltas de 1976 estava o jovem Hector Pieterson, de 13 anos, que foi abatido por uma bala policial. A fotografia de um jovem local a carregar o corpo de Hector foi publicada, no dia seguinte, por inúmeros jornais, um pouco por todo o mundo. E assim aumentou a sensibilidade, um pouco por todos os países, perante as atrocidades do sistema racista.
Foto: Imago/imagebroker
A estrada mais célebre da África do Sul
A única estrada do mundo que chegou a albergar dois prémios Nobel: Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu chegaram ambos a morar na Vilakazi Street, em Soweto. Hoje esta rua é uma importante atração turística na África do Sul. Mais de 700mil turistas visitam anualmente as "South Western Townships".
Foto: Getty Images/C. Somodevilla
A luta continua
Muito dinheiro foi investido na transformação do Soweto e a transformação é bem visível: de um gueto para um bairro da moda e atração turística! Mesmo assim muitos habitantes sentem-se desiludidos: a pobreza teima em persistir. A educação continua deficitária. Muitos dizem que a luta está longe de estar acabaca e que há um longo caminho ainda para percorrer.