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ConflitosEtiópia

Tigray: 270 mortos à fome entre suspeitas de desvio de ajuda

Lusa
29 de maio de 2023

Autoridades da região de Tigray contabilizaram em 270 o número de mortos devido à fome nos últimos três meses, numa altura em que existem suspeitas do desvio da ajuda humanitária entregue por agências internacionais.

Foto: Million Haileselassie/DW

A ajuda visa fazer face à crise nesta zona da Etiópia, aprofundada pela guerra entre 2020 e 2022, entre o exército e a Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF).

Teklay Gebremedhin, administrador interino da zona noroeste da região, indicou que cerca de 100 pessoas morreram em campos de deslocados internos em Adi Daeron, Asgede, Endabaguna, Shiraro e Shire, enquanto os restantes são residentes de aldeias na área. "As coisas estão a piorar. As pessoas estão a morrer todos os dias", disse Teklay, que sublinhou ao jornal etíope "Addis Standard" que os milhares de recém-chegados ao campo de Endabaguna necessitam urgentemente de ajuda alimentar.

Além disso, outras 15 pessoas, incluindo duas crianças, morreram de fome nos distritos de Hauzen e Irob, na zona oriental de Tigray, conforme confirmado por Shushay Meresa, administrador em exercício na área. 

"Os residentes locais e especialmente os deslocados estão em más condições. Eles estão a pedir esmola com os seus filhos, é desanimador", lamentou.

Conflito em Tigray eclodiu em novembro de 2020, aumentando a fome e pobreza na região etíopeFoto: Million Hailessilasie/DW

Gebrehiwot Gebregzabher, da Comissão de Gestão de Riscos e Catástrofes de Tigray, sublinhou que "a fome e as mortes relacionadas com a fome estão a agravar-se devido à suspensão das entregas humanitárias", antes de sublinhar que as autoridades estão a "trabalhar arduamente" para concluir as investigações sobre o desvio da ajuda "o mais rapidamente possível".

Pessoas deslocadas manifestaram-se

Durante a semana passada, dezenas de milhares de pessoas deslocadas manifestaram-se para exigir que as organizações não governamentais e o governo central retomem a distribuição de ajuda e facilitem o regresso das pessoas que fugiram das suas casas devido à guerra.

O chefe da recém-criada administração interina em Tigray, Getachew Reda, disse no início de maio que está em curso uma investigação para averiguar as alegações de roubo de ajuda humanitária, depois de os Estados Unidos e a Organização das Nações Unidas terem suspendido a distribuição devido a alegados desvios.

Esta nova administração, dependente do governo etíope mas com certos poderes de autonomia, tem como principal objetivo a consolidação das rotas de abastecimento para facilitar a chegada da ajuda humanitária às populações afetadas pelos combates, que causaram entre 100.000 e 600.000 mortos, segundo estimativas não oficiais de funcionários etíopes e da União Africana, respetivamente.

O conflito em Tigray eclodiu em novembro de 2020 na sequência de um ataque da TPLF à base principal do exército etíope em Mekelle, após o qual o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ordenou uma operação militar na zona.