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Tigray: ONU receia dissiminação conflito

Lusa
13 de setembro de 2021

ONU adverte que o conflito chegou a regiões vizinhas de Tigray e pode propagar-se pelo Corno de África. Técnicos creem que detenções em massa, assassinatos e violência sexual geram erosão das condições de vida.

Äthiopien Mekele | Pro-TPLF Rebellen
Rebeldes comemoram vitória em Mekelele, em junhoFoto: YASUYOSHI CHIBA/AFP

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos disse esta segunda-feira (13.09) recear que o conflito na região de Tigray, na Etiópia, se propague pelo Corno de África, acusando os dois lados de abusos.

O conflito estendeu-se, nos últimos meses, às regiões vizinhas de Afar e Amhara, e "arrisca-se a que se propague a todo o Corno de África", afirmou Michelle Bachelet, perante o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), num debate sobre Tigray.

A alta comissária da ONU apelou a "todas as partes para porem imediatamente termo às hostilidades, sem condições prévias, e a negociarem um cessar-fogo duradouro".

O Norte da Etiópia tem sido palco de fortes combates, desde novembro, quando o primeiro-ministro, Abiy Ahmed, enviou o Exército para Tigray para fazer cair as autoridades regionais da Frente Popular de Libertação do Tigray (FPLT). 

Rebeldes da TPLF ganharam terreno nos últimos mesesFoto: YASUYOSHI CHIBA/AFP

"Graves relatos de violações"

Na altura, o primeiro-ministro disse que a operação militar era a resposta aos ataques aos campos militares federais orquestrados pela FPLT.

"Apesar da dinâmica em mudança do conflito, tem havido uma constante: múltiplos e graves relatos de alegadas violações grosseiras dos direitos humanos, do direito humanitário e dos refugiados por todas as partes", afirmou Bachelet, sublinhando que "o sofrimento civil é generalizado e a impunidade é generalizada".

"Nos últimos meses, detenções em massa, assassinatos, pilhagens sistemáticas e violência sexual continuaram a criar um clima de medo e uma erosão das condições de vida que levou ao deslocamento forçado da população civil de Tigray", afirmou.

Cooperação para investigação

Porém, Michelle Bachelet saudou a cooperação do Governo etíope com a investigação conjunta em curso do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e a Comissão Etíope dos Direitos Humanos, cujas conclusões deverão ser publicadas a 1 de novembro.

Bachelet: "Há graves relatos de violações dos direitos humanos"Foto: Denis Balibouse/REUTERS

Já é claro, afirmou, "que os casos documentados envolvem múltiplas alegações de violações dos direitos humanos, incluindo ataques a civis, execuções extrajudiciais, tortura e desaparecimentos forçados". 

E conclui:"A violência sexual e baseada no género é caraterizada por extrema brutalidade, incluindo violação em grupo, tortura (...) e violência sexual, motivada por motivos étnicos".

A responsável da ONU disse também que continuam a surgir relatos de detenções arbitrárias em larga escala de civis originários do Tigray, enquanto outros advertem que as pessoas dessa origem estão a ser detidas por causa da sua etnia.

"Reitero também o meu apelo ao Governo da Eritreia para que garanta a responsabilização por alegadas violações generalizadas dos direitos humanos pelas suas forças na região do Tigray", disse ainda Michelle Bachelet.

Além de Tigray, para a alta comissária "são necessários mais esforços para pôr fim à violência intercomunal mortal" e "a resposta não pode ser uma resposta militar".

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