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PolíticaEtiópia

Rebeldes do Tigray negam normalização da situação

AFP | Lusa
11 de novembro de 2022

Rebeldes e autoridades governamentais etíopes tem versões diferentes sobre a situação no Tigray. Acesso àquela região do norte da Etiópia continua vedado aos jornalistas.

Foto: Joerg Boethling/IMAGO

As autoridades rebeldes do Tigray negaram esta sexta-feira (11.11) que o Exército federal controle 70% da região da Etiópia e que as declarações do Governo sobre a chegada da ajuda à região no quadro do acordo de paz não fazem sentido. "Estas afirmações 'saíram do nada'", disse à France Presse Getachew Reda, porta-voz dos rebeldes do Tigray, dias depois de um acordo que pôs fim às hostilidades no país.

Também um funcionário de uma agência humanitária negou à AFP a chegada de qualquer ajuda humanitária, contrariando as últimas declarações do governo etíope. 

Redwan Hussein, conselheiro para a Segurança Nacional do primeiro-ministro Abiy Ahmed, disse através de mensagens difundidas pela rede social Twitter que "70% do Tigray está sobre o controlo do ENDF", as Forças de Defesa Nacional da Etiópia.

O conselheiro não especificou qualquer detalhe sobre a posse territorial (70%) e em concreto se foi uma transferência de poder em algumas zonas, tal como previsto no acordo de paz. "A ajuda está a entrar como nunca, mesmo nas áreas não controladas pelo ENDF, e os serviços estão a ser restaurados", frisou Hussein.

Selamawit Kasa, porta-voz do Serviço Federal de Comunicações, também afirmou que o acordo com a TPLF permitiu a implementação de trabalhos de "apoio humanitário" e "reconstrução" na região de Tigray. A porta-voz afirmou que nos últimos dias foram abertas várias rotas para a passagem de ajuda humanitária, incluindo as que ligam Shire e Gondar e a que liga Woldia e Alamata, sendo que a mesma versão foi noticiada pelo canal de televisão etíope Fana. Ao todo foram contabilizadas 108.000 pessoas que receberam ajuda alimentar, pelo que mais de 16 toneladas de trigo foram distribuídas às vítimas do conflito, segundo Kasa, enquanto ocorriam contactos para tentar chegar a um acordo final de paz.

Acesso continua proibido aos jornalistas

O acesso à região do norte da Etiópia, e ao Tigray, é proibido aos jornalistas e, por isso, é impossível verificar de forma independente a situação no terreno.

Foto da assinatura do memorando de paz, em Pretória, África do Sul, entre representantes do governo etíope e da TPLFFoto: PHILL MAGAKOE/AFP

O reinício dos combates no final de agosto afetou a entrega de alimentos e medicamentos, que já era insuficiente, sendo que a região está privada de serviços básicos (eletricidade, telecomunicações ou funcionamento de instituições bancárias) há mais de um ano.

De acordo com Redwan, "35 camiões de alimentos e três camiões com medicamentos chegaram a Shire", cidade situada no nordeste do Tigray que se encontra sob o controlo das forças governamentais. 

"A mensagem de Redwan, enviada pelo Twitter, é completamente falsa. Nenhuma ajuda foi autorizada a entrar em Shire", disse à France Presse, um funcionário que falou sob anonimato por motivos de segurança. Os serviços não foram restabelecidos e não há ligações aéreas, acrescentou. 

O conflito no Tigray eclodiu em novembro de 2020 após um ataque da TPLF contra a base principal do Exército, localizada em Mekelle, após o qual o Governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed ordenou uma ofensiva contra a organização após meses de tensões políticas e administrativas, incluindo a recusa da TPLF em reconhecer um adiamento eleitoral e a sua decisão de realizar eleições regionais fora de Adis Abeba.

A TPLF acusou Abiy de aumentar as tensões desde que chegou ao poder em abril de 2018, quando se tornou o primeiro Oromo a assumir o cargo. Até então, a TPLF tinha sido a força dominante dentro da coligação de base étnica que governava a Etiópia desde 1991, a Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope (EPRDF). A TPLF opôs-se às reformas de Abiy, que considerou visarem minar a sua influência.

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