Eric Topona | Elodie Amen | Isaac Mugabi | AFP | mjp
20 de fevereiro de 2018
Os 14 partidos da oposição e o governo discutem, desde segunda-feira (19.02), medidas para pôr fim ao bloqueio político no país. As conversações devem durar dez dias, sob a mediação do chefe de Estado do Gana.
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No Togo, após vários meses de manifestações contra o Presidente Faure Gnassingbé, o diálogo entre o Governo e a oposição para acabar com o bloqueio político arrancou oficialmente esta segunda-feira (19.02). As conversações para a saída da crise deverão durar dez dias, sob a mediação do chefe de Estado do Gana, Nana Akufo-Addo.
A coligação de 14 partidos da oposição e o partido no poder discutem medidas com vista à restauração da paz e da confiança no país, palco de protestos exigindo a demissão do Presidente, no poder desde 2005, e reformas constitucionais. A situação do Estado de Direito e da democracia e a definição de uma transição política são alguns dos pontos da agenda.
O porta-voz da mediação ganesa, Daniel Osseoi, diz-se "otimista". "O melhor é pensar que daqui a dez dias teremos uma solução aceitável para ambas as partes que poderá ajudar a trazer a paz ao Togo", afirma.
A reposição da Constituição de 1992, que prevê um limite de dois mandatos presidenciais, também está no topo da agenda do diálogo político. Segundo Kag Sanoussi, presidente do Instituto Internacional para a Gestão de Conflitos, com sede em França, "falar sobre o retorno da Constituição de 1992 é uma questão importante porque se trata precisamente das repercussões. O fracasso não é permitido a ninguém. Nem ao partido no poder, nem à coligação, nem ao povo togolês como um todo."
Críticas da sociedade
Nas redes sociais e nas ruas, no entanto, multiplicam-se as críticas a "mais um diálogo" no Togo, governado há mais de 50 anos pela família Gnassingbé. Desde a implementação do sistema multi-partidário, nos anos 1990, tiveram lugar na capital, Lomé, 15 diálogos e negociações que nunca levaram a mudanças políticas significativas.
A reforma dos mandatos presidenciais e do sistema eleitoral – já previstos num acordo firmado em 2006 – nunca saíram do papel, servindo apenas para acalmar os ânimos num país mergulhado na violência após a eleição de Faure Gnassingbé.
Arranca diálogo entre Governo e oposição no Togo
Desde o início das mais recentes manifestações, em agosto de 2017, a demissão do chefe de Estado é uma das prioridades da oposição. Mas nas últimas semanas, o círculo mais próximo do chefe de Estado tem repetido na imprensa que a saída imediata da Presidência ou um compromisso para abandonar o poder no futuro estão fora de questão.
Ella Jeanine Abatan, especialista no Togo no Instituto de Estudos de Segurança no Senegal, prevê, por isso, dificuldades. "O objetivo do Governo neste diálogo é chegar a um projeto consensual de reforma que será submetido a um referendo e não discutir a saída do Presidente. A questão do limite dos mandatos presidenciais será um obstáculo nesta discussão", afirma a especialista, acrescentando que espera "que consigam chegar a um consenso".
Consenso é o que pedem também as Nações Unidas e a União Europeia, bem como os embaixadores da Alemanha, França e Estados Unidos, de olhos postos na crise togolesa.
No arranque do diálogo, no início desta semana, o Presidente do Gana pediu que as negociações decorram num "espírito de compromisso”.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.