O Togo vai a votos esta quinta-feira para escolher o próximo Parlamento do país. Coligação de 14 partidos da oposição prometeu boicotar a "farsa" eleitoral. Temem-se episódios de violência.
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Um chorrilho de ameaças a circular no WhatsApp está a ameaçar a estabilidade das eleições legislativas desta quinta-feira (20.12) no Togo. As mensagens têm como destinatário os abstencionistas.
"Há uma tensão enorme em toda a população", comenta Hanza Diman, um especialista da Universidade de Bayreuth, na Alemanha.
Os autores das mensagens ameaçadoras não são conhecidos. O Governo pede que a população permaneça calma e vote. Segundo os correspondentes da DW no país, há militares espalhados pelas ruas. De acordo com as autoridades, mais de 8.000 polícias vão patrulhar as cidades togolesas nos próximos dias para garantir a ordem pública.
O medo de uma escalada de violência é grande. Durante a campanha eleitoral, quatro pessoas morreram em confrontos entre manifestantes anti-governo e forças de segurança.
Boicote: os dois lados da moeda
Uma coligação de 14 partidos da oposição, chamada C14, vai boicotar o pleito. Segundo declarações da coordenadora do movimento, Brigitte Abjamagbo-Johnson, a uma rádio local, as eleições não passam de "uma farsa".
Já Paul Melly, especialista em África Ocidental no instituto de pesquisa britânico Chatham House, diz que o boicote pode prejudicar a própria oposição. "É quase certo que o Governo conquistará uma grande e confortável maioria e que terá votos suficientes para implementar as reformas nos termos que achar apropriados. Se a oposição considerar essas reformas ilegítimas, a crise política continuará sem solução."
A maioria dos 850 candidatos que competem por 91 assentos no Parlamento pertence ao partido no poder, o UNIR (União pela República).
A família Gnassingbé governa o país há mais de 50 anos com mão de ferro. Gnassingbé Eyadéma foi chefe de Estado durante décadas e, após a sua morte em 2005, o filho sucedeu-lhe. A oposição culpa o chefe de Estado pela pobreza e corrupção no país. Os partidos da resistência pedem uma emenda constitucional para que Gnassingbé não possa continuar a desempenhar o cargo.
Do outro lado, o Governo propõe novas reformas: sugere, por exemplo, que futuros presidentes governem no máximo por dois mandatos. No entanto, a regra não se aplica a Gnassingbé.
A continuação da crise política no Togo pode ter consequências terríveis, como comenta Paul Melly: "se a situação continuar, será difícil para os investidores estrangeiros. Se se quiser fazer um grande investimento, especialmente no interior pobre do Togo, tem de se garantir um ambiente político estável e pacífico."
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.