TPI absolve Laurent Gbagbo de crimes pós-eleitorais
Lusa
31 de março de 2021
Tribunal Penal Internacional (TPI) confirmou a absolvição do ex-PR Gbagbo e do ex-ministro Charles Ble Goude da responsabilidade pela violência pós-eleitoral no país. Decisão encerra o processo contra os dois políticos.
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Segundo noticiou a agência Associated Press (AP), Laurent Gbagbo e o antigo ministro da Juventude Charles Ble Goude foram absolvidos em 2019 da responsabilidade pelos crimes de homicídio, violação e perseguição após as eleições de 2010, tendo os juízes afirmado que os procuradores não conseguiram provar o seu envolvimento.
Os juízes suspenderam o julgamento antes mesmo de os advogados de defesa terem apresentado as suas provas.
A decisão de hoje dos juízes de rejeitarem o recurso dos procuradores contra a absolvição encerra o processo contra os dois ex-dirigentes políticos. Apoiantes de Gbagbo, que se concentraram junto ao edifício do tribunal, aplaudiram a decisão, revelou a AP.
Violência
Mais de 3.000 pessoas foram mortas depois de Gbagbo se recusar a aceitar a derrota pelo seu rival, o atual presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara.
Os procuradores recorreram, dizendo que a decisão de absolvição estava errada e pedindo aos juízes de recurso do TPI que declarassem a anulação do julgamento. Os dois acusados foram libertados na sequência das suas absolvições.
Laurent Gbagbo foi o primeiro ex-Presidente a ir a julgamento no TPI e o seu caso foi visto como um marco nos esforços para levar à justiça até os detentores dos mais altos cargos acusados de atrocidades.
Costa do Marfim e as ruas com nomes da era colonial
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Gbagbo recusou-se a admitir a derrota depois de perder as eleições de 2010 para Ouattara. Ambos realizaram cerimónias de tomada de posse e seguiu-se um impasse de meses até que as forças pró-Ouattara capturaram Gbagbo.
Ouattara, que está no poder há quase uma década, foi reeleito em novembro para um controverso terceiro mandato, fortemente contestado pelos líderes da oposição. O chefe de Estado defende que o limite de dois mandatos para presidentes não se lhe aplica devido a um referendo constitucional aprovado em 2016.
Gbagbo ainda tem um forte apoio na Costa do Marfim e os seus seguidores dizem ter sido deixados de fora do processo de reconciliação do país nos anos que se seguiram à sua expulsão. Apoiaram a sua candidatura à presidência no ano passado, mas a esta não foi aprovada.
Costa do Marfim: Um renascimento lento
Devido à harmonia étnica e religiosa que então reinava depois da independência de França, a Costa do Marfim foi, para muitos, o "milagre africano". Mas, hoje, este país dinâmico ainda enfrenta muitos desafios.
Foto: DW/E. Lafforgue
Estranhos no próprio país
Na Costa do Marfim residem 62 grupos étnicos, incluindo os peuls. Destes, muitos não tem a cidadania marfinense, pois o Governo exige que pelo menos o pai ou a mãe tenha nascido no país. Sem a cidadania não é possível abrir uma conta bancária ou obter a carta de condução. Isto faz com que muitos peuls se sintam estrangeiros no seu próprio país.
Foto: DW/E. Lafforgue
Tecidos tradicionais contam histórias
"Diz-me que tecido usas e eu digo-te quem és" é um ditado comum entre os marfinenses. O tecido de cera com estampa tradicional costuma ser usado por mulheres. Cada desenho dá um recado diferente ao marido. A estampa de flor de hibisco, por exemplo, simboliza a felicidade no casamento.
Foto: DW/E. Lafforgue
Padrões de beleza prejudiciais persistem
Embora proibidos, os produtos de clareamento da pele ainda são muito populares. O clareamento da pele escura pode causar danos irreparáveis e até resultar em hipertensão e diabetes. Ainda assim, muitas farmácias ganham dinheiro vendendo esses produtos, e também muitos médicos continuam a prescrevê-los por motivos comerciais. Uma em cada duas mulheres na capital, Abidjan, usa estes cosméticos.
Foto: DW/E. Lafforgue
Arte milenar
Em Aniansué, a 200 quilómetros da capital, as raparigas dançam com o corpo revestido de caulino. Elas aprendem a ser "komians" - curandeiras e adivinhas tradicionais. As "komians" são conhecidas pela sua capacidade de curar a má sorte e prever o futuro. São consultadas com frequência pelas autoridades mais poderosas do país. Uma única escola ensina esta arte da cultura Akan.
Foto: DW/E. Lafforgue
Falsos medicamentos trazem falsas esperanças
Quase metade da população vive abaixo da linha da pobreza, o que facilita a exploração de quem precisa de serviços de saúde. Nos últimos três anos foram apreendidas cerca de 600 toneladas de medicamentos falsificados - um terço de todos os medicamentos vendidos no país. Sinais como estes são comuns no exterior das lojas que vendem medicamentos 'made in China'.
Foto: DW/E. Lafforgue
O sonho de uma vida no estrangeiro
O mundo foi alertado para a situação dos refugiados marfinenses em 2020, quando o corpo de um adolescente foi encontrado no trem de aterragem dum avião. Sem perspetivas de emprego, muitos jovens sonham em começar uma nova vida no estrangeiro, para o que percorrem perigosas rotas de migração. O Presidente Alassane Ouattara prometeu criar 200.000 novos empregos por ano, mas os jovens estão céticos.
Foto: DW/E. Lafforgue
À espera do 'ouro feminino'
Este homem espera pacientemente para comprar manteiga de karité no distrito de Savanes. O produto é conhecido como "ouro feminino" em toda a África, pois são principalmente as mulheres que ganham dinheiro com a sua venda através de pequenas cooperativas. Usada na maquilhagem e na alimentação, a manteiga de karité é popular em todo o mundo.
Foto: DW/E. Lafforgue
Cozinha milenar
Esta mulher, que faz parte da Cooperativa Mulheres Batalhadoras, embrulha o attiéké, um tipo tradicional de cuscuz feito de tubérculos de mandioca. A produção do attiéké também é da responsabilidade das mulheres: elas cultivam a mandioca, processam o alimento e vendem-no na beira da estrada. O dinheiro adquirido é frequentemente utilizado para enviar os filhos à escola.
Foto: DW/E. Lafforgue
Poucas mulheres na mineração
A próspera indústria de mineração continua a ser dominada pelos homens. Isso não impediu algumas mulheres de quererem trabalhar no setor. Mas muitas vezes elas são vítimas de exploração laboral. O trabalho é notoriamente exaustivo sob o sol escaldante.
Foto: DW/E. Lafforgue
Dificuldades no setor de cacau
O setor do cacau da Costa do Marfim está à beira de uma nova crise. Os pequenos comerciantes têm cada vez mais dificuldades em competir com as grandes cooperativas locais, que detêm a maioria dos contratos com os grandes fabricantes de chocolate, como a Mars ou a Nestlé. Das 3.000 cooperativas de cacau do país, pouco mais de 200 são certificadas.
Foto: DW/E. Lafforgue
Sítio de adoração
A Basílica de Nossa Senhora da Paz, em Yamoussoukro, foi consagrada pelo Papa João Paulo II em 1990. A sua construção terá custado cerca de 270 milhões de euros. É ainda maior do que a Basílica de São Pedro, em Roma. A basílica pode acomodar até 200.000 pessoas: 7.000 no seu interior e o restante na esplanada. Mas hoje em dia apenas algumas centenas de pessoas se reúnem para a missa aos domingos.