Tráfico de pessoas em Moçambique preocupa a Igreja
28 de maio de 2012Bispos Católicos da África Austral estiveram reunidos no mês de maio em Maputo, Moçambique, com instituições do Estado e organizações não governamentais (ONGs) à procura de soluções para evitar o tráfico de seres humanos na região. A Igreja Católica local recorre à campanhas de sensibilização nas comunidades e distribuição de panfletos, durante as cerimónias religiosas.
De quem é a responsabilidade?
Raul tinha nove anos quando desapareceu no dia 23 de fevereiro de 2012 e nunca mais foi visto. Foi sequestrado por um indivíduo que aparentemente era amigo da família.
Devido a histórias como esta, foi realizada uma reunião na intenção de travar este fenômeno. Os panfletos distribuídos, como parte da campanha de mobilização contra o tráfico de pessoas, contém informações principalmente sobre os perigos às crianças e às mulheres.
Porém não há meios suficientes para concretizar campanhas completas, segundo o Padre Inácio. A opção encontrada foi procurar financiadores para pagar a elaboração de brochuras informativas.
Muito além da falta de informação
As zonas rurais são as mais propícias ao crime porque as comunidades estão desprotegidas, esclarecem os religiosos católicos. Não há informação suficiente sobre este tipo de crime, acredita o Padre.
Os prelados apelam às instituições judiciais. O Procurador Geral da República de Moçambique, Augusto Paulino, sugeriu cooperação. Para ele, um dos desafios a ser vencido é a incompatibilidade das legislações regionais e internacionais.
Segundo a religiosa Irmã Pilar de la Puerta, da arquidiocese de Pemba, ninguém faz nada com relação aos desaparecimentos. É necessário uma equipa interdisciplinar para abordar o tema, acredita. "O Observatório Político e de Pesquisa Social deveria ser um grupo de reflexão para fazer uma pesquisa social e crítica baseada em dados", defende ela.
O tráfico
Durante o encontro, os bispos partilharam experiências no combate ao crime. Dom Vicente Kiaziku, da arquidiocese de Mbanza Kongo, em Angola, disse que muitos jovens e crianças são traficados para o Congo Democrático para trabalhar nas minas como escravos.
"Há uma política de prevenção do Estado que tenta sensibilizar as famílias para que não abandonem as crianças, que instruam-nas a não aceitar prendas ou ofertas de desconhecidos", explica o religioso de Mbanza Kongo.
Elisabeth Todd, do Ministério Público da África do Sul, disse que este crime não tem leis específicas. "É uma situação crítica e até agora tratamos caso a caso, usando as leis que existem, como a lei dos procedimentos criminais, a lei de ofensas sexuais", conta.
Grande parte das pessoas traficadas na África Austral, principalmente adolescentes, para na África do Sul como escrava da prostituição.
Autor: Romeu da Silva / Bettina Riffel
Edição: Helena Ferro de Gouveia