Tráfico de seres humanos está a preocupar a polícia da Zambézia, no centro de Moçambique. Nas últimas duas semanas, 25 pessoas escaparam das mãos dos traficantes.
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O último caso ocorreu na sexta-feira passada (02.11.), quando, segundo a polícia, três traficantes tentaram vender um menor de 17 anos por mais de 36 mil euros na Vila do Mulumbo, a norte da província da Zambézia, junto ao Malawi.
Mas uma pessoa, que se fez passar por comprador, informou logo as autoridades, conta o porta-voz da polícia na Zambézia, Sidner Lonzo.
"Os três indivíduos pretendiam vender este menor a um valor de 30 milhões de kuachas, equivalentes a 2.550.000 meticais. Os três indivíduos estão agora detidos e o processo corre os seus trâmites legais. O menor já foi devolvido ao seu convívio familiar. Gostaríamos de apelar à população em geral para ser sempre atenta quanto a esses atos de tráfico de seres humanos".
Segundo caso em duas semanas
Este é o segundo caso no espaço de duas semanas. O outro ocorreu no distrito de Namacura. A polícia diz ter intercetado um autocarro em que seguiam 22 homens e dois rapazes moçambicanos; iam acompanhados de cidadãos de nacionalidade congolesa.
"Segundo as declarações em nossa posse, eles iriam ser usados para os trabalhos da agricultura na Republica Democrática de Congo, e havia dois menores de 16 anos de idade".
Tráfico humano em Moçambique atinge proporções preocupantes na Zambézia
A polícia diz estar preocupada com o tráfico de pessoas. Segundo o porta-voz Sidner Lonzo, foi reforçada a segurança na fronteira. Além disso, as autoridades têm estado em contacto com os líderes comunitários, para sensibilizar a população.
Mas Gabriela Gaspar, uma ativista comunitária, diz que é preciso fazer mais.
"Quando é que isso vai acabar? Nós, como mães, sentimos muito. Temos filhos que são raptados. Pedimos ajuda ao Governo para que faça um trabalho que possa acabar com isso".
Falta de informação e alta taxa de desemprego
Maria Isabel, ativista dos direitos humanos, diz que o tráfico de pessoas na província da Zambézia está relacionado com a falta de informação das famílias e com a alta taxa de desemprego. 13% dos jovens da província não tem emprego, segundo dados recentes da direção provincial de trabalho da Zambézia. Pensa-se, no entanto, que os números sejam muito mais altos do que os divulgados pelas autoridades. As famílias passam por muitas dificuldades.
"Há muito desemprego. Aqui na Zambézia, as fábricas que existiam, nenhuma delas está a funcionar. O governo tem que ver isso. Há muitos jovens desempregados, sonham tanto e o sonho vai abaixo, por causa dessa problemática, a pessoa é convencida facilmente porque não tem como se sustentar, e também é preciso formar as famílias - a maioria não tem conhecimento do que é tráfico de seres humanos, temos que ter em conta que a família é o garante da sociedade".
O tráfico de pessoas é um crime frequente na província da Zambézia. Maria Isabel pede ao Governo que aja rapidamente. Não só para apanhar os traficantes e levá-los à Justiça, mas também para fazer reformas profundas, que melhorem a vida da população.
Escolas e material degradado na Zambézia
Para além da sobrelotação, há várias escolas sem condições na província da Zambézia, no centro de Moçambique. As infraestruturas encontram-se deterioradas e há falta de material escolar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Nacogolone
Aqui as crianças estudam debaixo das árvores, estando as aulas dependentes da meteorologia. A maior parte das crianças que estuda nesta escola foi vítima das cheias de 2015, tendo as suas famílias sido reassentadas nas proximidades do bairro Nacogolone. Foram já várias as iniciativas que surgiram no bairro para a reconstrução de salas convencionais, mas a falta de recursos não as deixou avançar.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Mutange
As salas de aula desta escola, localizada a 15 quilómetros do extremo sul da vila sede do distrito de Namacurra, foram construídas com material convencional. No entanto, estão deterioradas. As secretárias escolares e o material didático para os professores estão em más condições e os assentos são trazidos e levados pelos alunos todos os dias de e para as suas casas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária 17 de Setembro
Embora se localize na capital da província, as condições desta escola estão muito abaixo das expetativas. Algumas paredes estão corroídas, outras parcialmente destruídas. O mesmo acontece com as carteiras escolares. O teto está deteriorado, o que constitui um perigo para os alunos. A direção da escola recebeu cerca de 200 mil meticais, mas diz não ser suficiente para reabilitar toda a estrutura.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária de Quelimane
Localizada no centro, em frente ao edifício do Governo da Província da Zambézia, é umas das escolas mais privilegiadas da cidade. Tem condições favoráveis e adequadas ao ensino e à aprendizagem, possuindo até uma sala de conferências. É a mais antiga escola primária - no tempo colonial, era frequentada pelos filhos dos colonos e filhos de negros assimilados.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Comunitária Mártires de Inhassunge
Fundada pela congregação religiosa Padres Capuchinhos, a Escola Comunitária Mártires de Inhassunge acolhe alunos do 1º ao 10º ano e é muito frequentada por pessoas carenciadas e órfãs. Apesar de ter dificuldades no acesso ao fundo de apoio direto às escolas, a instituição conta com infraestruturas adequadas e salas de aula equipadas com carteiras. Uma realidade diferente das escolas públicas.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Secundária Geral de Sangarriveira
Integrando alunos da 8ª à 12ª classe, esta escola, que começou a funcionar em 2013, apresenta já rachas nas paredes, janelas partidas e chão degradado. A diretora Paulina Alamo afirma que as obras não obedeceram ao que estava estabelecido. A dimensão das salas é pequena para a quantidade de alunos existente. Há estudantes que têm de se sentar no chão.
Foto: DW/M. Mueia
Escola Primária e Completa de Wazemba
O problema alastra-se também aos professores. Os gabinetes dos diretores e gestores das escolas localizadas em sítios mais distantes das vilas e postos administrativos estão em péssimas condições. Exemplo disso é a Escola Primária e Completa de Wazemba, no distrito de Namacurra. No gabinete do diretor, há atlas geográficos pendurados nas paredes feitas de material de construção local.
Foto: DW/M. Mueia
Pais, alunos e professores garantem manutenção
A estrutura externa do gabinete do diretor da Escola Primária de Wazemba foi construído com materiais locais - paus e folhas de coqueiro para cobrir o teto. As paredes são revestidas por lama. Em muitas outras infraestruturas escolares semelhantes a esta, a reabilitação é garantida pelos próprios alunos, encarregados de educação, lideres comunitários e professores.
Foto: DW/M. Mueia
Governo conhece situação
Carlos Baptista Carneiro, administrador de Quelimane, garante que a reabilitação das escolas e a compra de carteiras escolares está dependente da disponibilidade de fundos, pelo que não será possível reabilitar todas as escolas da cidade ao mesmo tempo. Segundo o administrador, o número das instituições de ensino que aguardam reabilitação é grande e o Governo tem conhecimento da situação.