Todos os anos, milhares de jovens abandonam o estado federado de Benue no leste da Nigéria em direcção ao sudoeste. Vão em busca de emprego e educação. Mas muitos acabam por ser vítimas de tráfico humano.
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Judith Akuha, de 18 anos, tem os sintomas típicos de quem regressou recentemente do sudoeste. Sentada num banquinho de madeira, o olhar apático, diz que não consegue fugir à memória dos últimos três anos.
Partiu confiada na promessa de um tio que lhe queria pagar a escola. Até lhe ofereceu o bilhete de autocarro. Mas na realidade o tio, que já morreu, colaborava com traficantes de seres humanos, que a obrigaram a trabalhar na lavoura: "Tinha que me levantar às seis da manhã, e levavam-me para os campos. Só voltava ao anoitecer. Não me davam comida. Ao fim do dia recebia 10 naira (o equivalente a dois cêntimos do euro) para comprar umas bolachas. Não havia mais nada. Nem sequer tinha roupa para mudar".
Para a população de Benue o sudoeste é local tradicional de emigração há muitas décadas. Mas a situação mudou de forma preocupante, diz Valentine Kwaghchimin, que trabalha para a comissão de justiça, desenvolvimento e paz da agência de assistência Caritas na capital de província, Markudi.
Violação dos direitos humanos
No ano passado, Kwaghchimin recolheu os primeiros dados que provam que grande parte da migração atual não é voluntária: "Trata-se claramente de tráfico humano. Acresce as condições de vida com o desrespeito dos direitos mais fundamentais. Os trabalhadores não têm liberdade de movimentação nem poder de decisão, sinais elementares de escravidão”.
Judith confirma que era prisioneira na fazenda. Outras mulheres falam de violações e prostituição forçada. Quem resiste não recebe sequer a pouca comida prevista. Valentine Kwaghchimin estima que pelo menos 11000 pessoas de Benue vivem nestas condições.
Sylvester Udam Ugbede é reformado e vive em Naka, uma pequena cidade de Benue com um elevado índice de emigração. Conta que às raparigas prometem uma educação e aos rapazes um emprego bem pago na lavoura, mais do dobro do salário médio na Nigéria que ronda o equivalente a 40 euros. Mas depois quanto muito só recebem uma pequena parte dessa soma: "Às vezes, quando são muito mal pagos, acabam por ir à polícia. Alguns conseguem reaver o dinheiro, mas não muitos. Até porque têm que pagar primeiro à polícia para que ela investigue o caso”, diz Udam Ugbede.
Vítimas deixadas ao abandono
A autoridade responsável pelo combate do tráfico humano, a Naptip, tem conhecimento da situação. O diretor do departamento em Makurdi, Daniel Atokolo, diz que há uma campanha para encorajar os habitantes a não partir: „Dizemos à população para se lembrar de que Benue tem boa terra de cultivo. Podem ficar aqui para trabalhar. O Governo vai ajudar. Podem ser formadas também cooperativas para vender os produtos, como alternativa à emigração”.
0211 Nigéria tráfico humano - MP3-Mono
Judith, que foi acolhida por amigos em Naka, nunca ouviu falar do Naptip. Também não conhece qualquer outra organização que preste assistência às vítimas do tráfico humano. Só uma vez, no ano passado, recebeu ajuda - de uma estranha: "Um dia uma mulher disse-me: Judith, se eu te der dinheiro, voltas para casa? Eu disse que sim. Nós não tínhamos dinheiro, porque o meu pai estava doente”.
Muitos regressam como Judith: traumatizados e de mãos vazias. Só lhes restam a vergonha de terem fracassado e a liberdade reconquistada.
LagosPhoto: O maior festival de fotografia da Nigéria
O Festival LagosPhoto é a única exposição internacional de fotografia da Nigéria. Nesta sétima edição, a capital económica nigeriana volta a ser o ponto de encontro de fotógrafos de África e do mundo.
Foto: DW/A. Kriesch
Megacidade inspiradora
Poucas cidades em África são tão versáteis como a megacidade de Lagos. Quase 20 milhões de pessoas, com diferentes línguas, culturas e condições sociais e financeiras vivem aqui. Lagos é pois uma fonte de inspiração inesgotável para muitos fotógrafos, que encontram no Festival LagosPhoto a plataforma ideal para exibir as suas obras.
Foto: DW/A. Kriesch
Caminhar e contemplar
É o lema de Akinbode Akinbiyi. Ele é um dos fotógrafos africanos mais proeminentes, que em 2016 foi galardoado com a Medalha Goethe. Vive em Berlim. Mas volta sempre que pode ao lugar onde nasceu, também para fotografar, quase sempre enquanto caminha. Participa pela terceira vez no LagosPhoto: "Este é um dos poucos bons festivais que decorrem no continente."
Foto: DW/A. Kriesch
Criatividade nos rituais
Azu Nwagbogu lançou o LagosPhoto. O diretor do festival é uma importante figura da cena cultural de Lagos. "Rituais e performances" é o tema da edição deste ano, que pretende fomentar a criatividade através do regresso aos rituais africanos. "Parte da nossa criatividade baseia-se em rituais, às vezes de forma inconsciente. Com a fotografia podemos torná-la consciente", afirma Azu Nwagbogu.
Foto: DW/A. Kriesch
Lutador congoglês
A série de fotos de Colin Delfosse retrata um lutador de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo. "É uma mistura da cultura congolesa vodu com a luta ou 'wrestling' norte-americano", explica o fotógrafo belga. Pretende assim mostrar um Congo além da guerra, violações e minas de ouro.
Foto: C. Delfosse
Fotos de África expostas em África
O fotógrafo documental Colin Delfosse dedica-se ao Congo há cerca de dez anos. "É importante mostrar as nossas fotografias não só em galerias europeias, mas também em África", considera o belga. O LagosPhoto dá-lhe essa oportunidade. Durante um mês, 39 fotógrafos expõem aqui as suas obras.
Foto: DW/A. Kriesch
Grandes expectativas
A artista Jenevieve Aken dedica a sua obra "Grandes Expectativas" à importância do casamento para as mulheres nigerianas. "Mesmo tendo uma boa educação e sendo bem sucedida profissionalmente, se a mulher não é casada sente-se insatisfeita, mal sucedida e infeliz", comenta Aken. Nas suas fotos, a fotógrafa é também modelo: uma noiva triste e vulnerável.
Foto: J. Aken
LagosPhoto como trampolim profissional
Jenevieve Aken vive em Lagos e expõe pela terceira vez no Festival LagosPhoto. "A primeira vez, em 2012, era ainda muito jovem e inexperiente", conta a fotógrafa. Aken beneficiou dos programas de intercâmbio e atliês promovidos pelo festival. "Isso realmente me impulsionou."
Foto: DW/A. Kriesch
Intercâmbio entre colegas
Principalmente os fotógrafos mais jovens olham para o LagosPhoto como uma plataforma onde podem trocar informações, experiências e contactos de colegas. No ano passado, 35 fotógrafos de 21 países exibiram as suas obras. Este ano, participam 39 fotógrafos. Centenas de admiradores de fotografia visitam a exposição.
Foto: DW/A. Kriesch
Boom cultural
Lagos vive, por esta altura, um verdadeiro boom cultural. Foi recentemente palco da Semana da Moda e Design de Lagos e acolheu a primeira edição de uma feira de arte contemporânea, a "Art X Lagos". O Festival PhotoLagos decorre até 21 de novembro, com exposições e eventos espalhados por 11 locais da metrópole económica nigeriana.