Três estudantes e um polícia mortos em tumultos na RDC
Lusa | EFE
28 de janeiro de 2019
Três alunos e um polícia morreram em tumultos após protestos da Universidade de Lubumbashi, a segunda maior cidade da República Democrática do Congo (RDC), contra cortes e escassez de água e luz, informou a presidência.
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O incidente ocorreu no domingo (27.01), quando os estudantes protestavam contra o reajuste das propinas e porque a universidade esteve vários dias em água e sem eletricidade.
Os alunos regressavam da residência do governador do Alto Katanga, onde pediram o restabelecimento do fornecimento de água e eletricidade e a revisão em baixa das propinas, quando a polícia usou gás lacrimogéneo e disparos de advertência para os dispersar, de acordo com testemunhos recolhidos pela AFP.
"O número provisório emitido pelas fontes oficiais é de quatro mortos, incluindo três estudantes e um policial", escreveu Vital Kamerhe, chefe do novo presidente RDC, Félix Tshisekedi, em comunicado.
"Segundo relatórios, um delegado da Polícia Nacional Congolesa chamado Yaweh Bertin mandou disparar sem motivo sobre os estudantes pacíficos, quando saíam de uma reunião com o governador da província de Alto Katanga", informou ainda a presidência.
"A investigação será conduzida pelo Governo sem demora. O ministro do Ensino Superior e Universitário vai ser ouvido e depois vamos apurar responsabilidades", le-se ainda no comunicado.
Além disso, o Ministério da Educação recebeu ordens para suspender o reajuste das propinas.
Félix Tshisekedi tomou posse como Presidente da RDC na passada quinta-feira (24.01), cinco dias depois de o Tribunal Constitucional aprovou os resultados que lhe davam a vitória nas eleições de 30 de dezembro com 38,57% dos votos, à frente do também opositor Martin Fayulu, que obteve 34,86%.
Cobalto no Congo: O preço da ganância
O Congo é o maior fornecedor mundial de cobalto, metal necessário para fabricar smartphones e carros elétricos. Mas o solo e a água já estão contaminados. A população está a adoecer e há casos de abortos e malformações.
Foto: Lena Mucha
O deserto contaminado de Kipushi
Perto da cidade de Kipushi, no sul do Congo, há um deserto artificial. Até à década de 1990 funcionava aqui uma mina. Vários quilómetros quadrados de solo estão contaminados: não cresce aqui nada há décadas. O rio também está poluído. Mas a mineradora canadiana Ivanhoe Kipushi quer explorar cobalto na região. Há casos frequentes de malformações congénitas em recém-nascidos, dizem médicos locais.
Foto: Lena Mucha
Malformações e nados-mortos
Nos hospitais locais, há cada vez mais casos de crianças que nascem com malformações, como lábio leporino e pé boto. Só no Hospital St. Charles Lwanga, em Kipushi, houve três casos de anencefalia em março. O feto não desenvolve o cérebro e geralmente o bebé morre logo após o nascimento. "Algo não está bem aqui, mas não temos dinheiro para pesquisas", conta Alain, que é ginecologista.
Foto: Lena Mucha
"É preciso educar as pessoas"
Um grupo de pesquisa interdisciplinar da Universidade congolesa de Lubumbashi está a trabalhar com a Universidade de Lovaina, na Bélgica, num projeto de investigação sobre a relação entre a exploração de cobalto e a saúde. "É preciso educar as pessoas para o que está a acontecer aqui. As toxinas tornam-nos doentes", diz Tony Kayembe, um dos membros do grupo de investigadores.
Foto: Lena Mucha
Partos prematuros
Dois bebés prematuros estão numa incubadora no Hospital St. Charles Lwanga, em Kipushi. "Suspeitamos que o elevado número de nascimentos prematuros nesta região está relacionado com a contaminação por metais como o cobalto," diz Tony Kayembe, investigador da Universidade de Lubumbashi e membro do grupo de pesquisa internacional. A maioria dos moradores de Kipushi trabalha nas minas de cobalto.
Foto: Lena Mucha
Crianças doentes
Adele Masengo tem cinco filhos. O marido trabalha numa mina de cobalto. A filha mais velha ficou cega aos 12 anos. Além de um aborto espontâneo, Adele teve um bebé com malformações, que morreu logo após o nascimento. Ainda não sabe se foi por causa do cobalto. "Quando os meus bebés nasceram, tiraram-lhes sangue, mas nunca conseguimos saber os resultados", diz.
Foto: Lena Mucha
Procura cada vez maior
O Congo é responsável por 60% da produção mundial de cobalto. Este metal raro é necessário para as baterias de lítio usadas em smartphones, computadores portáteis e carros elétricos. Por causa do rápido aumento da procura, os preços triplicaram nos últimos dois anos. Crianças, mulheres e homens que trabalham nas minas estão expostos a várias toxinas.
Foto: Lena Mucha
Em pleno "cinturão de cobre" africano
A GECAMINES é a maior empresa de mineração do Congo. Está localizada em Lubumbashi, a segunda maior cidade do país, no centro do chamado "cinturão de cobre" africano. Muitas grandes empresas internacionais instalaram-se aqui, na fronteira com a Zâmbia. Anualmente são produzidas 5000 toneladas de cobalto.
Foto: Lena Mucha
Água tóxica
Estes trabalhadores procuram cobalto e outras substâncias num rio contaminado. Para muitos, esta é a única fonte de rendimento. "Nós aqui quase não usamos a nossa água", diz um residente local. "A água deixa uma película estranha na pele. Quando lavo a minha roupa com esta água, ela depois desfaz-se. E até as batatas, que regamos com água, têm um sabor estranho."
Foto: Lena Mucha
Viver ao lado de uma refinaria
Mesmo ao lado da Congo Dongfang Mining (MDL) foi construída uma área residencial. A empresa chinesa está entre os maiores compradores de cobalto no Congo. Quando chove, os resíduos da refinaria da MDL em Lubumbashi chegam ao bairro vizinho de Kasapa. Os residentes queixam-se de graves problemas respiratórios e de pele, mas até agora a MDL ainda não respondeu às suas queixas.
Foto: Lena Mucha
Sem proteção
Um dermatologista examina um paciente no Hospital Universitário de Lubumbashi. A maioria dos mineiros no Congo trabalha sem roupas de proteção. Além de metais como cobalto, cobre e níquel, muitas vezes também há urânio nas rochas. E os moradores estão igualmente expostos ao pó.