Já arrancou a greve de três semanas dos funcionários da Procuradoria-Geral da República de Angola, que contestam a não aprovação de diplomas legais. O Sindicato fala em paralisação total, mas a direção do órgão discorda.
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Os funcionários em greve, que só deverão retomar as atividades a partir de 16 de fevereiro, contestam a não aprovação dos diplomas legais sobre remunerações, reconversões e promoções - há mais de 15 anos que não têm as suas categorias alteradas.
Em abril do ano passado, a comissão sindical remeteu à Casa Civil do Presidente da República um pacote legislativo. Mas segundo o secretário do Sindicato Nacional dos Técnicos de Justiça e Administrativos da Procuradoria-Geral da República (PGR), Lourenço Domingos, o Executivo devolveu o documento à Procuradoria, solicitando maior fundamentação.
O sindicalista disse à DW África que a instituição fez as devidas argumentações sem consultar os trabalhadores. "O documento voltou novamente para o Executivo sem o nosso conhecimento e até aqui não há aprovação. Eis a razão da greve", explica Lourenço Domingos.
Mais solidariedade
Cardoso Carmona, que trabalha há sete anos na PGR, aderiu à greve porque quer ver melhorias na área em que trabalha. "Aqueles que ganham mais deveriam solidarizar-se com os ganham menos", defende o funcionádio. "Há muitos colegas que trabalham na PGR há mais de 12 anos, alguns até há mais de 15 anos, e que ainda hoje continuam a exercer a mesma categoria."
A aprovação do regime jurídico que dita a reconversão das carreiras e também o regime jurídico remuneratório é tudo que os grevistas esperam por parte das autoridades angolanas, afirma o secretário do sindicato.
"Sabemos que o país está em crise económica e que o regime remuneratório pode até demorar por causa da crise, mas se estivermos já com a situação resolvida, vamos estar satisfeitos", diz Lourenço Domingos.
"Serviços a funcionar"
O sindicato fala numa paralisação total dos serviços. No entanto, o diretor do gabinete de comunicação da PGR, Gilberto Mizalaque, citado pela agência de notícias Lusa, disse que a greve não teve adesão de todos os funcionários. E garantiu que há serviços que "estão a funcionar".
"Já conseguimos notar que a adesão não é 100%. Os serviços de Cabinda ao Cunene estão a funcionar, há províncias inclusive que 100% dos funcionários estão a funcionar, Huíla, Namibe, em que a grande maioria dos funcionários, porque têm bom senso, porque estão a agir de boa-fé, estão todos a trabalhar", disse Gilberto Mizalaque.
A direção da PGR considera ainda a greve "no mínimo inoportuna, para não dizer irrazoável", porque a direção sempre se mostrou aberta com a direção do sindicato, afirmou o mesmo responsável.
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
A mulher mais rica de África, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, foi exonerada da liderança da petrolífera estatal angolana. Mas continua a ter uma grande influência económica em Angola e Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Bilionária angolana diz adeus à Sonangol
A 15 de novembro, Isabel dos Santos teve de renunciar à presidência do conselho de administração da Sonangol. Em meados de 2016, o seu pai, o então Presidente José Eduardo dos Santos, nomeou-a para liderar a companhia petrolífera estatal. A nomeação era ilegal aos olhos da lei angolana. O novo Presidente angolano, João Lourenço, estava, por isso, sob pressão para demitir Isabel dos Santos.
Foto: picture-alliance/dpa
Carreira brilhante à sombra do pai
Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos e da sua primeira mulher, a jogadora de xadrez russa Tatiana Kunakova, nasceu em 1973, em Baku. Durante o regime do seu pai, no poder entre 1979 e 2017, Isabel dos Santos conseguiu construir um império empresarial. Em meados de 2016, a liderança da Sonangol, a maior empresa de Angola, entrou para o seu currículo.
Foto: picture-alliance/dpa
Conversão aos princípios "dos Santos"
Isabel dos Santos converteu o grupo Sonangol, sediado em Luanda (foto), às suas ideias. Nomeou cidadãos portugueses da sua confiança para importantes cargos de gestão e foi muito criticada pela ausência de angolanos em posições-chave na empresa.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Presença firme nas telecomunicações
Mesmo após o fim da sua carreira na Sonangol, Isabel dos Santos continua forte no meio empresarial: possui 25% da UNITEL desde o seu lançamento, em 2001, a empresa tornou-se a principal fornecedora de serviços móveis e de internet em Angola. Através da UNITEL, dos Santos conseguiu estabelecer vários contactos comerciais e parcerias com outras empresas internacionais, como a Portugal Telecom.
Foto: DW/P. Borralho
Redes móveis em Portugal e Cabo Verde
Isabel dos Santos detém a participação maioritária na ZON, a terceira maior empresa de telecomunicações de Portugal, através de uma sociedade com o grupo português Sonae. Também em Cabo Verde, dos Santos - com uma fortuna estimada em 3,1 mil milhões de dólares, segundo a revista Forbes - está presente nas telecomunicações com a subsidiária UNITEL T+.
Foto: DW/J. Carlos
Expansão com a televisão por satélite
Lançada em 2010 por Isabel dos Santos, a ZAP Angola apresenta-se como o maior fornecedor de televisão por satélite no país. Desde 2011, a ZAP está presente também em Moçambique, onde conquistou uma parcela importante do setor. Em Moçambique, a empresa compete com o antigo líder de mercado, a Multichoice (DSTV), da África do Sul.
Foto: DW/P. Borralho
Bancos: o segundo pilar do império
Atrás das telecomunicações, o setor financeiro é o segundo pilar do império empresarial de Isabel dos Santos. A empresária detém o banco BIC juntamente com o grupo português Américo Amorim - o empresário português conhecido como "o rei da cortiça" que morreu em julho de 2017. É um dos maiores bancos de Angola, com cerca de 200 agências. É também o único banco angolano com agências em Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Com a GALP no negócio do petróleo
Também no petróleo, dos Santos fez parceria com Américo Amorim. Através da empresa Esperanza Holding B.V., sedeada em Amesterdão, a empresária angolana está envolvida na Amorim Energia que, por sua vez, é a maior acionista da petrolífera portuguesa GALP. A GALP também administra os postos de gasolina em Moçambique (na foto) e em Angola onde, curiosamente, compete com a Sonangol.
Foto: DW/B.Jequete
Supermercado em Luanda
Em 2016, abriu em Luanda o Avennida Shopping, um dos maiores centros comerciais da capital angolana. Várias empresas do império dos Santos operam neste centro comercial, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL. Assim, a empresária beneficia em várias frentes do crescente mercado de bens de consumo em Luanda.
Foto: DW/P. Borralho
350 milhões de dólares em supermercados
Uma das maiores lojas do Avennida Shopping é o hipermercado Candando. É operado pelo grupo Contidis, controlado por Isabel dos Santos. Nos próximos anos, deverão ser construídos em Angola vários Candando. No total, a Contidis quer investir mais de 350 milhões de dólares nas filiais.