Tradições fomentam gravidez precoce no norte de Moçambique
27 de novembro de 2013 As estatísticas indicam que perto da metade das jovens moçambicanas tiveram filhos antes de completar 18 anos. Este dado contrasta com os esforços do Governo e da sociedade civil que procuram a todo o custo desencorajar esta tendência, que agrava a vulnerabilidade das mulheres.
Nas unidades sanitárias da província norte do Niassa, por exemplo, não são raras as vezes em que uma menor de idade é atendida para dar à luz.
Laurinda José, de 14 anos de idade, é uma dessas adolescentes. Confessa que durante o namoro nunca utilizou qualquer método de contraceção. “Ele não queria” usar preservativo, afirma Laurinda.
Nos serviços de maternidade do Hospital Provincial de Lichinga, a DW África encontrou também Maimuna Salimo, de 16 anos. A jovem despertou o interesse de um amigo que depois pediu aos pais dela autorização para casarem. O “casamento” foi formalizado apenas entre as duas famílias, numa união prematura e ilegal.
Complicações no parto
A gravidez precoce, muitas vezes resultante de casamentos prematuros, com a cumplicidade de alguns pais e encarregados de educação, pode ter consequências desastrosas, segundo as autoridades.
Durante a gravidez e no parto podem surgir complicações indesejáveis. “A fístula obstétrica é uma situação que surge quando há um parto arrastado, trata-se de uma complicação do trabalho de parto que é resultado da incompatibilidade do espaço de onde o bebé devia sair com o tamanho do bebé. Estas situações, que acabam por permitir a comunicação entre o canal vaginal e o reto ou entre o canal vaginal e a uretra, são muito frequentes em raparigas que engravidam em idade não apropriada”, explica Dinis Viegas, director provincial de saúde no Niassa, província no no noroeste de Moçambique.
Ritos de iniciação conduzem ao abandono da escola
Moçambique tem leis que proíbem o casamento prematuro e o abuso sexual de menores. No entanto, só se aplicam quando o parceiro da rapariga é maior de idade e não quando envolve dois adolescentes.
As lacunas na lei e as enraizadas tradições continuam a permitir que muitas meninas e adolescentes iniciem cedo a vida sexual e matrimonial.
Entre as tradições, destacam-se os ritos de iniciação em que "as meninas entram mais ou menos com 10, 11 anos de idade, altura em que elas têm a primeira menstruação. Nesses ritos, elas são preparadas para o casamento e saem de lá como mulheres”, esclarece a psicóloga Aida Binze.
Ao participarem naquelas práticas, muitas meninas acabam por perder a escola. “Entram nos ritos de iniciação num período em que as aulas ainda estão a decorrer. Depois, a matéria fica avançada e não conseguem acompanhar”, conta a psicóloga moçambicana.
Após esse período, as raparigas entram “numa fase de desenvoltura, já têm uma preparação para serem mulheres, pelo que fica muito fácil engravidarem”, completa Aida Binze.
Na opinião da psicóloga, se não forem tomadas medidas urgentes de promoção de uma educação que privilegie a rapariga, o futuro das mulheres em Moçambique continuará incerto.